O ressurgimento do interesse em profecias sempre que um papa morre, ou quando há uma mudança no papado, não é um fenômeno novo. A figura do papa, como líder espiritual de uma das maiores religiões do mundo, está intrinsecamente ligada a questões “escatológicas” (do grego, eschatos, o “fim”, e logos, “estudo”), e ao apocalipse no pensamento cristão. Uma transição papal é vista por alguns como um momento crucial que pode anunciar mudanças em um mundo considerado instável e de futuro incerto.
A “Profecia dos Papas” é uma lista de 112 ou 113 frases curtas em latim, cada uma supostamente descrevendo um dos futuros papas da Igreja Católica, começando com Celestino II (eleito em 1143) até o “fim dos tempos”. Essa profecia teria sido escrita por São Malaquias, arcebispo irlandês do século XII, por volta de 1139, durante uma viagem a Roma, quando o religioso teria recebido uma visão mística dos futuros pontífices.
Cada papa em sua lista é representado por um lema em latim, uma espécie de epígrafe simbólica, que tenta refletir sua personalidade ou o contexto histórico de seu pontificado. A profecia ganhou notoriedade quando foi publicada em 1595 pelo monge beneditino Arnold Wion, cerca de 450 anos após a suposta revelação.
A lista segue até o papa Francisco, que é identificado como o 112º (ou o 113°) papa da lista, com o lema “Petrus II” (Pedro II), sendo considerado o último papa antes do Juízo Final.
Entre os papas recentes e seus epígrafes simbólicos, destacam-se:
João Paulo I (1978): lema De Medietate Lunae (“Pelo período de uma Lua”), referindo-se ao seu breve pontificado de 33 dias.
Bento XVI (2005-2013): lema Gloria Olivae (“Glória da oliveira”), relacionado à sua ligação com a Ordem de São Bento, cujo símbolo é a oliveira.
O último papa da lista é denominado Petrus Romanus (Pedro, o Romano). A profecia afirma que ele governará durante um período de grandes tribulações, após o qual Roma, a “Cidade das Sete Colinas”, será destruída e ocorrerá o “Juízo Final”. Segundo a contagem, o Papa Francisco seria o penúltimo papa, e o próximo eleito seria finalmente Petrus Romanus, o último papa antes do “fim do mundo” ou o “Juízo Final”, segundo o credo católico.
No entanto, as interpretações dos lemas são ambíguas e não há evidências concretas da veracidade da profecia. Muitos historiadores consideram que as descrições dos papas até 1590 são razoavelmente precisas, mas as posteriores são vagas e provavelmente forjadas pouco antes da publicação, possivelmente para influenciar o conclave que aconteceu naquele ano.
Apesar da ausência de reconhecimento oficial, seu poder de fascínio persiste, sendo reativado a cada mudança significativa no papado. São Malaquias é considerado um santo e visionário, com relatos de milagres e predições em sua hagiografia, embora a autoria da profecia dos papas seja contestada e não tenha confirmação oficial da Igreja Católica.
São Malaquias de Armagh (sem relação com o profeta Malaquias, do Antigo Testamento) nasceu na Irlanda em 1095. Fez-se monge do mosteiro de Bangor, em seu país de origem. Ordenado sacerdote aos 25 anos, ele se empenhou na renovação da vida monástica, começando pelo mosteiro de Bangor, sob a orientação do arcebispo Celso, primaz da Irlanda. Feito bispo de Connor, tornou-se depois arcebispo de Armagh. Interessado na restauração dos mosteiros, era grande amigo de São Bernardo, seu contemporâneo. Morreu na França em 1148, quando viajava para se encontrar com o Papa Eugênio III. Deixou fama de santidade e foi muito estimado pelas gerações seguintes, de modo que o Papa Clemente III o canonizou posteriormente, em 1190.
“Papa idoso”, a versão de Nostradamus
Em resumo, as principais relações entre as profecias de Nostradamus e o papa Francisco giram em torno da previsão da morte de um sumo pontífice idoso (associado a Jorge Bergoglio), da subsequente eleição de um papa controverso ou que enfraqueça a autoridade papal, da possível influência jesuíta simbolizada pelo “Papa Negro” e de um período de tribulação e transformação para a Igreja Católica e o Vaticano. Essas interpretações permanecem especulativas e simbólicas, já que os escritos de Nostradamus são notoriamente enigmáticos e abertos a múltiplas leituras.
Nostradamus escreveu sobre a morte de um “pontífice muito velho”, o que muitos atualmente associam ao papa Francisco, que faleceu na segunda-feira (21) aos 88 anos após um período de saúde debilitada. Essa profecia é vista como estranhamente coincidente com o momento de sua morte. Segundo as interpretações, após o falecimento desse papa idoso, um novo líder seria eleito que “enfraqueceria sua sé” ? referência simbólica que alguns associam ao estilo de liderança de Francisco. Seu pontificado, considerado por muitos como progressista e, por vezes, controverso, teria provocado uma transformação ou um “enfraquecimento da autoridade papal tradicional”.
Nos textos de Nostradamus há também descrições enigmáticas sobre o sucessor do papa. Uma interpretação sugere que, após a morte do pontífice idoso, seria eleito um “romano de boa idade”. Outra menção fala de um “jovem de pele escura” envolvido em assuntos significativos da Igreja, o que poderia indicar um futuro papa de origem diversa ou uma mudança na dinâmica da liderança eclesiástica.
O termo “Papa Negro” aparece em algumas leituras das profecias de Nostradamus. Tradicionalmente, esse título é atribuído ao Superior Geral da ordem dos Jesuítas ? a mesma à qual pertenceu o Papa Francisco. Para alguns, esse termo simboliza um poder oculto ou influente dentro da Igreja, o que pode sugerir uma continuidade da influência jesuíta ou transformações internas no Vaticano após a morte de Francisco.
Nostradamus também teria feito alusões a possíveis turbulências dentro da Igreja Católica e na “Cidade das Sete Colinas”, uma metáfora comum para Roma e o Vaticano. Algumas interpretações prevêem desafios significativos ou agitações no futuro da Igreja, possivelmente ligados à sucessão papal e a conflitos geopolíticos ou religiosos mais amplos.
Fonte: RFI.