A China afirmou nesta quarta-feira (21) que os Estados Unidos criaram um risco de “guerra no espaço sideral” com o projeto de escudo antimísseis “Domo de ouro”, anunciado pelo presidente americano, Donald Trump, na terça.
Maiores rivais dos Estados Unidos, a China e a Rússia criticaram o escudo americano. Pequim disse estar “profundamente preocupado” e que o sistema “prejudica a estabilidade mundial”. Já os russos afirmaram que o escudo exigirá a retomada de conversas sobre o controle de armas nucleares.
Trump anunciou o projeto na terça-feira, dando continuidade a uma ordem executiva assinada por ele no final de janeiro que prevê o desenvolvimento de um escudo antimísseis de última geração inspirado no modelo israelense conhecido como “Domo de Ferro”.
O chamada “Domo de ouro” é um projeto ambicioso com o objetivo de bloquear ameaças da China e da Rússia, que os Estados Unidos veem como seus dois maiores concorrentes geopolíticos. (Leia mais abaixo)
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou em coletiva que o escudo americano possui “fortes implicações ofensivas” e traz riscos de militarização no espaço sideral e de uma corrida armamentista.
“O projeto [do ‘Domo de ouro’] aumentará o risco de transformar o espaço em uma zona de guerra e de criar uma corrida armamentista espacial, além de abalar o sistema internacional de segurança e controle de armas. Isso prejudica o equilíbrio estratégico e a estabilidade mundial. A China expressa uma séria preocupação com isto”, disse Ning.
Ning pediu ainda que Washington abandonem o quanto antes o desenvolvimento e implementação do sistema global de defesa antimísseis e que tome medidas para fortalecer a confiança entre as grandes potências.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, por sua vez, indicou que os planos de Trump com o “Domo de ouro” podem forçar a retomada dos contatos entre Moscou e Washington sobre o controle de armas nucleares.
“No futuro próximo, o próprio curso dos acontecimentos exige a retomada de contatos sobre questões de estabilidade estratégica”, afirmou Peskov em coletiva.
Ao ser perguntado se a Rússia via o projeto como uma ameaça à paridade nuclear com os EUA, o representante da presidência russa disse que muitos detalhes sobre o projeto americano ainda precisam ser esclarecidos.
A última avaliação do Exército dos EUA sobre mísseis, feita em 2022, alertou sobre as ameaças crescentes dos rivais: a China está se aproximando de Washington em termos de mísseis balísticos e hipersônicos. Já a Rússia está modernizando seus sistemas de alcance intercontinental, além de melhorar seus mísseis de precisão, segundo o documento.
Rússia e Estados Unidos, de longe as maiores potências nucleares do mundo, protagonizaram nos últimos anos o colapso de uma série de tratados de controle de armas que buscavam desacelerar a corrida armamentista e reduzir o risco de uma guerra nuclear.
Os EUA culpam a Rússia pelo colapso de acordos como o Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM) de 1972 e o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) de 1987. Os americanos se retiraram formalmente do Tratado INF em 2019, citando violações russas, negadas por Moscou. Os EUA também deixaram o Tratado ABM em 2002.
“Agora que a base legal nessa área foi destruída, e o prazo de validade expirou ou, deliberadamente, digamos, vários documentos deixaram de ser válidos, essa base precisa ser recriada tanto no interesse de nossos dois países quanto no interesse da segurança de todo o planeta”, disse Peskov.
‘Domo de ouro’
Ao anunciar o novo escudo, Trump afirmou que o projeto custará US$ 175 bilhões (cerca de R$ 1 trilhão) dos cofres dos EUA e estará operacional até o final de seu mandato. O escudo utilizará “tecnologias de nova geração em terra, mar e espaço, incluindo sensores e interceptores espaciais”. Ainda segundo Trump, o Canadá se juntará à iniciativa.
O diretor do Pentágono, Pete Hegseth, acrescentou que o sistema deve proteger o território “de mísseis de cruzeiro, mísseis balísticos, mísseis hipersônicos, drones, sejam convencionais ou nucleares”.
O Domo de Ouro foi concebido para incluir capacidades terrestres e espaciais capazes de detectar e parar mísseis em todos os quatro estágios principais de um possível ataque:
Detectá-los e destruí-los antes do lançamento
Interceptá-los no estágio inicial do voo
Pará-los no meio do caminho no ar
Detê-los nos minutos finais enquanto descem em direção a um alvo
Segundo a agência de notícias Associated Press, uma fonte sob condição de anonimato revelou que, nos últimos meses, o Pentágono vem desenvolvendo opções para o projeto com base em um custo “médio, alto e extra alto”.
A diferença entre as três versões teria como base, em grande parte, uma variação na quantidade de satélites e sensores, além de interceptadores espaciais, que seriam adquiridos pela primeira vez.
Especialistas do setor foram receosos quanto ao plano de Trump de concluir o projeto em 2029, tanto por eventuais resistências políticas quanto a eventuais dificuldades de financiamento.
“O novo ponto de dados é de US$ 175 bilhões, mas a questão permanece: por quanto tempo? Provavelmente serão 10 anos”, disse Tom Karako, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, acrescentando que a expertise em software do Vale do Silício e dos EUA pode ser aproveitada para gerar avanços, além de utilizar os sistemas de defesa antimísseis existentes.
O financiamento do Golden Dome permanece incerto. Legisladores republicanos propuseram um investimento inicial de US$ 25 bilhões para o Golden Dome como parte de um pacote de defesa mais amplo de US$ 150 bilhões, mas esse financiamento está vinculado a um controverso projeto de lei que enfrenta obstáculos no Congresso.
Fonte: G1.
