Depois de se reunir com deputados ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e gerar ainda mais tensões nas relações com o governo federal, o embaixador de Israel no país, Daniel Zonshine, falou ao jornal O Globo sobre as prisões de membros brasileiros do Hezbollah. Para o israelense, “se escolheu o Brasil, é porque tem gente que os ajuda”.
“O interesse do Hezbollah em qualquer lugar do mundo é matar os judeus. […] Ia fazer no Brasil o mesmo que fez na Argentina. O grupo é financiado pelo Irã e pelo tráfico de drogas, principalmente”, acrescentou ao jornal. Na quarta-feira (8), a Polícia Federal (PF) divulgou a prisão de dois brasileiros ligados ao Hezbollah que preparavam ataques a prédios da comunidade judaica no país. Também foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão em Minas Gerais, Distrito Federal e São Paulo de celulares, computadores e anotações.
O diretor-geral da corporação, Andrei Passos Rodrigues, disse ao g1 que as falas do embaixador foram uma “surpresa negativa” e geraram mal-estar. Segundo Passos, Brasil e Israel possuem boas relações diplomáticas históricas.
Um dos brasileiros detidos desembarcava do Líbano, onde teve encontros com líderes do movimento para acertar os detalhes dos atentados terroristas no país, no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. As duas prisões são temporárias, e os suspeitos podem responder segundo a Lei de Terrorismo, que equipara a infração aos crimes hediondos — são inafiançáveis e as penas devem ser cumpridas inicialmente em regime fechado.
Além disso, a PF acionou a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) para que dois brasileiros que seguem no Líbano sejam presos por suspeita de também terem participado do planejamento dos atentados terroristas. Os suspeitos possuem dupla cidadania (também são libaneses).
Apesar de não estar diretamente envolvido no conflito entre Hamas e Israel, o Hezbollah apoia publicamente o movimento e também realizou ataques contra o país. Uma possível entrada dos militantes na guerra, que já deixou quase 12 mil mortos, a maioria esmagadora de palestinos, é vista com preocupação pela comunidade internacional. Atualmente os bombardeios se concentram na Faixa de Gaza, que tem cerca de 2,3 milhões de habitantes.
Tensões entre Brasil e Israel
As relações entre Brasil e Israel já estavam estremecidas nesta semana por conta da demora do país judeu em autorizar a saída de pouco mais de 30 brasileiros da Faixa de Gaza. O Ministério das Relações Exteriores israelense chegou a prometer que o grupo deixaria o território a partir do posto de controle de Rafah, na fronteira com o Egito, até quarta. Porém a promessa não foi cumprida, e as tensões aumentaram ainda mais depois de o embaixador Daniel Zonshine se reunir com Bolsonaro e parlamentares ligados ao ex-presidente no Congresso.
Na ocasião, foram exibidas imagens do ataque contra Israel promovido pelo Hamas no dia 7 de outubro, quando mais de 220 pessoas foram capturadas e outras 1,4 mil morreram.
No entanto, mais do que uma sessão sangrenta de cinema, o evento teve o objetivo de gerar constrangimento para o governo Lula — que desde o início do conflito entre Israel e Hamas vem se engajando em uma solução de cessar-fogo, instalação de corredores humanitários e diálogo para a paz, mas isso não interessa ao governo de Benjamin Netanyahu neste momento.