Essas potências procuram uma nova posição de força na ordem mundial e um grupo de países em desenvolvimento do Sul Global exige de forma vigorosa e unida um novo espaço, publica o jornal El País.
Em seu artigo de opinião no jornal, Andrea Rizzi, mestre em direito e jornalismo, diz que esse é um movimento que ganha velocidade e intensidade. Para ele, há um denominador comum na vontade de superar um passado insatisfatório, “por vezes humilhante”, que exige mudanças e compensações.
De acordo com sua concepção, China e Índia estão mais fortes do que nunca nos últimos séculos e, em geral, os países não alinhados pesam mais hoje do que há meio século.
Rizzi destaca que a Rússia se recompôs no início deste século e desde 2007 começou a sinalizar o seu descontentamento com o desenrolamento das relações internacionais e o seu desejo de preservar a sua esfera de influência.
No que diz respeito à Índia, o autor afirma que ela cresce no cenário global.
“É cortejada pelo Ocidente como um aliado valioso contra a China, demonstra capacidades tecnológicas consideráveis com o seu programa espacial e tem uma população transbordante de jovens. Seu governo desenvolve uma política de nacionalismo hindu muito determinada a consolidar o seu lugar no mundo, entre outras coisas, buscando estabelecer-se como porta-voz do Sul Global.”
Quanto à China, o especialista aponta que esta é o “elemento central” deste movimento de reequilíbrio.
“O enorme crescimento econômico e tecnológico das últimas décadas endossa uma nova posição de poder para Pequim no cenário mundial […]. A China se projeta no tabuleiro global com iniciativas econômicas e de infraestrutura, tentando tecer redes que compensem as alianças formais dos Estados Unidos. Sua recente manobra de expandir o fórum BRICS é um sintoma da aceleração dos planos para forçar uma mudança no equilíbrio da ordem mundial”, diz Rizzi.
Segundo o autor, entre os países do Sul é inegável que existe uma convergência crescente, precisamente devido ao trabalho de países como a Índia ou o Brasil, que tentam compor um enquadramento.
Rizzi afirma que o Ocidente é o destinatário deste desejo de mudança, de conquistar novos espaços de protagonismo e vingança. “Muitas são as responsabilidades acumuladas ao longo de uma história recente de hegemonia. Sem ir muito longe, basta pensar na guerra do Iraque, que prendeu vários países ocidentais no feio quadro de padrão duplo”, conta.
Para o colunista, é evidente que muitos observam com irritação a forma como os europeus clamam para que todos tenham a questão do conflito na Ucrânia como sua, quando estes ignoraram muitos outros conflitos no passado.
“O Ocidente é quem mais contaminou o mundo. O Ocidente não foi especialmente generoso na ajuda sanitária durante a pandemia […]. Indo um pouco mais além, o eco das manobras obscuras dos EUA continua a reverberar, como no golpe de Estado no Chile, cujo aniversário foi recentemente comemorado. Ou na Europa, com a sua história colonial e qual papel desempenha atualmente em lugares como o Sahel diante da França.”
Por último, Rizzi salienta que “é necessário aceitar um equilíbrio sensível nas instituições internacionais, a começar pelas econômicas; assumir um papel corretivo substancial em matéria de mudanças climáticas; aceitar sinceramente os processos multilaterais; e executar políticas migratórias ideais do ponto de vista do direito internacional”.