A tensão em Idlib entre Síria e Turquia aumentou nesta segunda-feira (10), após confrontos entre militares dos dois países, na região síria que faz fronteira com a Turquia, ponto em que o Exército sírio segue avançando para recuperar a última fortaleza rebelde dominada por jihadistas.
Depois de uma série de confrontos ocorridos por falta de coordenação bilateral, os atritos evoluíram para uma situação mais grave, com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçando atacar tropas sírias em qualquer parte do país em caso de novo ataque contra suas tropas, que ocupam diversas posições dentro do território sírio. Sendo assim, a Sputnik explica cada detalhe da nova escalada na região, bem como o possível futuro da tensa região.
Província de Idlib
Idlib é uma das 14 províncias da Síria, localizada no noroeste do país, na fronteira com a Turquia, e tem sido um reduto de grupos armados extremistas e antigovernamentais desde o início da guerra síria, em 2011.
A zona de desescalada de Idlib foi estabelecida em setembro de 2018, durante uma reunião entre Rússia e Turquia, proibindo os atos de agressão na região. Entretanto, mais de 1.300 civis foram mortos em ataques dentro da zona de desescalada desde em que o acordo foi estabelecido.
Na Síria havia quatro zonas de desescalada, sendo elas estabelecidas na província de Idlib (norte da Síria), no norte da província de Homs, em Ghouta Oriental, a leste de Damasco, e no sul do país, incluindo partes das províncias de Daraa e Quneitra.
A província de Homs já foi por diversas vezes um dos principais redutos de opositores sírios, e essa foi a terceira zona de desescalada estabelecida.
A região de Ghouta foi uma das primeiras áreas a se rebelar contra o presidente Bashar Assad, tendo sido alvo de um ataque com gás sarin, em 2013, que matou quase 1.500 pessoas.
A província de Quneitra fica ao lado das Colinas de Golã, cuja maior parte foi anexada e ocupada por Israel.
Já Daraa é considerada o berço da revolta no país, onde em 2011 eclodiram protestos pacíficos, gerando a repressão do governo e iniciando a guerra.
Idlib é um dos últimos e maiores redutos rebeldes da Síria, que exigem a mudança de governo. Especialistas acreditam que Idlib seja a última grande batalha do conflito sírio, que já teve como palco as províncias de Homs, Ghouta Oriental e Daraa.
Ofensiva turca eleva tensão
A violência que está tomando conta da região síria já obrigou cerca de 700 mil pessoas a deixarem Idlib. A tensão aumentou depois das últimas ofensivas turcas, provocando confrontos na fronteira entre os dois países.
O Exército sírio segue avançando para recuperar a última fortaleza rebelde dominada por jihadistas. Enquanto isso, a Turquia, que segue apoiando grupos rebeldes e tem tropas na região, anunciou que havia “neutralizado” mais de 100 soldados sírios.
Além disso, forças apoiadas pela Turquia abateram com um foguete um helicóptero do Exército da Síria em uma cidade a sudeste de Idlib, segundo o Ministério da Defesa da Turquia. A ofensiva causou a morte de três pilotos, confirmada pelo correspondente da Sputnik Árabe no local.
Pouco depois da ofensiva turca, forças do governo sírio bombardearam áreas próximas de um posto de observação turco na mesma cidade, deixando ao menos três pessoas mortas.
A Turquia conta com 12 postos de observação no noroeste da Síria e segue enviando reforços para áreas próximas, enquanto o Exército sírio segue afirmando que responderá às agressões do Exército turco.
Segundo uma agência turca, a Turquia estaria transferindo sistemas de mísseis para a região de conflito. Um comboio composto por 15 caminhões carregados com lançadores múltiplos de foguetes de diferentes unidades militares da Turquia já estaria a caminho.
As medidas foram tomadas após o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçar atacar as forças governamentais da Síria, mesmo fora da zona desmilitarizada de Idlib, caso haja ações ofensivas.
“Estamos determinados a expulsar as forças do governo [Exército governamental sírio] para fora dos postos de observação turcos até o fim de fevereiro, para isso vamos fazer tudo o que seja necessário tanto no ar como em terra”, afirmou o presidente.
Negociações entre Rússia e Turquia
Rússia e Turquia negociam para acabar com a escalada de violência na província de Idlib.
Recentemente, Ancara e Moscou se reuniram para pôr fim à escalada de violência que deixou 13 soldados turcos mortos. Entretanto, a reunião acabou sem um acordo, segundo fontes diplomáticas.
O Ministério da Defesa da Rússia informou que a situação em Idlib, na Síria, tem escalado devido ao fato de os militantes receberem armamentos na fronteira com a Turquia.
“A situação tem piorado de modo significativo na zona de desescalada em função da entrada de armas e de munições pela fronteira entre a Turquia e a Síria, bem como em função do avanço do comboio de blindados e tropas turcas pelo território da província síria de Idlib”, informou a entidade em um comunicado nesta quarta-feira.
Anteriormente, o Ministério da Defesa da Rússia também declarou que a escalada de violência em Idlib seria uma consequência das atividades de Ancara, que não cumpre seus compromissos no país.
Preocupação norte-americana
O secretário de Estado adjunto dos EUA para Assuntos Europeus e Eurásia, Christopher Robinson, afirmou que a Turquia estaria sendo ameaçada na fronteira síria, ressaltando sua preocupação com o avanço sírio.
Além disso, os norte-americanos estariam preocupados com a presença das tropas russas na região, contudo, chegaram inclusive a pedir para que Moscou impeça o avanço do governo sírio.
Mesmo com toda preocupação do Congresso norte-americano, o presidente dos EUA, Donald Trump, manteve aproximadamente 600 militares no território sírio para seguir lutando contra o Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em outros países).
O que esperar da Síria?
A Síria, que tinha parte de seu território relativamente estável com a derrota do Daesh, hoje está se afundando em direção ao caos, já que duas forças militares, representando os governos turco e sírio, entraram em conflito, elevando a tensão na região.
Os recentes episódios estão desencadeando novos riscos, além de elevarem a instabilidade e a violência na região, com a Turquia tentando se aprofundar no território curdo utilizando os combatentes da oposição ao governo da Síria.
Com este cenário, o futuro sírio é incerto, já que há diversas possibilidades que poderiam mudar o futuro do país, que pode ver o retorno do Daesh e o aumento dos confrontos entre curdos, militantes e os governos sírio e turco, transformando a Síria em uma região de instabilidade.
Fonte: Sputnik.