O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, fez um duro discurso na abertura da 10ª Conferência do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares que está sendo realizado nesta segunda-feira (1º), em Nova York, e afirmou que a humanidade está a “um erro de cálculo” de sofrer uma “aniquilação”.
“Hoje, a humanidade está a um mal entendido, a um erro de cálculo de uma aniquilação nuclear. Nós fomos extraordinariamente sortudos até agora. Mas, sorte não é estratégia tampouco um escudo contra as tensões geopolíticas que fervem até se transformarem em um conflito nuclear”, disse o português.
Para Guterres, o mundo vive hoje a situação mais perigosa no tema “desde a Guerra Fria”, período vivido entre 1947 e 1991. E, por isso, pediu para que os países “voltem a ser unidos em um novo caminho para um mundo livre das armas nucleares”.
“A eliminação das armas nucleares é a única garantia que elas não serão nunca utilizadas. Ao menos 13 mil armas do tipo estão sendo armazenadas em arsenais ao redor do mundo e tudo isso em um momento em que os riscos de proliferação estão crescendo e as proteções para evitar essa escalada estão sendo enfraquecidos”, acrescentou ainda.
A reunião do grupo deveria ter ocorrido em 2020, mas por conta da pandemia de Covid-19, foi adiada e remarcada por diversas vezes. Agora, é realizada em um momento de extrema tensão geopolítica por conta da guerra na Ucrânia, em que a Rússia chegou a falar publicamente em usar a “opção nuclear” – apesar de voltar atrás depois – e o impasse que segue com o Irã, em que o governo admitiu hoje que já poderia construir um armamento do tipo.
Segundo informações oficiais, há nove países que possuem arsenais com bombas nucleares. Além da Rússia, Estados Unidos, Reino Unido, França, Índia, China, Israel, Paquistão e Coreia do Norte dispõem desses armamentos.
Porém, um acordo no sentido de diminuir ou eliminar esse tipo de arma não deve ser atingido. Em 2015, por conta de “diferenças profundas”, o texto final do encontro não foi ratificado.
A conferência também ocorre poucos dias antes de Guterres ir para Hiroshima, no Japão, para lembrar das vítimas do lançamento de uma bomba nuclear contra a cidade em 6 de agosto de 1945 durante a Segunda Guerra Mundial. O ataque norte-americano, que se repetiria em Nagasaki três dias depois, colocou fim ao conflito.
Putin envia discurso
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, enviou um discurso por vídeo ao evento, que foi repercutido pela agência estatal Tass, e disse que “não podem haver vencedores em uma guerra nuclear”.
“Partimos do fato de que não podem haver vencedores em uma guerra nuclear e que isso nunca pode ser lançado. Apoiamos uma segurança igual e indivisível para todos os membros da comunidade mundial”, disse Putin.
Segundo o líder do Kremlin, como um dos países-signatários do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares”, “a Rússia segue coerentemente a carta e o espírito do tratado. Também as nossas obrigações derivantes dos acordos bilaterais com os Estados Unidos sobre a redução e a limitação de armas relevantes estão sendo plenamente respeitados”, acrescentou.
Papa Francisco
O papa Francisco também usou o momento para se manifestar sobre esse tipo de armamento. Em uma mensagem publicada em suas redes sociais, o líder católico chamou de “imoral” ter armas assim.
“O uso de armas nucleares, bem como a sua posse, é imoral. Buscar assegurar a estabilidade e a paz através de uma falsa sensação de segurança e um ‘equilíbrio do terror’ conduz inevitavelmente a relações envenenadas entre os povos e põe obstáculos ao verdadeiro diálogo”, escreveu.
Fonte: ANSA.