Depois do assassinato de Mohsen Fakhrizadeh na sexta-feira (27/11), o mundo acompanha com atenção os próximos passos do Irã, cujo programa nuclear era liderado pelo cientista.
Fakhrizadeh foi atacado misteriosamente em uma estrada nos arredores da capital, Teerã, e na segunda-feira (30/11) recebeu um funeral de Estado com honras militares completas.
Nenhum grupo ou país reivindicou a autoria do ataque, mas líderes do Irã culparam Israel e juram vingança.
Então, quais são as possíveis reações do Irã ao assassinato de Fakhrizadeh?
Opção um: acelerar o programa nuclear
Na verdade, o Irã já deu uma resposta inicial: 72 horas depois do ataque, seu Parlamento aprovou uma “aceleração” do programa nuclear civil.
Isto deve aumentar os níveis de enriquecimento de urânio, violando o que determinava o acordo nuclear Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) — abandonado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2018.
Fakhrizadeh tinha um lugar de destaque na Defesa do país, como mostra a forte presença de militares em seu funeral.
Intensificar o programa nuclear é uma forma de mostrar ao mundo que as atividades nucleares do Irã podem sobreviver a este assassinato.
Embora qualquer aumento no enriquecimento levante suspeitas de que o Irã possa estar trabalhando para construir uma bomba nuclear, esta medida é, até certo ponto, reversível.
Opção dois: usar ‘emissários’
O Irã financia, treina e arma várias milícias no Oriente Médio, como no Líbano, Iraque, Síria e Iêmen.
Quando drones e mísseis atingiram um complexo de processamento de petróleo na Arábia Saudita em setembro de 2019, o Irã afirmou que os disparos eram autoria de rebeldes houtis do Iêmen.
Entretanto, agências de inteligência ocidentais concluíram que se tratava de ataque iraniano, lançado como um aviso à Arábia Saudita de sua vulnerabilidade econômica.
O Irã agora tem uma série de alternativas: pode instruir o Hezbollah no Líbano ou o Hamas em Gaza a disparar foguetes contra Israel; pode fazer com que milícias xiitas no Iraque ataquem postos militares dos EUA — cada vez mais diminutos — ali; ou pode incentivar os houtis do Iêmen a atacarem a Arábia Saudita.
Mas todas essas respostas podem provocar ainda uma tréplica.
Opção três: responder na mesma moeda
A carta mais arriscada para o Irã seria buscar o assassinato de alguma figura israelense importante, com posição análoga à de Mohsen Fakhrizadeh.
O Irã já mostrou que é capaz de realizar ataques muito além das fronteiras do Oriente Médio.
Após uma série de assassinatos misteriosos de quatro cientistas nucleares iranianos entre 2010 e 2012, amplamente atribuídos à agência de inteligência israelense Mossad, o Hezbollah, aliado do Irã, foi acusado de um ataque suicida a um ônibus cheio de turistas israelenses na Bulgária em 2012.
Anos antes, o Hezbollah e o Irã foram acusados como autores de ataques mortais a pontos de interesse israelenses na Argentina.
A Força Quds do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã tem equipes especialmente treinadas para operações secretas, incluindo assassinatos.
Mas a falha escancarada no cordão de proteção a Fakhrizadeh, cuja rota e hora exata de partida se mostrou conhecida pelos assassinos, terá sido um lembrete incômodo para o Irã das fragilidades em sua própria segurança.
O Irã também sabe que, se atingir Israel diretamente, é provável que sofra um ataque muito prejudicial em resposta.
Israel não é mais um Estado isolado e cercado por inimigos árabes. Hoje, o país está em uma cooperação cada vez mais estreita com os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, bem como aquecendo, embora de forma velada, os laços com a Arábia Saudita.
Portanto, estrategistas militares do Irã estarão pensando cuidadosamente como dar uma resposta que recarregue o orgulho nacional, mas sem que desperte um conflito de grande escala ou um ataque aéreo devastador em sua infraestrutura militar.
Opção quatro: não fazer nada
Por mais improvável que pareça, simplesmente não reagir à morte de Fakhrizadeh também está na mesa, pelo menos por enquanto.
Embora o embaixador do Irã em Londres tenha dito que os resultados da eleição presidencial dos Estados Unidos não façam diferença para seu governo, fato é que a chegada de Joe Biden à Casa Branca aumenta a probabilidade de uma reaproximação com Teerã.
No Irã, haverá vozes moderadas, especialmente no Ministério das Relações Exteriores e no empresariado, pedindo moderação, ou pelo menos uma reação tardia ao assassinato, de modo a dar a eventuais negociações futuras com a Casa Branca alguma chance de sucesso.
Biden já afirmou que quer levar os EUA de volta ao acordo nuclear que Trump abandonou. Para o Irã, isso pode significar a suspensão de sanções e o influxo de bilhões de dólares.
“A principal restrição”, diz Emile Hokayem, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, “é que se o Irã atacar, corre o risco de ser incapaz de fazer um acordo com o próximo governo Biden”.
O Irã também terá eleições em junho, na qual políticos linha dura esperam ter um bom desempenho. Apesar da perspectiva de uma retórica barulhenta, haverá alguma cautela quanto a passos bruscos que possam ser mal vistos e barrados nas urnas.
Fonte: BBC.