Uma profecia medieval, atribuída a São Malaquias, indica que o papa Francisco pode ser um dos últimos da Igreja Católica, antes da destruição de Roma e do Juízo Final. Jorge Mario Bergoglio, 88 anos, morreu hoje por AVC e insuficiência cardíaca, no Vaticano.
O que é a Profecia dos Papas?
A autoria da profecia é atribuída a Malaquias de Armagh, um monge e arcebispo irlandês. Acredita-se que as previsões foram escritas em 1139, durante uma estadia de um mês do religioso em Roma, onde teria tido uma visão mística dos futuros papas, registrando suas profecias em uma lista.
O texto, no entanto, só se tornou de conhecimento público em 1595. Neste ano, as revelações de São Malaquias foram inseridas no livro Lignum Vitae, do monge beneditino Arnold de Wyon.
A profecia atribui frases em latim a cada papa. Os dísticos, como são chamadas as frases codificadas, foram dados a 112 pontífices, desde Celestino 2º (eleito em 1143) até Pedro 2º, que seria o último papa da Igreja Católica. Os lemas curtos descreveriam cada um dos bispos de Roma.
O último papa
O elemento mais intrigante da Profecia dos Papas é que a lista termina com um último pontífice. Segundo a revelação de São Malaquias, o papa seria chamado de Pedro 2º e está ligado ao seguinte dístico:
Na derradeira perseguição da Santa Igreja Romana, reinará Pedro, o Romano, que apascentará suas ovelhas entre muitas tribulações; e, terminadas estas, a cidade das sete colinas será destruída, e o tremendo Juiz julgará seu povo. Fim.
É importante notar que os papas evitam o nome “Pedro”. Isso acontece em respeito a São Pedro, considerado o primeiro papa da Igreja Católica, e para não reivindicar simbolicamente seu papel único.
A contagem dos dísticos da lista indica que Francisco seria o penúltimo papa. Segundo essa interpretação, após João Paulo 2º (“De labore solis”), haveria apenas mais três papas até o fim dos tempos:
- Bento 16 (“Gloria Olivae”);
- Francisco (“In persecutione extrema S.R.E. sedebit”);
- E um último papa, Pedro 2º, que seria o derradeiro antes do fim do mundo.
A ligação de Francisco ao seu dístico, assim como em outros casos, é vaga. A frase, “Durante a última perseguição à Sagrada Igreja Romana, ele sentará” em latim, é atribuída ao papa pois ele passou a usar uma cadeira de rodas nos últimos anos.
A contagem da lista, no entanto, deixa margem para outras interpretações. Todos os primeiros 111 papas são descritos com frases curtas e enigmáticas. O 112º papa, “Petrus Romanus”, aparece de forma diferente, com uma descrição mais longa e detalhada sobre o fim dos tempos. Por isso, acredita-se que não há distinção entre os dois últimos.
A partir dessa interpretação, seria Francisco o último papa. Segundo essa análise, o papa argentino pode ser simbolicamente relacionado a “Pedro” porque São Francisco de Assis, de quem o papa “emprestou” o nome, se chamava Giovanni di “Pietro” di Bernardone.
Uma profecia questionada
A autenticidade da profecia de São Malaquias é contestada. A “descoberta” das previsões do santo em 1590 — mais de 450 anos após sua suposta revelação — é amplamente questionada por estudiosos, por exemplo. Não há qualquer menção a elas antes do século 16, explica Luis Alberto De Boni, doutor em Teologia e ex-professor da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
Arnold de Wyon é o primeiro a falar de ‘uma certa profecia’. Por que não contou como chegou até ele tal manuscrito? Por que não informou onde encontrou o texto original ou a cópia que lhe veio às mãos?, questiona o especialista em um artigo sobre o tema.
Muitos estudiosos acreditam que a profecia foi criada para influenciar um conclave. O objetivo seria manipular a escolha de um novo papa no século 16, mais precisamente no segundo conclave de 1590, realizado após a morte do papa Urbano 7º.
A suspeita surge porque os lemas dos papas anteriores a 1590 são muito precisos. Eles correspondem bem a brasões, locais de nascimento e eventos históricos. No entanto, depois de 1590, os lemas se tornam vagos e genéricos, permitindo múltiplas interpretações, muitas vezes subjetivas.
Algumas descrições podem ser ajustadas para se encaixar em qualquer papa, dependendo da criatividade do intérprete. Por exemplo, o lema do papa João Paulo 2º, “De labore solis” (Do trabalho do sol), foi interpretado como referência a ele ter nascido durante um eclipse solar, mas também poderia significar muitas outras coisas.
Assim, por exemplo, Leão 11 é o ‘Undosus vir’ (Homem onduloso, da onda) e explica-se então que, ao se dirigir para tomar posse em São João do Latrão, sofreu uma crise de suor (e aí se aplica, de forma arbitrária, a palavra ‘onda’) e depois de calafrios e acabou morrendo. O papa Inocêncio 11, beatificado por Pio 12, é anunciado como ‘Bellua insatiabilis’ (Fera insaciável) e, para justificar tal dístico, diz-se que se refere ao orgulho e à luxúria de Luís 14, que reinou na França naqueles tempos e que se opôs à eleição de Inocêncio.
A Igreja Católica não possui uma posição oficial sobre a profecia de São Malaquias. Alguns teólogos, porém, contestam classificar o texto como “profecia”, argumentando que o termo deve ser exclusivo para previsões encontradas na Bíblia.
Fonte: UOL.