Em setembro, um relatório do Pentágono revelou que a China ultrapassou os EUA no total de navios, mísseis e sistemas de defesa antiaérea como parte de seus planos para atingir o “domínio” no Pacífico até 2049.
Simulando cenários para a próxima grande guerra potencial com a China, o Pentágono observou uma tendência preocupante, descobrindo que as capacidades do Exército de Libertação Popular (ELP) ultrapassaram as dos EUA a ponto de Washington “perder rápido” em qualquer grande confronto militar com Pequim, afirmou o tenente-general da Força Aérea norte-americana S. Clinton Hinote.
“Mais de uma década atrás, nossos jogos de guerra indicaram que os chineses estavam fazendo um bom trabalho ao investir em capacidades militares que tornariam nosso modelo preferido de guerra expedicionária, onde empurramos as forças para frente e operamos a partir de bases e santuários relativamente seguros, cada vez mais difícil”, explica Hinote, que atua como vice-chefe de gabinete da Força Aérea para estratégia, integração e requisitos, ao portal Yahoo News.
“Naquele ponto, a tendência em nossos jogos de guerra não era apenas que estávamos perdendo, mas estávamos perdendo mais rápido […]. Depois do jogo de guerra de 2018, lembro-me claramente de um de nossos gurus dos jogos de guerra em pé na frente do secretário da Força Aérea e do chefe do Estado-Maior dizendo a eles que nunca deveríamos jogar este cenário de jogo de guerra [de um ataque chinês contra Taiwan] novamente, porque sabemos o que iria acontecer”, comenta Hinote.
Simulação preocupante
De acordo com a mídia, em outubro, a Força Aérea dos EUA simulou um conflito para daqui a dez anos, que começaria com um ataque com arma biológica chinesa que, no caso, varreu as bases dos EUA e os navios de guerra na região do Indo-Pacífico. A simulação culminou com ataques de mísseis chineses chovendo em bases norte-americanas e navios de guerra na região e um ataque aéreo e anfíbio em Taiwan.
Altamente confidencial, o jogo de guerra ocorreu menos de um ano depois a descoberta do SARS-CoV-2, que rapidamente se espalhou para a tripulação do porta-aviões USS Theodore Roosevelt, tirando de circulação um dos ativos mais importantes da Marinha dos EUA.
E, durante o jogo de guerra, uma aeronave de combate chinesa sobrevoou o estreito de Taiwan na direção de Taipé 40 vezes, uma ação sem precedentes, afirma a mídia. Por fim, a Força Aérea da China divulgou um vídeo mostrando um bombardeiro capaz de transportar armas nucleares realizando um ataque simulado à base aérea de Andersen, das Forças Armadas dos EUA, na ilha de Guam, no oceano Pacífico.
“A propósito, três dos planos de guerra permanentes da China são construídos em torno de um cenário de Taiwan […]. Eles estão planejando isso. Taiwan é o que eles pensam o tempo todo”, garante Hinote.
Hegemonia militar
O tenente-general da Força Aérea norte-americana alerta que “se os militares dos EUA não mudarem de rumo” em suas prioridades de planejamento e gastos, “vamos perder rapidamente. Nesse caso, um presidente norte-americano provavelmente seria apresentado a quase um fato consumado”.
No ano passado, um relatório do Pentágono ao Congresso revelou que o ELP já havia ultrapassado os militares dos EUA em número de navios de guerra e sistemas de defesa aérea, e indicou que a China estava bem encaminhada para sua meta de 2049 de criar “um exército que em meados do século seja igual, ou em alguns casos superior, aos dos EUA”.
O relatório admitia que “a China já está à frente dos EUA em certas áreas”, como a Marinha, composta por cerca de 350 navios e submarinos, mais de 130 deles grandes combatentes de superfície.
Hinote sugere que a única esperança para os EUA em um cenário de Taiwan contra a China é se eles “conseguirem projetar uma força que crie” incerteza suficiente “e faça com que os líderes chineses questionem se podem cumprir seus objetivos militarmente”. Nesse ínterim, mesmo que o Pentágono estivesse começando “a entender que tipo de força militar dos EUA será necessária para atingir os objetivos da Estratégia de Defesa Nacional […] essa não é a força que estamos planejando e construindo hoje”, admite o oficial.
Fator Taiwan
Taiwan se separou da China continental no final de uma guerra civil em 1949. O Partido Comunista Chinês nunca governou a ilha, mas a considera parte de seu território.
As tensões entre a ilha e Pequim se elevaram ainda mais com o estreitamento das relações com EUA, que levou ao aumento das vendas de armas e mais visitas diplomáticas a Taipé durante a presidência de Donald Trump.
Esta semana, o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, descreveu Taiwan como uma “linha vermelha” que não deve ser ultrapassada, e aconselhou a Casa Branca a abdicar da relação com a ilha.
O atual presidente dos EUA, o democrata Joe Biden, já declarou que, com relação a Taiwan, sua administração pretende seguir com a política de seu antecessor.