Um jovem de 25 anos se destacava no grupo de mulheres e crianças libertados pelo Hamas neste domingo: com nacionalidade russa e israelense, o técnico de som Roni Krivoi não integrava a lista estabelecida pelo acordo que prevê a trégua nos combates em Gaza pela troca de reféns, mas foi solto por uma deferência do grupo terrorista a Vladimir Putin.
Ao libertá-lo, por conta própria, o Hamas agradeceu ao presidente russo o apoio à causa palestina e a posição assumida por Moscou no conflito com Israel.
O gesto sela a aproximação entre Putin e o Hamas e o seu distanciamento com o premiê Benjamin Netanyahu, que se gabava de tê-lo como um amigo pessoal, visitando-o mais de dez vezes nos últimos sete anos.
Israel detectou a frieza oriunda do Kremlin na sua reação ao massacre do Hamas em solo israelense. Putin levou três dias para se manifestar e responsabilizou o fracasso da política dos EUA no Oriente Médio para justificar o ataque que causou a morte de 1.200 pessoas e tornou mais de 200 reféns em Gaza.
Vinte dias depois, uma delegação do Hamas de alto nível, liderada por Moussa Abu Marzouk, esteve em Moscou para reunir-se com o vice-ministro das Relações Exteriores, Mikhail Bogdanov, sob o pretexto de negociar a libertação de sete reféns russos.
No mesmo dia, o vice-chanceler do Irã também era recebido por Bogdanov.
A Rússia deixava claro os objetivos de aumentar a influência no Oriente Médio — onde atuou como suporte essencial ao ditador sírio, Bashar al-Assad —, enfraquecer os EUA e desviar a atenção mundial de sua guerra contra a Ucrânia.
Mas, para Israel, a recepção russa à comitiva do Hamas significava apoio ao terrorismo e legitimidade aos atos cometidos dias antes.
Nos últimos anos, a Rússia tornou-se próxima do Irã e contou com a ajuda do regime para combater a Ucrânia, recebendo drones de ataque de fabricação iraniana. Enquanto isso, Netanyahu tentava se equilibrar entre EUA e Rússia, evitando impor sanções financeiras a Moscou e recusando-se a enviar armas a Kiev.
A partir do massacre, os laços entre os dois países se afrouxaram. No Conselho de Segurança da ONU, houve trocas de acusações entre os representantes russo e israelense, sob o direito de Israel se defender após o ataque do Hamas.
O tumulto no aeroporto do Daguestão, no Sul da Rússia, em 29 de outubro, quando uma turba de manifestantes atacou passageiros que desembarcaram em um voo proveniente de Israel, ajudou a tensionar as relações.
Putin comparou o bloqueio de Gaza por tropas israelenses às táticas usadas por nazistas contra a cidade soviética de Leningrado, sitiada sem água e eletricidade, durante a Segunda Guerra Mundial.
“Embora o apoio da Rússia ao Hamas seja, por enquanto, retórico e simbólico, e não material, isto é percebido por Israel como semelhante a uma aliança com o Hamas”, opinou o jornalista Milan Czerny, em artigo no Carnegie Endowment for International Peace.
O Hamas soube retribuir, expressando boa vontade e agradecimento, ao libertar um dos reféns israelenses com cidadania russa. Caçula de três irmãos, de uma família russo-israelense, Roni Krivoi foi capturado por terroristas do Hamas no dia 7 de outubro, durante a festa rave que se realizava perto da fronteira e levado para Gaza.
Segundo uma tia, ele conseguiu fugir do cativeiro, durante um dos bombardeios de Israel e vagou sem rumo pelo território palestino até ser novamente preso.
Foi libertado ontem pela graça de Putin, nas palavras do próprio Hamas.
Fonte: G1.