De acordo com um estudo do Imperial College London, três quartos da população de Manaus, na Amazônia, foram infectados pelo coronavírus desde o primeiro surto da cidade, em março.
Pesquisadores da Imperial College e uma equipe de colaboradores internacionais anunciaram nesta terça-feira (8) algumas descobertas sobre a COVID-19 no Brasil. De acordo com os cientistas, 76% da população de Manaus foi infectada pela COVID-19 entre março e outubro de 2020.
Em contraste, eles descobriram que 29% foram infectados em São Paulo, a primeira cidade a detectar a circulação do coronavírus na América Latina.
A equipe internacional, que conta com cientistas da Universidade de São Paulo (USP), da Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas, da Fundação Pró-Sangue/Hemocentro de São Paulo e da Universidade de Oxford, coletou e analisou dados sobre a prevalência da COVID-19 em doadores de sangue nas cidades brasileiras de Manaus e São Paulo.
Ao testar cerca de mil amostras de doações de sangue por mês em São Paulo e Manaus, os pesquisadores mostram como a proporção de doadores de sangue com anticorpos contra SARS-CoV-2 mudou entre fevereiro, antes do primeiro caso brasileiro de COVID-19, e oito de outubro, meses após o início da pandemia.
Os resultados foram publicados na revista Science. Eles mostram que, embora ambas as cidades tenham vivenciado grandes epidemias com alta mortalidade, cerca de três quartos da população de Manaus foi infectada. Enquanto em São Paulo, o patamar ficou em um terço da população.
A região amazônica, no norte do país, foi a mais atingida. Em Manaus, a mortalidade aumentou rapidamente em abril.
Os pesquisadores afirmam que a grande taxa de transmissão em Manaus pode ser explicada pelas condições socioeconômicas, aglomeração domiciliar, acesso limitado a água potável e dependência de viagens de barco com alto risco de transmissão, em que a superlotação resulta em contágio acelerado, semelhante ao visto em cruzeiros.
Os autores afirmam que esses resultados são um alerta baseado em dados do que pode ser a extensão da transmissão do SARS-CoV-2 na ausência de uma mitigação efetiva. Vale lembrar que o Brasil experimentou uma pandemia sem precedentes, com mais de 6,5 milhões de casos notificados até o momento e mais de 175 mil mortes.
O professor Nuno Faria, leitor do Imperial College London e professor associado da University of Oxford, investigador principal do projeto, disse que “o grande fardo de doenças e mortes causadas pelo COVID-19 em Manaus enfatiza a importância das coberturas faciais, distanciamento social e lavagem das mãos para impedir a disseminação da infecção pelo Brasil, medidas que serão reforçadas pela vacinação para imunizar indivíduos em risco e, em última instância, proteger populações inteiras”.
A professora Ester Sabino, imunologista da Universidade de São Paulo, disse que “as taxas de infecção atualmente são altas na América Latina e encontramos taxas de infecção particularmente altas em Manaus, a maior metrópole urbana da região amazônica. Manaus é um alerta para outras cidades, por exemplo, São Paulo poderia mais que dobrar o número de mortes se atingisse nível semelhante de infecção”.