Na quarta-feira (23), as autoridades indianas tomaram uma série de medidas diplomáticas punitivas contra o Paquistão, acusando-o de “terrorismo transfronteiriço” após um ataque contra turistas na Caxemira que deixou 26 pessoas mortas.
ataque levou as relações entre os dois vizinhos ao seu pior nível em anos, com o temor de que a reação diplomática de Nova Délhi seja apenas a primeira de uma série de medidas, com o risco potencial de ação militar entre esses dois países detentores de armas nucleares.
Nesta quinta-feira (24), autoridades do Paquistão também anunciaram retaliações contra seu vizinho e rival histórico.
As medidas da Índia, incluindo a suspensão de um tratado de compartilhamento de água, o fechamento da principal passagem da fronteira terrestre entre os dois países e a convocação de diplomatas, entram em vigor um dia depois que homens armados abriram fogo em um ponto turístico na Caxemira administrada pela Índia, matando 25 indianos e um nepalês.
Na quarta-feira, o ministro da Defesa da Índia declarou que “os responsáveis e aqueles por trás de tal ato ouvirão rapidamente nossa resposta, (que será) inequívoca”.
Água no centro das questões
Vikram Misri, funcionário do alto escalão do Ministério das Relações Exteriores da Índia, anunciou que um tratado sobre as águas, que data de 1960, “será suspenso com efeito imediato”, até que “o Paquistão renuncie de forma crível e irrevogável ao seu apoio ao terrorismo transfronteiriço”. Em teoria, esse acordo divide a água entre os dois países, mas deu origem a várias disputas. Islamabade, capital do Paquistão, teme há muito tempo que a Índia, que detém o ponto da nascente, restrinja seu acesso à água.
A Índia disse que ordenou que os adidos de defesa de Islamabade e outras autoridades militares paquistanesas presentes em Nova Délhi deixassem o país em uma semana e que retiraria seus consultores de defesa, navais e de aviação do Paquistão.
“Índia identificará, rastreará e punirá todos os terroristas”
O primeiro-ministro nacionalista da Índia, Narendra Modi, que interrompeu uma visita de Estado à Arábia Saudita, denunciou esse “ato hediondo” e prometeu que os agressores seriam “levados à justiça”. Dirigindo-se a uma multidão em Bihar na quinta-feira (24), o premiê usou o inglês para que sua mensagem fosse ouvida além das fronteiras dos dois países. “Os terroristas mataram pessoas inocentes. Eles têm como alvo os mais pobres. Centenas de milhares de nossos compatriotas estão sofrendo. Digo ao mundo: a Índia identificará, perseguirá e punirá todos os terroristas e seus cúmplices. Nós os perseguiremos até os confins do mundo”.
Enquanto isso, a tensão está aumentando na Índia. Muitos estudantes da Caxemira indiana foram perseguidos e intimidados pelas autoridades após o ataque. Vários grupos extremistas hindus também fizeram ameaças de morte contra os muçulmanos indianos.
Medidas recíprocas tomadas pelo Paquistão
Nesta quinta-feira (25), as principais autoridades civis e militares do Paquistão se reuniram por duas horas e, ao final da reunião, o gabinete do primeiro-ministro Shehbaz Sharif anunciou uma série de medidas contra seu vizinho e rival histórico. Essa última série de medidas marca uma nova escalada no braço de ferro entre as duas potências nucleares desde o ataque de terça-feira.
“Qualquer ameaça à soberania do Paquistão e à segurança de seu povo será enfrentada com medidas recíprocas firmes”, alertou o Comitê de Segurança Nacional paquistanês. Em seguida, detalhou: “Os conselheiros de defesa, navais e aéreos indianos em Islamabade são declarados persona non grata. Todo o comércio com a Índia, inclusive de e para países terceiros que transitam pelo Paquistão, é imediatamente suspenso”. Além disso, “o espaço aéreo paquistanês será fechado com efeito imediato para todas as companhias aéreas de propriedade ou operadas pela Índia”.
Como a Índia havia feito no dia anterior com seus cidadãos, “o Paquistão está suspendendo todos os vistos emitidos para cidadãos indianos e cancelando-os com efeito imediato, com exceção dos vistos para peregrinos religiosos Sikh”. “Os cidadãos indianos que se encontram atualmente no Paquistão têm 48 horas para deixar o país”, disse o comunicado do governo, acrescentando que a principal passagem de fronteira estava fechada em ambas as direções.
O Paquistão também enviará uma intimação à embaixada indiana, anunciou o vice-primeiro-ministro paquistanês Ishaq Dar, que também é chefe da diplomacia.
Índia faz operação de segurança e expulsa paquistaneses
Uma grande força de segurança foi mobilizada para tentar encontrar os agressores. Dois terroristas já foram mortos na Índia. Os serviços secretos indianos afirmam que a Frente de Libertação que atacou a Caxemira está sediada no Paquistão. Islamabade denuncia essas acusações, que afirma serem sem fundamento. Na quinta-feira, a Índia também ordenou que todos os cidadãos paquistaneses, com exceção dos diplomatas, deixassem seu território até 29 de abril.
Desde sua separação na independência em 1947, a Índia e o Paquistão têm disputado a soberania sobre toda a Caxemira, que é dividida entre os dois países e tem maioria muçulmana. Os insurgentes estão lutando pela independência ou pela fusão com o Paquistão desde 1989. Nova Délhi acusa Islamabade de apoio secreto à infiltração e à rebelião armada na Caxemira, o que o Paquistão nega.
Fonte: RFI.