As tensões entre Armênia e Azerbaijão, no Cáucaso, possuem interferência da Europa e dos Estados Unidos, denunciaram nesta segunda-feira (23) a Rússia e o Irã. Os países participaram de uma reunião em Teerã para encontrar uma solução na região sem envolver o Ocidente. A Turquia também esteve presente.
Os dois países participaram das conversas na capital do Irã depois de uma ofensiva relâmpago de Baku para retomar a disputada região de Nagorno-Karabakh, cujas tensões já se arrastam há décadas. O objetivo foi tentar uma saída sem a necessidade de um conflito armado.
“Os problemas da região não podem ser resolvidos pela intervenção de forças estrangeiras”, enfatizou o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, à AFP. Já o ministro das Relações Exteriores do país, Hossein Amir-Abdollahian, acrescentou que a presença desses países complicam ainda mais a situação.
A opinião foi compartilhada pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que ainda denunciou “tentativas, em primeiro lugar, da UE [União Europeia] e, em certa medida, dos Estados Unidos, de interferir no processo de delimitação” da fronteira entre Armênia e Azerbaijão.
Lavrov, que teve uma reunião individual com o presidente iraniano, lembrou que “a porta continua aberta” para a Geórgia participar das discussões, já que o país não participou do encontro — Tiblissi tenta um assento na União Europeia e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). No primeiro semestre do próximo ano, está prevista uma nova reunião na Turquia.
Ao final, foi emitida uma declaração conjunta em que os participantes reiteraram a “importância da resolução pacífica de disputas, respeito à soberania, independência política e integridade territorial”.
Moscou intermediou cessar-fogo em 2020
O cessar-fogo entre Armênia e Azerbaijão foi intermediado em 2020 pela Rússia. Desde então, União Europeia e Estados Unidos passaram a atuar com mais força na região, o que contribuiu para um aumento das tensões entre as duas partes. No último mês, o Azerbaijão realizou uma operação com três mil soldados no enclave de Nakhichevan, entre o Irã e a Armênia, além de territórios retomados dos separatistas armênios.
A Armênia teme que o Azerbaijão pressione sua vantagem com a ajuda da Turquia para incorporar à força o território de Nakhichevan. O país disse ainda estar pronta para reabrir as comunicações de transporte entre o Azerbaijão continental e Nakhichevan via seu território, desde que sua soberania sobre a área não seja questionada.
Nagorno-Karabakh, reconhecido internacionalmente como parte do Azerbaijão e lar de uma população majoritariamente armênia por décadas, foi o centro de duas guerras entre os países, em 2020 e no início dos anos 1990. Ao todo, vivem cerca de 100 mil pessoas na região.