Na esteira das negociações em Viena sobre a energia nuclear iraniana, e as relações entre Teerã e as grandes potências, o Irã anunciou neste sábado (10) novos avanços em seu programa nuclear, sob o risco de complicar as discussões que serão retomadas na quarta-feira (14) sobre a volta dos Estados Unidos ao acordo nuclear de 2015.
Durante uma cerimônia oficial realizada por meio de videoconferência, o presidente iraninao Hassan Rohani lançou neste sábado (10) a produção de uma linha de 164 centrífugas IR-6. Elas são dez vezes mais poderosas do que os antigos IR-1s usados pelo Irã antes do acordo nuclear de 2015. O Irã também lançou o comissionamento de 30 centrífugas IR-5.
É importante ressaltar que a televisão iraniana mostrou em suas imagens duas centrífugas gigantes do tipo IR9, cerca de 50 vezes mais potentes do que as IR-1s, as únicas que o Acordo de Viena permite que o Irã use para fins de produção.
Essas novas centrífugas, instaladas no complexo nuclear de Natanz, no centro do Irã, estão atualmente sendo testadas para verificar “estabilidade mecânica”, anunciou o presidente Rouhani, mas permitirão que o Irã dê um grande passo na direção de acelerar sua produção de urânio enriquecido.
Como parte do acordo de 2015, o Irã se comprometeu a usar apenas centrífugas velhas e manter apenas 350 quilos de urânio pouco enriquecido, lembra o correspondente da RFI em Teerã, Siavosh Ghazi. Com essas novas centrífugas, o estoque de urânio enriquecido do Irã já atingiu 5 m quilos.
Teerã também produziu 60 quilos de urânio enriquecido a 20%, o que está mais próximo do limiar militar. Mas o presidente Hassan Rouhani repetiu durante a cerimônia organizada para o Dia Nacional da Tecnologia Nuclear que o programa nuclear de seu país era puramente “pacífico”.
O Acordo de Viena está fragilizado desde que os Estados Unidos o abandonaram unilateralmente em 2018, sob o governo do ex-presidente Donald Trump, restaurando uma avalanche de sanções econômicas e financeiras contra o Irã. Em resposta, Teerã começou a se livrar de seus compromissos assinados durante o acordo nuclear a partir de maio de 2019, e o ritmo se acelerou nos últimos meses.
Propostas “muito sérias” de Washington ao Irã
Os anúncios deste sábado podem complicar as negociações de Viena esta semana entre a República Islâmica e os outros estados signatários do acordo de 2015 (Alemanha, China, França, Grã-Bretanha e Rússia) sobre como reintegrar os Estados Unidos neste pacto concluído na Áustria.
O objetivo é chegar a um acordo entre Teerã e Washington para o levantamento das sanções norte-americanas. Em troca, o Irã terá que voltar a limitar seu programa nuclear novamente.
Na sexta-feira (9), uma autoridade norte-americana disse, sob condição de anonimato, que Washington havia feito indiretamente propostas “muito sérias” ao Irã para reativar o acordo e que os norte-americanos esperavam alguma “reciprocidade” da República Islâmica.
O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, declarou que está pronto para entrar novamente no acordo e, portanto, suspender as sanções após as negociações.
Por sua vez, o Irã se diz pronto para voltar à aplicação integral do texto, desde que os Estados Unidos primeiro retirem todas as sanções que reimpuseram ou instituíram contra Teerã, desde 2018.
Trocas “produtivas”
A União Europeia, que coordena as discussões entre o Irão e os seus parceiros, considerou “produtivos” os intercâmbios que aconteceram esta semana em Viena.
Segundo a Rússia, para “manter o ímpeto positivo das negociações”, diplomatas de países ainda signatários do acordo de Viena “vão se reunir novamente na próxima semana” na capital austríaca. Segundo Teerã, o encontro ocorrerá na quarta-feira, entre vice-chanceleres.
Fonte: RFI.