Em um plano de longo prazo e com tecnologia altamente sofisticada, o serviço de inteligência de Israel criou uma empresa de fachada para vender pagers já com explosivos instalados ao Hezbollah, segundo uma reportagem publicada nesta quinta-feira (19) pelo jornal “The New York Times”.
Com base em depoimentos de funcionários do serviço de inteligência israelense, a reportagem afirma que a empresa de fachada forneceu ao grupo extremista os pagers, pequenos aparelhos de recebimento de mensagem de texto muito usados nas décadas de 1980 e 1990 que, na terça-feira (17), foram detonados em uma explosão quase simultânea, matando 12 pessoas e ferindo mais de 2.750.
Citando as fontes israelenses, o jornal afirma que a empresa de fachada é a BAC Consulting KFT, já apontada nos últimos dias como envolvida na fabricação dos pagers detonados.
A fabricante original dos pagers é a taiwanesa Gold Apollo. No entanto, em comunicado emitido após a explosão dos dispositivos do Hezbollah, a Gold Apollo afirmou que havia terceirizado a produção dos modelos adquiridos pelo grupo extremista para a BAC Consulting KFT.
A terceirizada era uma empresa sediada em Budapeste, na Hungria, local que o serviço de inteligência israelense escolheu para criar a fabricante de fachada, disse a reportagem do The New York Times.
Ainda de acordo com o jornal, a operação foi de longo prazo e começou a ser colocada em prática em 2022, antes mesmo de estourar a guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza — o Hezbollah tem atacado o norte de Israel em apoio ao Hamas. Ambos os grupos são financiados pelo Irã e lutam contra Israel.
Na ocasião, o Hezbollah estava começando a adotar pagers como forma de comunicação, para driblar o rastreamento que Israel é capaz de fazer aos celulares. Os pagers, mais antigos, não têm GPS.
Nos últimos meses, no entanto, o chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, começou a ampliar o uso dos dispositivos no lugar de celulares. Ele recomendou a troca em pronunciamentos públicos e inclusive comprou uma carga de 4.000 dispositivos, todos da empresa de fechada do serviço secreto de Israel, afirmou o The New York Times.
A reportagem diz ainda que, através da empresa de fachada, Israel começou a produzir pagers e vendê-los não só para o Hezbollah como também para clientes regulares — nesses casos, no entanto, os pagers vendidos não continham explosivos.
Já nos pagers vendidos para o Hezbollah, o principal cliente da fabricante de fachada, membros do serviço de inteligência inseriram microexplosivos com uma tecnologia que permitia que fossem detonados à distância, afirma a reportagem.
A estratégia explicaria como os explosivos foram introduzidos nos pagers e detonados quase simultaneamente.
Israel não havia se pronunciado sobre a reportagem até a última atualização desta reportagem. O governo israelense também não reivindicou autoria sobre os ataques aos dispositivos e nem comentou o caso.
Fonte: G1.