Um alto funcionário israelense criticou a decisão da União Europeia, que defende uma solução de dois Estados com fronteiras pré-1967, de rejeitar o “Acordo do Século” de Donald Trump.
Israel censurou as palavras do alto representante da UE para as Relações Exteriores, Josep Borrell, que em uma declaração rejeitou o plano de paz para o Oriente Médio apresentado pelo presidente norte-americano Donald Trump, uma iniciativa totalmente favorável a Israel.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Lior Haiat, descreveu em um tweet que “seguir estas políticas e comportamentos é a melhor maneira de assegurar que o papel da UE em qualquer processo [de paz] será minimizado”.
“O fato de o alto representante da UE, Josep Borrell, escolher usar uma linguagem ameaçadora contra Israel tão pouco tempo depois de tomar posse, e apenas horas depois de suas reuniões com o Irã, é lamentável e, no mínimo, estranho”, acrescentou Haiat.
Uma semana após Trump ter apresentado o seu plano na Casa Branca, na presença do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, a UE rejeitou a proposta em bloco, que diz violar o direito internacional e contradizer a visão europeia de uma solução de dois Estados.
O plano de Trump, que o presidente norte-americano chamou de “Acordo do Século”, lança as bases para a anexação israelense dos assentamentos judeus na Cisjordânia, a começar pelos assentamentos agrícolas na fértil área palestina do Vale do Jordão, reafirma a soberania israelense sobre Jerusalém e obriga os palestinos a desarmar e a renunciar ao retorno dos refugiados, a fim de obter algo semelhante a um mini-Estado.
Ponto de vista da UE
“De acordo com o direito internacional e as resoluções relevantes do Conselho de Segurança da ONU, a UE não reconhece a soberania de Israel sobre os territórios ocupados desde 1967“, disse Borrell em uma declaração, que foi considerado mais favorável a Israel do que sua antecessora no cargo, a italiana Federica Mogherini.
Os parceiros europeus estão comprometidos, desde o início do processo de paz há quase 30 anos, com uma solução de dois Estados, um israelense e um palestino, baseados nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, quando Israel ocupou territórios palestinos, parte das Colinas de Golã sírias e a península egípcia do Sinai.
De acordo com a UE, o Estado palestino teria sua capital na parte oriental de Jerusalém, algo que o plano de Trump omite, pois reconhece que Jerusalém é a capital indivisível de Israel. Para ter sua capital em Jerusalém, os palestinos ficariam com alguns subúrbios nessa parte da cidade.
Uma possível anexação por Israel de áreas dos territórios palestinos “não poderia ficar sem resposta”, disse Borrell em sua declaração, em resposta às promessas de Netanyahu de estender em menos de um ano a soberania israelense sobre os assentamentos da Cisjordânia, antes das terceiras eleições legislativas israelenses, que se realizam em Israel em 2 de março.
Entretanto, o premiê israelense disse hoje que o governo não comentará a questão antes das eleições.
Borrell salientou na sua declaração que a UE é a favor da resolução do conflito e do estatuto final dos dois Estados, incluindo fronteiras, Jerusalém e refugiados, através de negociações entre israelenses e palestinos, aos quais apelou para que não tomem medidas unilaterais que violem o direito internacional.
Até agora, a UE, tal como a ONU, permaneceu praticamente em silêncio sobre o ‘Acordo do Século’, apenas observando que iria “considerar a proposta”, embora Borrell tivesse dito que era “uma oportunidade para relançar os esforços urgentes necessários para uma solução negociada e viável” para o conflito israelo-palestino.
Reações árabes
O “Acordo do Século” foi rejeitado liminarmente pelos palestinos. O presidente palestino Mahmoud Abbas chamou o plano de “a bofetada do século“.
A maioria dos países da Liga Árabe também já tinha rejeitado o plano, embora alguns, individualmente, o definissem como “uma oportunidade” ou o apoiassem abertamente. A Jordânia expressou sua rejeição da proposta de Trump a Borrell durante uma visita deste último a Amã. A Jordânia e o Egito são os únicos países árabes que assinaram acordos de paz com Israel.
Fonte: Sputnik.