O Tratado de Parceria Estratégica Abrangente fortaleceu os laços de cooperação bilateral entre Moscou e Pyongyang e estabeleceu um marco inédito na Ásia ao constituir uma cláusula de assistência militar mútua entre Rússia-Coreia do Norte, algo que a OTAN mantém desde a Guerra Fria.
De acordo com o Financial Times (FT), o Japão e a Coreia do Sul soaram o alarme sobre o aprofundamento da colaboração militar entre a Rússia e a Coreia do Norte, depois de Vladimir Putin e Kim Jong-un terem assinado um tratado que inclui assistência mútua contra a “agressão” externa, um dispositivo que já é utilizado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) desde a Guerra Fria.
Segundo a apuração, a agência de notícias oficial da Coreia do Norte divulgou nesta quinta-feira (20) o texto do tratado, que incluía a promessa de mobilizar “todos os meios à sua disposição sem demora” para fornecer “assistência militar e outra” no caso de um dos signatários ser invadido ou se encontrar em um estado de guerra, o que estaria de acordo com as leis de ambos os países e com o artigo 51.º da Carta das Nações Unidas sobre o direito à autodefesa dos Estados.
Na quarta-feira (19), Putin saudou o tratado e declarou se opor à prática de aplicação de sanções unilaterais — da qual Moscou tem sido alvo mais fortemente após o início da crise ucraniana — prometendo apoiar Pyongyang para resistir às sanções do Conselho de Segurança da ONU (CSNU), que chamou de “ações ilegítimas” que seguem na contramão da ordem multipolar defendida pela Rússia.
O tratado marcou um dos compromissos mais fortes de Moscou na Ásia, substituindo um tratado da Guerra Fria de 1961 entre a União Soviética e a Coreia do Norte que prometia defesa mútua.
Em meio às acusações do Ocidente de que a Coreia do Norte vem fornecendo munições à Moscou que enfrenta uma guerra por procuração da OTAN na Ucrânia, o aprofundamento dos laços entre os dois países levantou alarmes nos EUA e seus aliados.
O Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Sul disse que a cooperação entre a Rússia e a Coreia do Norte “não deve prejudicar a paz e a estabilidade regionais“, mas manifestou preocupação de que sua cooperação em tecnologia militar viole as resoluções do CSNU.
O secretário-chefe do gabinete do Japão, Yoshimasa Hayashi, também se opôs à parceria, dizendo que Tóquio estava “seriamente preocupada com o fato de o presidente russo Putin não ter descartado a cooperação tecnológica militar com a Coreia do Norte”, chamando atenção para “o ambiente de segurança que rodeia o nosso país e região”.
A visita de Putin, a primeira a Pyongyang em 24 anos, foi seguida pela viagem do líder norte-coreano ao Extremo Oriente da Rússia em setembro. Ao final da visita, o líder russo convidou seu homólogo para fazer uma viagem de volta a Moscou.