O recente discurso de Lindsey Graham alertando que os Estados Unidos perderiam o favor de Deus se abandonassem Israel reacendeu um debate teológico e político no cerne da política externa americana. Falando na Carolina do Sul, Graham declarou que “se os Estados Unidos desligarem Israel, Deus desligará a nós”, enquadrando o apoio ao Estado judeu não apenas como uma necessidade estratégica, mas também como um imperativo bíblico. Ele enfatizou que Israel, apesar das acusações dos críticos, tem agido com moderação em sua guerra contra o Hamas, contrastando a intenção abertamente genocida do grupo terrorista com a contenção moral de Israel.
Graham criticou o uso do termo “genocídio” para descrever a campanha militar de Israel em Gaza, argumentando que o termo é politicamente instrumentalizado. “Se Israel quisesse cometer genocídio, poderia. Eles têm a capacidade de fazer isso. Eles escolheram não fazê-lo”, disse ele. “O Hamas… cometeria genocídio em 30 segundos. Eles simplesmente não conseguem.”
Graham destacou Israel como o aliado mais confiável dos EUA e defendeu enfaticamente o estado judeu como uma força do bem no Oriente Médio.
“Israel não são os bandidos. Eles são os mocinhos. Os bandidos são os islâmicos radicais que matariam todos nesta sala se pudessem”, disse Graham.
Essa linha de argumentação não é nova para Graham, que há muito se posiciona como um dos mais ferrenhos defensores de Israel no Senado. Embora sua formação religiosa pessoal não tenha sido tão discutida quanto a de alguns de seus colegas, sua retórica está impregnada de temas evangélicos que ressoam profundamente entre os cristãos que veem o Israel moderno como o cumprimento da profecia bíblica e como uma nação singularmente abençoada por Deus.
Outros políticos americanos têm defendido a ideia bíblica de abençoar Israel de forma ainda mais explícita. Mike Huckabee, pastor batista e atual embaixador dos EUA em Israel, cita com frequência Gênesis 12:3, onde Deus promete abençoar aqueles que abençoarem Israel e amaldiçoar aqueles que o amaldiçoarem. Para Huckabee, a sobrevivência e a restauração de Israel são provas vivas da concretização das promessas de Deus, e ele tem consistentemente convocado os cristãos a se posicionarem ao lado de Israel como uma questão de fé. Ted Cruz também tem fundamentado sua defesa pró-Israel nas Escrituras, dizendo ao público que os cristãos são ordenados a abençoar Israel e invocando Gênesis 12:3 em debates sobre a política externa dos EUA.
Nem todas as vozes americanas concordam com essa abordagem teológica. Tucker Carlson, em uma troca incisiva com Cruz, pressionou-o sobre se os mandamentos bíblicos para abençoar Israel se aplicam ao Estado-nação moderno. Carlson questionou se o Israel político de hoje deveria ser equiparado ao Israel das Escrituras, argumentando que Cruz estava exagerando o mandato bíblico. Seu ceticismo reflete uma perspectiva que vê Israel na Bíblia como primariamente simbólico ou espiritual, uma postura que ecoa tradições mais antigas da teologia da substituição, ou supersessionismo, que afirmava que a Igreja havia herdado as promessas outrora feitas a Israel.
A teologia da substituição, outrora dominante em grande parte do mundo cristão, sustentava que a aliança de Deus com o povo judeu havia sido anulada e transferida para a Igreja. Essa visão frequentemente alimentava a hostilidade cristã contra os judeus e deslegitimava as reivindicações judaicas à sua terra ancestral. Em contraste, o sionismo cristão, enraizado na teologia dispensacionalista, insiste que as promessas de Deus a Israel permanecem eternas e que os eventos modernos — incluindo o estabelecimento do Estado de Israel — são cumprimentos de profecias.
O embate entre Graham, Huckabee e Cruz, de um lado, e Carlson, do outro, demonstra como essas divisões teológicas continuam a moldar a política americana. Para os evangélicos que veem a Bíblia como um exemplo de apoio a Israel, as palavras de Graham soam como um alerta de que o destino espiritual dos Estados Unidos está vinculado ao tratamento que dispensam ao povo judeu. Para outros que se inclinam para a teologia da substituição, ou pelo menos para uma leitura menos literal das promessas bíblicas, o apoio a Israel é visto como uma escolha política e não como um mandamento divino.
Embora os comentários de Graham ecoem a posição firmemente pró-Israel defendida pelo establishment da política externa do Partido Republicano, alguns no partido, como a deputada Marjorie Taylor Greene (R-SC), pediram maior escrutínio do apoio dos EUA a Israel.
“Essa é uma declaração e tanto e um reconhecimento de que Israel, com armas nucleares, é mais do que capaz de se defender sozinho, e não apenas derrotar seus inimigos, mas eliminá-los completamente!”, escreveu Green no Twitter. “Não acreditamos que iremos para o céu com base em quanto dinheiro doamos cegamente e quantas bombas lançamos sobre o governo secular dos inimigos de Israel”, continuou Greene.
No fim das contas, a declaração de Graham de que Deus “desligará a tomada” dos Estados Unidos se eles abandonarem Israel destaca mais do que apenas uma posição de política externa. Ressalta o poder duradouro das Escrituras na formação do discurso político, o profundo vínculo entre muitos cristãos americanos e o Estado de Israel e as persistentes batalhas teológicas sobre se as promessas a Israel permanecem em vigor hoje.
