Pela primeira vez desde o início da tensão entre Venezuela e Guiana, o presidente venezuelano Nicolás Maduro suavizou o discurso sobre Essequibo e disse que os dois países terão que “sentar e conversar” sobre o território. A declaração foi feita neste sábado (9), em uma publicação no X (antigo Twitter).
“A Guiana e a ExxonMobil terão que sentar e conversar conosco, o Governo da República Bolivariana da Venezuela. De coração e alma, queremos Paz e compreensão (…)”.
A ExxonMobil é uma empresa petrolífera norte-americana e uma das maiores do mundo, que extrai petróleo na Guiana.
A postagem do líder venezuelano foi feita depois de ele conversar com o presidente Lula (PT) por telefone, por volta das 10h deste sábado (9).
“Optamos pelo diálogo direto com a Guiana, mas as suas autoridades revogaram o Acordo de Genebra e começaram a dividir o nosso mar, ameaçando construir uma base militar para o Comando Sul dos EUA. [Mas eles] Não contavam com a nossa astúcia, o Povo saiu em defesa da Guiana Essequiba. Não poderão ignorar a vontade soberana da Venezuela!”, completou Maduro em outro post no X.
A fala vem após o presidente venezuelano realizar – apesar da proibição da Corte Internacional de Justiça – um plebiscito sobre a anexação do território do país vizinho. E, após a votação, divulgar um novo mapa que considera Essequibo como parte do território venezuelano.
Lula fala com Maduro sobre crise
No telefonema com Maduro, o presidente Lula disse estar preocupado com a crise entre os dois países e defendeu o diálogo.
“O presidente Lula transmitiu a crescente preocupação dos países da América do Sul sobre a questão do Essequibo. Expôs os termos da declaração sobre o assunto aprovada na Cúpula do Mercosul e assinada por Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia, Peru, Equador e Chile”, disse o governo brasileiro em comunicado à imprensa.
Onde fica Essequibo e a quem pertence?
Há mais de cem anos que a Venezuela e a Guiana disputam o território de Essequibo, na América do Sul. A região possui área maior que a da Grécia e, desde o fim do século 19, está sob controle da Guiana. Essequibo representa 70% do atual território da Guiana e lá moram 125 mil pessoas.
Tanto a Guiana quanto a Venezuela afirmam ter direito sobre o território com base em documentos internacionais:
- A Guiana afirma que é a proprietária do território porque existe um laudo de 1899, feito em Paris, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Na época, a Guiana era um território do Reino Unido.
- Já a Venezuela afirma que o território é dela porque assim consta em um acordo firmado em 1966 com o próprio Reino Unido, antes da independência de Guiana, no qual o laudo arbitral foi anulado e se estabeleceram bases para uma solução negociada.
As duas sentenças são contraditórias. Segundo Ronaldo Carmona, professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra e pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o problema de Essequibo é um resquício do histórico do colonialismo na região.
O território de Essequibo (na Venezuela, chamado de Guiana Essequiba) é de mata densa e não havia muito interesse econômico na área, mas em 2015, foi descoberto petróleo na região. Estima-se que na Guiana existam reservas de 11 bilhões de barris, sendo que a parte mais significativa é “offshore”, ou seja, no mar, perto de Essequibo. Por causa do petróleo, a Guiana é o país sul-americano que mais cresce nos últimos anos.
O petróleo na região agravou a disputa, porque a Venezuela argumenta que a Guiana está comercializando blocos que não são dela.
Fonte: G1.