O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, ordenou uma “ofensiva final” na capital da região de Tigré, após expirar seu ultimato de 72 horas para que líderes locais dissidentes se rendessem.
O chefe da Comissão Etíope de Direitos Humanos (EHCR, na sigla em inglês) disse hoje (26), que “grande cuidado para evitar danos civis é a maior importância, agora, nesta fase do conflito”, citado no The Guardian.
Em um comunicado publicado nas redes sociais, o primeiro-ministro etíope afirmou que esforços seriam feitos pelas forças governamentais para garantir que a cidade-capital de Mekelle, com uma população de 500 mil, não seja “severamente danificada”.
“Apelamos ao povo de Mekelle e arredores para se desarmar, ficar em casa e longe de alvos militares, [e] fazer a sua parte na redução dos danos sofridos por causa de um punhado de elementos criminosos”, disse Ahmed.
No início desta semana, oficiais militares alertaram que “não [teriam] misericórdia” se os residentes de Mekelle não se distanciassem do partido governante local, a Frente Popular para a Libertação de Tigré (TPLF, na sigla em inglês).
Debretsion Gebremichael, o líder da TPLF, disse na terça-feira (24) que seu povo estava “pronto para morrer” defendendo sua pátria.
Abiy lançou a campanha militar contra a TPLF em 4 de novembro, acusando-a de atacar campos militares na região norte e de tentar desestabilizar o país.
Autoridades em Addis Abeba, capital da Etiópia, descrevem a ofensiva em Tigré como uma “operação de aplicação da lei” com o objetivo de remover líderes rebeldes “traidores” e restaurar a autoridade central. Por outro lado, a TPLF afirma que está defendendo seus direitos legítimos sob o sistema constitucional descentralizado da Etiópia.
Consequências e difícil intervenção humanitária
Até a data, o conflito provocou centenas de mortes (se não milhares) e fez com que cerca de um milhão de pessoas ficassem desalojadas. Pelo menos um massacre ocorreu, com denúncias de atrocidades feitas pelos dois lados.
Com a falha dos esforços de última hora provenientes da União Africana e das Nações Unidas (ONU) para neutralizar a crise, Abiy rejeitou na quarta-feira (25) a “interferência” internacional.
Os bloqueios de viagens são tão severos que mesmo dentro de Mekelle, o Programa Mundial de Alimentos da ONU não conseguiu transportar alimentos de seus armazéns para cidade. Adicionalmente, a mesma ONG relatou pessoas fugindo de Mekelle, mas com o corte nas comunicações, não está claro quantos residentes estão cientes do ataque iminente.
Na verdade, as comunicações e ligações de viagens continuam cortadas com a região do conflito desde seu início e a Human Rights Watch (Observatório dos Direitos Humanos, na tradução) está alertando que “ações que impeçam deliberadamente o fornecimento de ajuda humanitária” violam o Direito Internacional Humanitário.