O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, criticou nesta terça-feira (26) o presidente Lula, chamou-o de antissemita “apoiador do [grupo terrorista] Hamas” e o associou ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Katz foi quem, em 2024, levou o embaixador brasileiro ao museu do Holocausto em Israel, o que foi visto pelo Itamaraty como uma forma de humilhação e acirrou o estremecimento entre os dois países.
As acusações de Katz nesta terça foram feitas em uma publicação nas redes sociais escrita em português e com uma imagem gerada por inteligência artificial de Lula sorridente ligado a cordas de marionete, com Khamenei por trás do presidente brasileiro —como se fosse o controlador da marionete.
“Agora, ele [Lula] revelou sua verdadeira face como antissemita declarado e apoiador do Hamas ao retirar o Brasil da IHRA –o organismo internacional criado para combater o antissemitismo e o ódio contra Israel– colocando o país ao lado de regimes como o Irã, que nega abertamente o Holocausto e ameaça destruir o Estado de Israel. Como Ministro da Defesa de Israel, afirmo: saberemos nos defender contra o eixo do mal do islamismo radical, mesmo sem a ajuda de Lula e seus aliados”, afirmou Katz.
O governo Lula considera que o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, foi humilhado por Israel em meio a uma crise entre os governos brasileiro e israelense no início de 2024. À época, Lula comparou a resposta israelense aos ataques do Hamas com o que Adolf Hitler fez com os judeus no século passado, e como resposta Katz levou Meyer ao Museu do Holocausto, o que foi visto por diplomatas brasileiros como uma forma de humilhação.
A publicação agrava ainda mais a estremecida relação diplomática entre Brasil e Israel, que se complicou desde o início da guerra na Faixa de Gaza. O governo brasileiro é crítico da operação israelense, que causou uma grave crise humanitária entre os palestinos, fome generalizada e até o momento deixou mais de 62 mil mortos, segundo contagem do Hamas verificada pela ONU.
Ao mesmo tempo, o Brasil condenou o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, que deixou mais de 1.200 israelenses mortos, cerca de 250 foram levados reféns e deu início à guerra. O governo brasileiro já deixou claro que não é contra Israel, e sim contra políticas adotadas pelo premiê Benjamin Netanyahu —que também vem recebendo críticas da comunidade internacional pela condução da guerra.
Na segunda-feira (25), o Ministério das Relações Exteriores israelense anunciou que vai “rebaixar” as relações diplomáticas com o Brasil após ter se irritado com o Itamaraty por ignorar a indicação de um novo embaixador em Brasília. O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, respondeu que a indicação não foi ignorada, e acrescentou que “eles humilharam nosso embaixador lá”, referindo-se a Israel.
Relações diplomáticas ‘rebaixadas’
Israel acusa o Brasil de ignorar a indicação, em janeiro, do diplomata Gali Dagan para assumir a embaixada em Brasília. Para exercer a atividade, no entanto, é necessária a concessão de uma autorização do país que o recebe, chamada de “agrément”. Tal autorização é praxe em todas as relações entre países.
Tecnicamente, o Brasil não teria se recusado a conceder o agrément, mas deixou o pedido em análise, sem respondê-lo. Em relações internacionais, a atitude é vista como equivalente a uma recusa.
Israel informou ter retirado a indicação de Dagan e acrescentou que não vai submeter um novo nome ao Itamaraty, declarando que as relações com o Brasil serão conduzidas “em um patamar inferior” diplomaticamente.
“Após o Brasil, excepcionalmente, se abster de responder ao pedido de agrément do embaixador Dagan, Israel retirou o pedido, e as relações entre os países agora são conduzidas em um nível diplomático inferior”, diz um comunicado do ministério.
As informações são do jornal “The Times of Israel”.
O assessor da Presidência e ex-chanceler Celso Amorim diz que a atitude brasileira é uma resposta ao tratamento recebido pelo representante em Tel Aviv, alvo de “humilhação pública” em 2024.
O Itamaraty não comenta o assunto.
‘Não houve veto’, diz Amorim
O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, disse que não houve veto contra Dagan, e que a ausência do agrément é uma resposta ao tratamento recebido pelo ex-embaixador do Brasil.
“Não houve veto. Pediram um agrément e não demos. Não respondemos. Simplesmente não demos. Eles entenderam e desistiram. Eles humilharam nosso embaixador lá, uma humilhação pública. Depois daquilo, o que eles queriam?”, disse Amorim
“Digo e repito: nós queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma coisa absurda o que está acontecendo lá”, afirma Amorim, em relação à ofensiva israelense em Gaza. “Nós não somos contra Israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo, que é uma barbaridade.”
O Brasil retirou em maio de 2024 seu embaixador em Tel Aviv, Frederico Meyer. Desde então, o Itamaraty mantém o cargo vago, sem submeter nenhum nome à aprovação de Israel.
Lula considerado ‘persona non grata’
O comunicado reafirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é considerado “persona non grata” pelo governo israelense. A declaração foi feita em fevereiro de 2024.
“A linha crítica e hostil que o Brasil demonstra em relação a Israel desde 7 de outubro se intensificou a partir do momento em que o presidente Lula comparou as ações de Israel às dos nazistas. Em resposta, Israel ‘o declarou persona non grata'”, afirma a chancelaria.
“O Ministério das Relações Exteriores continua a manter laços profundos com os muitos círculos de amigos de Israel no Brasil”, diz o comunicado.
As relações entre os dois países se encontram estremecidas desde o início do ano passado, quando Lula criticou a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023.
À época, diplomatas ouvidos pela GloboNews avaliaram que o comportamento de Israel em relação a Lula foi “desproporcional”. Meyer iria se reunir com Katz na sede do Ministério das Relações Exteriores israelense, porém foi levado de surpresa ao Museu do Holocausto, algo visto como uma forma de “humilhar” o embaixador e, consequentemente, o próprio Brasil.
Fonte: G1.