Desafiando os medos e oposições internas, e em especial as ameaças islâmicas, o novo ministro israelita para a Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, do partido direitista em coligação governamental, subiu esta manhã ao Monte do Templo por 15 minutos, suscitando uma enorme vaga de protestos e ameaças dos sectores árabes e palestinianos, não só em Israel, como de países como o Egipto, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita.
Esta visita “provocatória” logo no início da nova governação israelita é uma mensagem clara aos inimigos de Israel de que apesar da administração do espaço onde se encontram a mesquita de al-Aqsa e o Domo da Rocha estar nas mãos da Jordânia, todo aquele lugar está inserido no património da Cidade santa de Jerusalém, capital e património do estado de Israel.
A Jordânia já veio condenar esta visita “nos termos mais duros” alegando que se tratou de “uma violação da sua santidade.” Logo de seguida o embaixador israelita em Amman foi chamado para “conversações.” O embaixador Eitan Surkis informou os jordanos que Israel continua comprometido com o status quo prevalecente para o local, e que não tinham existido quaisquer violações aos acordos, tanto mais que outros ministros israelitas já o tinham feito no passado.
O embaixador norte-americano em Jerusalém sublinhou a necessidade de Israel manter o status quo nos lugares sagrados de Jerusalém.
Os Emirados Árabes Unidos condenaram a “intrusão” e a “invasão do pátio da mesquita de al-Aqsa.” Este país do Golfo também apelou ao fim destas “provocações sérias e provocatórias.”
Esta “invasão” foi também condenada nesses termos pelo Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita, numa altura em que se tem vindo a falar cada vez mais sobre a normalização das relações entre os dois países.
O Egipto também “deplorou a invasão da mesquita de al-Aqsa por uma autoridade israelita”, alertando sobre as “repercussões negativas” associadas à mesma.
A Turquia também criticou esta visita, considerando-a como “um acto provocatório do ministro israelita para a segurança nacional.”
Outros países árabes como o Catar e o Barein também condenaram esta visita.
O ministro das Relações Exteriores da Autoridade Palestiniana condenou a visita, classificando-a como “uma provocação sem precedentes e um escalar perigoso do conflito.” O primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana condenou a visita, acrescentando que tais “incursões” eram uma tentativa para “transformar a mesquita de al-Aqsa num templo judaico.”
Vários países europeus, como a França o Reino Unido afirmaram o seu compromisso para com a preservação do status quo no local.
Mas as críticas surgiram também de sectores internos, como do principal rabino sefardita em Israel, Yitzhak Yosef, que lembrou ao ministro da proibição religiosa para se subir ao Monte do Templo, apelando a que não voltasse a fazê-lo para não influenciar o povo de Israel.
Um responsável do gabinete do primeiro-ministro afirmou entretanto que Netanyahu estava comprometido com a “protecção estrita do status quo no Monte do Templo, sem qualquer mudança.”
Este oficial acrescentou que Israel “não se submeterá às directrizes do Hamas”, acrescentando que como parte do estado de status quo vários ministros visitaram o Monte no passado, incluindo o ex-ministro para a segurança pública, Gilad Erdan.
O ministro Ben Gvir não entrou contudo na mesquita. Durante 15 minutos, ele percorreu aquele recinto por volta das 7 da manhã, uma hora em que os judeus têm permissão para subir ao recinto. Ben Gvir já havia visitado este espaço por diversas vezes, mas esta foi a primeira vez em que o fez como ministro.
Muitos palestinianos rejeitam a noção de que este recinto é sagrado para os judeus, sempre acusando os judeus e os sionistas ao longo de um século de planearem destruir a mesquita, substituindo-a por um templo judaico – uma acusação que não corresponde à opinião dos israelitas em geral.
O dia da visita não foi escolhido ao acaso. Esta Terça-Feira – o 10º do mês de Tevet – os judeus jejuam e lamentam os eventos que conduziram à destruição do Templo.
Seja como for, Ben Gvir não se deixou intimidar pelas ameaças: “O nosso governo não se renderá às ameaças do Hamas.” E acrescentou: “O Monte do Templo é o local mais importante para o povo de Israel. Nós preservamos a liberdade de movimentos para judeus e cristãos, mas os judeus também sobem ao sítio, e aqueles que fazem ameaças devem ser tratados com punho de ferro.”
Desde há muito que Ben Gvir tem advogado uma alteração formal do status quo do Monte do Templo, através do qual os muçulmanos podem rezar e entrar com poucas restrições, ao mesmo tempo que os judeus podem apenas visitar o recinto em horas determinadas, entrando por uma única passagem e percorrendo um trajecto previamente planeado e acompanhados de perto pela polícia. Os judeus não têm permissão para orar no recinto, nem exibir símbolos religiosos judaicos ou a bandeira de Israel, embora nestes últimos anos se venha a assistis a grupos de judeus caminhando e orando em silêncio.