Caso a Coreia do Norte retome suas atividades com mísseis nucleares de longo alcance e teste novas armas em 2020, suas Forças Armadas poderão avançar tecnicamente em áreas-chave. Analistas fazem suas apostas sobre quais as novas armas que a Coreia do Norte pode estar desenvolvendo.
Após o fracasso das negociações com os EUA, Kim Jong-un anunciou que não há motivos para seu país manter suspensas as atividades nucleares e de desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais.
As declarações de Kim são um indicativo de que a Coreia do Norte pode retomar seu programa nuclear e de desenvolvimento de mísseis, suspenso desde 2017. Após três encontros bilaterais entre os líderes dos EUA e Coreia do Norte, nenhum resultado concreto foi alcançado.
De acordo com o analista do Centro James Martin de Estudos de Não Proliferação (CNS, na sigla em inglês), Jeffrey Lewis, os programas militares norte-coreanos são tão desenvolvidos que é difícil prever quais as armas que eles irão testar primeiro, reportou a Reuters.
Militares dos EUA, por sua vez, acreditam que os primeiros testes serão de mísseis de longo alcance.
Já a especialista Grace Liu, também do CNS, acredita que Pyongyang poderá realizar o lançamento de satélites, colocar em operação um novo míssil balístico lançado de submarinos ou, ainda, aprimorar seus veículos de lançamento vertical de mísseis.
“Quaisquer testes ou ensaios que eles façam não irão somente permitir mobilizar armas mais rapidamente, mas também capacitar os operadores desses sistemas, que irão adquirir experiência e prática no uso dessas armas”, disse Liu.
Motores de mísseis
Em dezembro, a Coreia do Norte anunciou ter realizado dois “testes importantes” na base de lançamento de Sohae, no contexto do desenvolvimento de uma “nova arma estratégica” para conter as ameaças nucleares dos EUA.
Apesar de a agência de notícias da Coreia do Norte não ter fornecido mais detalhes sobre os testes, Washington e Seul acreditam que Pyongyang testou motores de mísseis, provavelmente desenhados para mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês).
“Eles podem estar trabalhando para desenvolver motores de combustível líquido ou retomando os testes com motores com os quais eles enfrentaram problemas no passado”, disse Ankit Panda, pesquisador sênior da Federação de Cientistas Americanos.
Há quem especule que os norte-coreanos estejam desenvolvendo motores com combustível sólido, que são mais fáceis de estocar e transportar.
Motores de combustível sólido poderiam ser fundamentais para o programa de desenvolvimento de mísseis balísticos lançados de submarinos, similares aos que foram testados em outubro passado.
“Todos os mísseis que eles lançaram em 2019 usavam motores de combustível sólido. Claramente, eles estão preferindo utilizar esses motores, adaptados para armas de diferentes calibres”, explicou Panda.
“É difícil adaptar [motores de combustível sólido] de ICBMs para serem usados em mísseis balísticos submarinos. Mas os norte-coreanos podem revelar descobertas importantes nessa área“, concluiu.
Ogivas nucleares e veículos de reentrada
Um ICBM precisa de veículos de reentrada que os protejam durante sua rápida descida pela atmosfera com destino ao seu alvo.
Desde novembro de 2017, quando a Coreia do Norte lançou o seu mais poderoso ICBM, o Hwasong-15, a mídia estatal disse que o teste havia confirmado “a segurança da ogiva nuclear no momento de reentrada na atmosfera”.
Militares dos EUA acham que essa capacidade não foi claramente demonstrada pela Coreia do Norte, mas não descartaram totalmente essa possibilidade.
De acordo com Ankit Panda, os testes de 2017 podem ter sido fonte valiosa de dados para a construção por Pyongyang de veículos de reentrada funcionais.
No entanto, os testes foram conduzidos em trajetória bastante elevada, o que pode comprometer uma parte dos dados, uma vez que a trajetória do míssil em caso de conflito militar seria bem diferente.
Uma última possibilidade seria o teste de uma arma nuclear na atmosfera. Analistas acreditam, no entanto, que essa hipótese é improvável, uma vez que poderia enfurecer Moscou e Pequim.
Durante o período da moratória, a Coreia do Norte pode ter continuado a acumular material nuclear, assim como fazer pesquisas para reduzir o tamanho de suas ogivas.
Jeong Han, especialista da Universidade Nacional de Defesa da Coreia, acredita que a Coreia do Norte poderá aprimorar suas ogivas nucleares por meio de modelos de computador, evitando, assim, a realização de testes.
Derrotar sistemas de defesa antiaérea
Em 2019, a Coreia do Norte conduziu uma série de testes de mísseis de curto alcance, como o KN-23, cujo objetivo é derrotar os sistemas de defesa antiaérea.
De acordo com Ankit Panda, neste ano, a Coreia do Norte poderá desenvolver veículos de múltipla reentrada para mísseis de maior calibre, como o Hwasong-13.
“Acoplar múltiplas ogivas a um só míssil seria uma maneira mais eficaz de derrotar os sistemas de defesa antimíssil norte-americanos”, explicou Panda. “Caso [os norte-coreanos] estejam inseguros acerca da credibilidade de seus mísseis, mais ogivas aumentam a possibilidade de que, pelo menos, uma delas seja detonada com sucesso”.
A Coreia do Norte tende mais a aperfeiçoar e a produzir as armas que já possui do que desenvolver novas armas, disse o especialista em tecnologia de mísseis Markus Shiller: “Essa nova capacidade poderia ser algo que eles obtenham no exterior”, disse.
Schiller acredita que a Coreia do Norte busca atrair a atenção dos especialistas e políticos estrangeiros, e que uma maneira eficaz de fazê-lo seria adquirindo veículos de deslizamento hipersônicos guiados (HGV), que poderiam voar a velocidades até Match 5 (cerca de 6.174 km/h) e manobrar durante sua trajetória.
“Talvez eles apresentem um modelo de veículo hipersônico guiado, ou lancem um KN-23 com um míssil maior e realizem algumas manobras para dizer que possuem um HGV”, disse Shchiller.”Desta forma, eles poderiam economizar recursos e continuar jogando o jogo no qual entraram nesses últimos anos”, concluiu.
O líder da Coreia do Norte anunciou a intenção de retomar seus programas militares, interrompidos em 2017, após os EUA não fazerem concessões até o prazo estipulado por Pyongyang, que expirou no fim do ano de 2019.
Fonte: Sputnik.