O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou na segunda-feira (28) uma trégua em “todas as hostilidades” na linha de frente na Ucrânia por três dias, de 8 a 10 de maio, enquanto advertia que as forças russas retaliariam “em caso de violação” por parte de Kiev. Também nesta segunda, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, declarou como condição “imperativa” para a paz o reconhecimento internacional da anexação russa da Crimeia e de outras quatro regiões ucranianas.
De acordo com a presidência russa, Vladimir Putin tomou essa decisão “por razões humanitárias” e para marcar o 80º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, que a Rússia está se preparando para comemorar com grande pompa em 9 de maio. “A partir da meia-noite entre 7 e 8 de maio, e até a meia-noite entre 10 e 11 de maio, o lado russo anuncia um cessar-fogo”, disse o Kremlin em um comunicado.
O Kremlin disse que considerava que a Ucrânia “deveria seguir esse exemplo”, ao mesmo tempo em que advertiu que as forças russas “darão uma resposta apropriada e eficaz” no caso de uma violação da trégua.
Vladimir Putin já havia declarado um breve cessar-fogo de 30 horas em 19 e 20 de abril para marcar a Páscoa. Porém, ambos os lados, russo e ucraniano, se acusaram mutuamente de violar a trégua, embora tenha havido uma queda na intensidade dos combates em vários setores, de acordo com soldados ucranianos entrevistados pela AFP.
Interferência dos EUA
O presidente dos EUA, Donald Trump, insta Kiev e Moscou a concluírem um acordo de cessar-fogo e paz, três anos após o início de uma ofensiva russa que já custou dezenas de milhares de vidas civis e militares.
O retorno de Donald Trump à Casa Branca em janeiro marcou um ponto de virada no conflito. Os Estados Unidos, até então o principal apoiador da Ucrânia, querem virar a página o mais rápido possível, mesmo que isso signifique aceitar disposições que sejam muito favoráveis a Moscou, como teme Kiev.
Mas um acordo duradouro parece muito distante, dadas as posições opostas dos dois países. A Rússia mantém suas condições maximalistas em relação à Ucrânia, que deseja render-se e renunciar à adesão à Otan, garantindo ao mesmo tempo que possa manter os territórios ucranianos anexados.
O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, disse ao jornal O Globo na segunda-feira que outra condição “imperativa” para a paz era o reconhecimento internacional da anexação russa da Crimeia e de outras quatro regiões ucranianas. Lavrov definiu, portanto, que o reconhecimento da comunidade internacional seria a condição para qualquer negociação com Kiev, depois que o Kremlin repetiu que estava pronto para conversas “sem pré-condições”.
“O reconhecimento internacional do fato de que a Crimeia, Sevastopol, a República Popular de Donetsk, a República Popular de Lugansk, a região de Kherson e a região de Zaporíjia pertencem à Rússia é imperativo”, disse Sergei Lavrov ao jornal, de acordo com uma tradução russa de sua entrevista divulgada por seu ministério na segunda-feira.
A Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia em março de 2014, o que a comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, nunca havia reconhecido até então.
Em setembro de 2022, alguns meses depois de lançar seu ataque em grande escala, também reivindicou a anexação das outras quatro regiões ucranianas que ocupa parcialmente, Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia.
Rússia está “disposta” a conversar com a Ucrânia?
O chefe do Kremlin acredita que o tempo está a seu favor, com o exército ucraniano lutando na linha de frente e o presidente dos EUA, Donald Trump, cujo país tem sido até agora o principal apoiador de Kiev, determinado a pôr fim às hostilidades o mais rápido possível, mesmo que isso signifique aceitar um acordo desfavorável aos ucranianos.
Diante desse cenário, e apesar de suas exigências serem inaceitáveis para Kiev e seus aliados ocidentais, Vladimir Putin garante, quase que diariamente, que está pronto para negociações de paz. Na segunda-feira, seu porta-voz, Dmitri Peskov, reiterou a “disposição” de Moscou em manter conversações com Kiev. “A disposição do lado russo já foi afirmada muitas vezes pelo presidente (Putin), para iniciar um processo de negociações com a Ucrânia sem pré-condições, a fim de alcançar um resultado pacífico”, disse ele, citado pela agência de notícias estatal russa TASS.
Esse comentário ocorre dois dias depois que Donald Trump expressou dúvidas sobre as reais intenções de Vladimir Putin. “Talvez (ele) não queira parar a guerra e esteja apenas brincando comigo”, escreveu em sua rede social Truth Social. O discurso do Kremlin contrasta acima de tudo com a retórica diária de Vladimir Putin, apoiada por Sergei Lavrov na segunda-feira, segundo a qual somente a derrota da Ucrânia será aceitável para Moscou.
Por sua vez, as forças russas afirmaram na segunda-feira ter abatido 115 drones ucranianos sobre várias regiões russas durante a noite.
Fonte: RFI.