O Prêmio Nobel da Paz de 2024 concedido à organização Nihon Hidankyo, que reúne os Hibakusha, sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, reforça as advertências sobre o risco nuclear feitas pelos cientistas responsáveis pelo Doomsday Clock (Relógio do Apocalipse), que em 2024 manteve-se a apenas 90 segundos da meia-noite, o ponto mais próximo que já esteve do fim simbólico do mundo.
Criado em 1947 pelo Bulletin of Atomic Cientists, que teve Albert Einstein entre seus fundadores, o Relógio do Fim do Mundo é uma forma de chamar a atenção da imprensa e da sociedade para os diversos riscos enfrentados pelo planeta – mas sua origem foi o risco nuclear, foco do Nobel da Paz em 2024.
O presidente do Comitê norueguês do Nobel, Jrgen Watne Frydnes, destacou o papel fundamental da organização japonesa em sua luta incansável por um mundo livre de armas nucleares e em demonstrar, por meio de testemunhos, o horror causado por essas armas.
Frydnes ressaltou que “as armas nucleares nunca mais devem ser utilizadas”, em uma mensagem que ressoa fortemente em um mundo onde as tensões nucleares estão novamente em ascensão, como alertaram os cientistas que marcaram a hora do Doomsday Clock em janeiro deste ano.
Entenda as ameaças mapeadas pelo Relógio do Apocalipse
Em 1945, Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer e cientistas da Universidade de Chicago que ajudaram a desenvolver as primeiras armas atômicas no Projeto Manhattan criaram o Boletim dos Cientistas Atômicos, que dois anos depois lançou o Relógio do Apocalipse para tornar a mensagem de ameaça nuclear mais convincente aos olhos do público.
Eles usaram as imagens do apocalipse representadas pelo horário da meia-noite e a contagem regressiva associada à explosão de uma bomba nuclear como elementos para simbolizar os riscos à humanidade e ao planeta, uma bem-sucedida estratégia de divulgação científica que perdura até hoje, com as notícias sobre a nova hora tomando conta das manchetes segundos após a divulgação.
A primeira hora do Relógio do Apocalipse representava apenas a preocupação com a bomba nuclear. Ao longo dos anos outras ameaças ao futuro do planeta e da humanidade foram incorporadas, mas o Nobel da Paz de 2024 é um sinal de que ela nunca foi superada.
Nobel da Paz em linha com precupação nuclear do Relógio do Apocalipse
Após um ano marcado por recordes de calor, com duas guerras envolvendo potências nucleares e a inteligência artificial ampliando a desinformação, os ponteiros do Doomsday Clock continuaram em 2024 com a simbólica hora do juízo final em 90 segundos para a “meia-noite do apocalipse”.
O Comitê ressaltou este ano o preocupante cenário em que as potências nucleares estão “modernizando e reforçando os seus arsenais”, enquanto novos países aparentam estar buscando adquirir armas nucleares e o uso dessas armas volta a ser cogitado nas guerras em curso.