Os pais e avós de Jung Jik* eram todos cristãos secretos que nunca falaram sobre Deus enquanto ele crescia. Por quê? Porque isso geralmente significa morte na Coreia do Norte. Quando ele era jovem, não achava difícil ser norte-coreano. Pensava que Kim Il-sung, fundador e primeiro líder da Coreia do Norte, fosse o único deus, e os norte-coreanos, as melhores pessoas no mundo.
Ele nasceu nos anos 1960 e, após a irmã morrer, foi viver com a avó materna. “Minha avó era cristã, mas eu nunca soube. Toda manhã, enquanto ela cozinhava arroz, resmungava. Antes de ir dormir, se sentava e resmungava. Eu pensava que era alguma superstição, mas agora sei que eram orações”, conta. A avó não podia falar sobre sua fé porque, na Coreia do Norte, mesmo crianças podem delatar os pais ao governo. Sendo assim, é muito difícil para os adultos contar aos filhos sobre sua fé em Jesus.
Nos anos 1990, durante a Marcha Árdua, quando mais de três milhões de pessoas morreram de fome, a irmã dele foi uma delas. “Muitos corpos ficavam espalhados na rua. A cada cem metros, eu encontrava uma pessoa morta”, conta. Ele sobreviveu roubando comida, mas por causa da falta de alimento, sua família se separou. O pai dele foi o primeiro da família a escapar para outro país atrás de comida, mas quando Jung Jik descobriu, se sentiu traído.
“Eu pensei que ele quisesse comida só para si. Mas em terra estrangeira, meu pai se tornou cristão e depois de algum tempo, foi preso e deportado. O problema não era ele ir para outro país, mas ter se tornado cristão lá”, explica. Os interrogadores sabiam que o pai de Jung Jik tinha se tornado cristão e o torturaram. Quando seus irmãos foram visitá-lo, o pai escreveu nas mãos que era um seguidor de Jesus. Jung Jik acredita que, porque o pai se entregou para Jesus, o resto da família seguiu seu exemplo.
Conhecendo a prisão
Escapar naquela época era relativamente fácil. Então Jung Jik seguiu o caminho de fuga do pai, mas acabou em uma prisão. “Após 20 dias, dei um jeito de fugir. Eu fiquei perto do muro que tinha cerca de 2,5 metros de altura. No topo, havia uma cerca elétrica. Eu encontrei uma madeira e joguei contra a cerca. Sem faíscas. Eu sabia que por causa das faltas de energia, não havia eletricidade. Andei até o canto e, quando o guarda virou, escalei o muro”, explica.
Ele saiu da prisão e cruzou a fronteira pela segunda vez. Desta vez, recebeu cuidado de uma igreja e, pela primeira vez, aprendeu alguns versos bíblicos e o que era oração. “Um dia, o pastor que me ajudou disse que eu precisava ter fé e Deus mostraria seu poder”, conta.
Após algum tempo, Jung Jik foi capturado novamente. Ele estava com muito medo por voltar para a mesma prisão, afinal, tinha escapado há poucos meses. Porém, agora, ele tinha aprendido sobre a Bíblia. “Pela primeira vez na vida, eu realmente orei: ‘Deus, se você existe, por favor me deixe viver!’. Meu coração quase parou quando reconheci o guarda de quando escapei. Orei para que ele não me reconhecesse, mas ele apontou para mim. Felizmente, ele só me escolheu para fazer um trabalho fora da prisão”, disse. Naquela noite, ele disse a Deus: “Se você abrir o caminho, estudarei a Bíblia”, então ouviu uma voz respondendo: “Combinado”.
No dia seguinte, o líder da prisão o chamou para cuidar dos campos de milho, acompanhado de um guarda. Como todos os prisioneiros são presos próximo a suas casas, o guarda disse para Jung Jik ir até sua casa e conseguir um pouco de bebida alcoólica. “Ele me deu uma hora para ir pegar, então eu fugi”, compartilha. Quando saiu da Coreia do Norte pela terceira vez, voltou para a igreja. Agora, ele era um cristão sincero e queria manter sua promessa a Jesus.
O caminho de volta
Ele estudou a Bíblia por alguns anos e o desejo de compartilhar sobre Jesus cresceu em seu coração. Até que, certa vez, um pastor disse que ele voltaria como missionário para a Coreia do Norte. “Eu passei minha vida tentando fugir e agora tinha que voltar. Eu saí como traidor, mas estava determinado a voltar como evangelista”, conta. Ele se preparou para voltar no inverno, quando geralmente o rio da fronteira está congelado. Entretanto, o gelo estava muito fino e ele teve que rastejar sobre o gelo para não o quebrar.
Jung Jik conheceu uma família norte-coreana que pertencia à classe hostil. Após passar dois dias com eles, ouviu a avó, de 73 anos, cantar uma canção que ele conhecia a melodia. Perguntou como ela conhecia aquela canção e, repentinamente, ela se lembrou de que, quando era bem pequena, sua mãe a levou a uma igreja. Isso foi antes da Guerra da Coreia. “Então eu contei a ela sobre minha fé e todos passaram a crer”, disse.
Após alguns dias, ele precisava sair do país porque estava perigoso para todos. Como o inverno estava quase acabando, o gelo já tinha quase terminado de derreter. A família tentou mantê-lo por mais tempo, principalmente por conta do risco da travessia. Porém, Jung Jik pediu à família que orasse, o que eles fizeram durante uma noite toda. No dia seguinte, houve uma neve pesada e um vento muito gelado que congelou todos os riachos e rios. A família foi até ele e disse: “Deus realmente vive!”. Jung Jik perguntou: “Por quê?”. Eles responderam: “Alguns dias atrás, o gelo derreteu. Agora, o rio está completamente congelado! Nós oramos e isso aconteceu!”.
Atualmente, Jung Jik vive na Coreia do Sul, mas seu coração ainda queima pela Coreia do Norte. Ele acredita que está próximo o tempo em que grandes mudanças ocorrerão no país. “Eu acredito que a situação piora antes de melhorar. Devemos lembrar que a noite é mais escura antes do nascer do sol. Hoje, a realidade é mais severa do que no passado. Também soube que Kim Jong-un proclamou outra Marcha Árdua, mas continue orando. Deus usa suas orações. Ainda há uma grande igreja secreta. Por causa da sua oração, muitos são curados e experimentam o poder de Deus, chegando à fé”, explica.
Apoio para ministérios secretos
Graças a seu apoio e suas orações, as portas da Coreia do Norte se abrirão para que mais pessoas conheçam a Jesus. “Se eu tivesse caminhado apenas por um caminho bom, não creria tanto em Deus. O sofrimento é benéfico, por isso creio em Deus. Naqueles tempos difíceis, experimentei a resposta de Deus para minhas orações. Agora sei que Deus é real e quero segui-lo até o fim”, conclui Jung Jik. Sua doação garante casa segura e ajuda emergencial para uma família de refugiados norte-coreanos fugindo da perseguição extrema.