O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou que o exército ucraniano use mísseis de longo alcance contra a Rússia. O uso do armamento é visto pelo presidente russo Vladimir Putin como cruzar uma “linha vermelha”, uma passagem sem volta e com consequências severas.
A decisão americana põe em risco tropas da Coreia do Norte que dão apoio à Rússia em uma região recuperada pelo exército ucraniano, abrindo novas fontes de tensão no conflito. Na Rússia, um parlamentar entende a decisão como um passo para a instalação de uma Terceira Guerra Mundial. Na Ucrânia, no entanto, especialistas militares minimizam a decisão.
O que aconteceu
EUA autorizaram Ucrânia a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia. A decisão, publicada ontem na mídia norte-americana, tem o potencial de aumentar significativamente a capacidade bélica da Ucrânia ao possibilitar ataques mais profundos em território russo.
Forças ucranianas agora têm acesso aos ATACMS (Sistemas de Mísseis Táticos do Exército). Os explosivos têm alcance de até 306 quilômetros. Mais de 200 alvos militares importantes passam a estar sob risco, como bases aéreas, centros de comando e depósitos de munições, segundo o Instituto para o Estudo Sobre a Guerra.
Mísseis agora serão capazes de atingir tropas norte-coreanas na Rússia. O ATACMS permite que os ucranianos atinjam bases com soldados norte-coreanos próximos da região de Kursk —antes ocupada pelo exército russo, mas hoje recuperada pelos ucranianos.
Decisão tenta evitar envio de novas tropas pela Coreia do Norte, diz fonte da Axios. Um especialista consultado pelo site, que prefere se manter anônimo, afirma que as autoridades americanas esperam que, se as tropas norte-coreanas em Kursk forem atingidas, Pyongyang reverá sua decisão de enviar tropas para a Rússia —o que abre a possibilidade de fracassar o contra-ataque russo em Kursk.
Decisão de Biden vem dois meses antes de Donald Trump reassumir a presidência. Durante a campanha, o presidente eleito disse várias vezes que pretendia cortar a ajuda à Ucrânia, e chegou a criticar o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. “Acho que Zelensky é talvez o maior vendedor entre todos os políticos. Toda vez que ele vem ao nosso país, sai com 60 bilhões de dólares”, disse em junho.
Decisão aumenta tensão na região
Putin chegou a dizer que uso de mísseis de longo alcance seria uma “intervenção direta da OTAN”. Em setembro deste ano, ele havia afirmado que a permissão “mudaria substancialmente a própria essência, a natureza do conflito”, e que “os países da OTAN, os EUA e os Estados europeus estão em guerra com a Rússia”.
Rússia classificou hoje a decisão de Biden como “irresponsável e perigosa”. O Kremlin disse ainda que a medida visa “um aumento qualitativo no nível de envolvimento dos Estados Unidos neste conflito”. Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que “a resposta da Rússia neste caso será apropriada e se fará sentir”.
Em setembro, Putin se deu direito de usar armas nucleares caso fosse atacado com armas convencionais. À época, ele alterou a doutrina nuclear da Rússia para estipular que “uma agressão contra a Rússia por qualquer estado não-nuclear, mas com a participação ou apoio de um estado nuclear, seja considerada como um ataque conjunto à Federação Russa”.
Juntos, Rússia e Estados Unidos controlam 88% das ogivas nucleares no mundo. Um levantamento da Federação de Cientistas Americanos estimou que a Rússia possui 5.580 bombas nucleares e os EUA possuem 5.044. A Coreia do Norte, também envolvida na Guerra da Ucrânia, tem 50 bombas nucleares.
Parlamentar russo alertou para risco de nova guerra mundial. Andrei Kartapolov, presidente do comitê de defesa da câmara baixa do Parlamento russo, disse ontem (18) que a decisão é “sem precedentes e muito importante para dar início à Terceira Guerra Mundial. Os americanos o farão por impulso de um ‘velho’ [Joe Biden] que está prestes a deixar o cargo e não será mais responsável por nada em dois meses”.
Especialistas militares ucranianos duvidam de mudança de curso na guerra. O major Volodymyr Omelyan, da Brigada das Forças Armadas da Ucrânia, afirmou à BBC World Service que “os ucranianos estão muito inspirados com as notícias”, e que as ameaças russas de retaliação são “blefe”. “Nada aconteceu. Nada vai acontecer dessa vez também”, disse.
Fonte: UOL.