Cristãos no estado de Manipur, Índia, foram atacados durante conflitos étnicos religiosos entre as tribos meitei e kuki. A partir de 3 de maio de 2023, extremistas hindus aproveitaram a onda de violência para humilhar, agredir e matar ao menos 120 seguidores de Jesus das duas tribos, além de destruírem mil casas, 414 igrejas e 250 vilas. Além disso, a onda de violência obrigou mais de 60 mil cristãos a deixarem suas casas e viverem como deslocados internos em outras partes do país.
Manipur, o maior estado cristão na Índia, já foi conhecido com um estado onde cristãos estavam seguros e a perseguição era baixa. Mas durante os conflitos entre as duas etnias, o governo estadual pró-hindu priorizou a “unidade” e não protegeu nem socorreu os cristãos alvos dos ataques.
Como começaram os conflitos em Manipur?
Os conflitos começaram com um protesto pacífico da tribo minoritária kuki contra a decisão do governo federal de incluir a etnia meitei na lista de povos indígenas. O governo vistoriou o local onde o povo kuki habitava e ordenou que evacuasse a terra cedida pelo governo. O reconhecimento dos meitei como tribo deu ao povo privilégios como novas terras, cotas no serviço público e vagas em universidades.
Pastor meitei e esposa posam na frente da igreja destruída por extremistas hindus
Tanto cristãos meitei quanto kukis foram hostilizados por pessoas de suas próprias tribos. Segundo os habitantes locais, a violência faz parte de um ataque sistemático dos grupos extremistas hindu Arambai Tenggol e Meitei Leepun. Uma multidão formada entre 500 e 700 pessoas saiu por diversas comunidades cristãs atacando os seguidores de Jesus.
Como as autoridades responderam aos ataques aos cristãos em Manipur?
De acordo com a parceira local da Portas Abertas, Priya Sharma*, os governos federal e estadual não se pronunciaram a respeito de restaurar a perda das vítimas da violência em Manipur. “Os materiais de socorro nos campos de deslocados internos são de má qualidade e em quantidade limitada. Os moradores locais culpam o governo pelo fato de que, mesmo meses após o conflito inicial, a violência continuar em Manipur. Pode não ser em uma escala tão grande, mas ainda há relatos de ataques e confrontos.”
O pastor kuki T* contou que sua igreja e o seminário em que trabalha foram incendiados por uma multidão de 500 extremistas meitei. “A polícia não fez nada para interromper o fogo no campus [da universidade local], mas estava ocupada apenas vigiando para que as chamas não atingissem nossos vizinhos”, explica.
Para Priya, a situação pode piorar caso o governo não trabalhe para promover a paz em Manipur: “Haverá ataques mais violentos e continuarão visando os inocentes. As violações dos direitos humanos serão galopantes e as atrocidades contra as religiões minoritárias se agaravarão. Não haverá justiça e os perpetradores serão apoiados”.
O que a Portas Abertas faz pelos cristãos atacados em Manipur?
Após dez dias do início dos conflitos, parceiros locais da Portas Abertas enfrentaram os riscos e foram socorrer os cristãos nas comunidades atacadas. Após a primeira visita, eles avaliaram os prejuízos e prepararam relatórios sobre a situação em Manipur.
Os cristãos que agora vivem em campos de deslocados internos lutam para sobreviver diariamente
Dias depois, os parceiros retornaram ao local com alimento para os cristãos deslocados e providenciaram abrigo seguro, além de oferecerem aconselhamento pós-trauma a cem irmãos na fé afetados pela violência. Até o momento, mais de 1.600 famílias deslocadas foram alimentadas e 200 cristãos que moravam em casas com telhado de zinco também receberam o material para a reconstrução de suas moradias.
“A situação é urgente porque as pessoas que permanecem deslocadas não podem regressar para suas residências. As casas que construíram com anos de trabalho foram totalmente destruídas e queimadas. Elas fugiram da violência e tiveram que morar em diversos locais e não têm fonte de renda”, explica a parceira da Portas Abertas.
A missão de fortalecer os cristãos em Manipur continua. “Nossa visão é promover a unidade dentro da igreja, mas nosso principal objetivo é fortalecer aqueles que permanecem em Cristo. Primeiro, devemos identificar os cristãos deslocados. Queremos capacitá-los e ajudá-los a permanecer fortes apesar das adversidades. Queremos ver a igreja unida em meio a diversas culturas e etnias”, finaliza Priya.
Quem são os cristãos atacados em Manipur?
Raghav* é um dos cristãos sobreviventes dos conflitos em Manipur. Ele estava no mercado comprando comida para a família, quando o local foi atacado por extremistas hindus armados. Ele levou 17 tiros e precisou ser levado para um hospital especializado a quase 12 horas de distância.
Enquanto estava no mercado, o cristão Raghav levou 17 tiros e quase morreu em Manipur
Quando chegaram ao hospital, a família de Raghav não tinha recursos para pagar as despesas com o socorro e o tratamento. As poucas economias que possuíam foram gastas com a ambulância que o levou até o hospital especializado. Os parceiros da Portas Abertas foram contatados e conseguiram pagar as despesas hospitalares, graças às contribuições de nossos parceiros ao redor do mundo.
O cristão voltou para casa, mas demorou para andar e tem pouca força nos braços e nas pernas. No entanto, ele comemora o fato de estar vivo. A mãe de Raghav agradece: “Muito obrigado por trazer ajuda para meu filho. Sei que deve ter sido difícil para vocês virem até nós e prestarem ajuda em meio a toda a violência que está acontecendo. Achei que perderia meu filho para sempre. Mas Deus enviou vocês para nos ajudar e agora o temos de volta”.
União apesar das incertezas
Hoinu* é um dos 41.500 cristãos kuki deslocadas em Manipur. Ela vivia na capital do estado, Imphal, quando os extremistas destruíram casas e igrejas e ocuparam a região. Antes do início dos conflitos, ela recebeu um vídeo no WhatsApp em que um homem ameaçava atacar o povo kuki, juntamente com uma multidão de jovens de camisa preta e motocicletas.
Hoinu só teve tempo de pegar os documentos para fugir da multidão de extremistas hindus
A cristã viu a multidão de extremistas hindus chegar, com 200 a 300 pessoas. A única alternativa foi fugir com a roupa do corpo e os documentos dela, do marido e dos quatro filhos. Eles correram, mas não conseguiram ficar muito distantes dos conflitos e foram acolhidos em uma igreja.
Quando Hoinu viu a multidão furiosa chegar, ela reconheceu o rosto de vários vizinhos e ficou triste por isso. Hoje, ela vive separada da família em um dos campos de deslocados, seus filhos não vão mais à escola e não há possibilidade de voltar para seu vilarejo.
A cristã kuki se apega a Deus em oração e na leitura da Bíblia, juntamente com seus irmãos na fé, para permanecer firme em Jesus. Eles têm dois momentos diários de adoração e comunhão no campo de deslocados, nos quais seguidores de Jesus de diferentes denominações aprenderam a conviver em paz. “Sempre que leio a Bíblia, tenho a certeza de que Deus está planejando algo bom para nós. Confio em Deus e minha esperança é que Deus nos ajude, Deus nos guie. Então lembrem-se de nós em suas orações”, pede Hoinu.
Como apoiar os cristãos atacados em Manipur?
Agora, a luta diária dos cristãos em Manipur é pela sobrevivência, até que os conflitos cessem e eles possam retornar para suas casas e comunidades. No campo de deslocados, eles precisam de alimentação, produtos de higiene, medicamentos, roupas, cobertores e outros itens de necessidade básica.
“Quando conheci os cristãos em Manipur, eles sentiram uma sensação de segurança sabendo que há pessoas que oram por eles. Como corpo de Cristo, devemos ouvir e apoiar a luta contra as injustiças do governo e dos extremistas. Eles não se sentem sozinhos, apesar de saber que os irmãos na fé estão longe. Sentiram o cuidado de Deus por meio da ajuda dos nossos parceiros e apoiadores, e que Deus está com eles, está atento à situação deles e envia ajuda ao seu povo”, finaliza Priya.
*Nomes alterados por segurança.
Socorra cristãos em Manipur
A realidade dos cristãos no estado de Manipur é desafiadora, como família na fé, temos a missão de socorrê-los em suas necessidades. Faça uma doação e permita que nossos irmãos e irmãs tenham acesso a comida, água e outras necessidades básicas.