Os confrontos entre militares do Azerbaijão e da Armênia, na região do Cáucaso, já deixaram ao menos 17 pessoas mortas de ambos os lados desde que, em 12 de junho, recomeçaram as hostilidades entre os dois países arqui-inimigos.
O descongelamento do conflito provocou múltiplas brigas entre representantes dos dois povos em diversos lugares do mundo.
A Sputnik explica as raízes desse conflito, bem como o papel dos envolvidos e possíveis consequências e soluções.
Quatro soldados azeris foram mortos na fronteira entre as duas antigas repúblicas soviéticas na segunda-feira (13), causando uma retaliação na qual o Azerbaijão destruiu um posto avançado militar da Armênia. Os dois países vivem tensões por disputas étnicas e territoriais desde o fim da União Soviética, em 1991.
Os confrontos mais recentes ocorreram na quinta-feira (23), na fronteira entre o Azerbaijão e a Armênia, depois que as repúblicas ex-soviéticas não conseguiram chegar a um consenso no que diz respeito à litigiosa região fronteiriça de Nagorno-Karabakh.
Influência de Nagorno-Karabakh
As recentes tensões na região ocorrem após comentário do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, que teria ameaçado cessar as negociações de paz com a Armênia sobre Nagorno-Karabakh, afirmando que o país poderia buscar “uma solução militar para o conflito”.
Apesar dos confrontos serem frequentes na região, os combates na fronteira entre os dois países são raros.
Armênia e Azerbaijão travam conflitos desde o início dos anos 1990 pelo controle de Nagorno-Karabakh, também conhecido como Artsakh, território localizado em uma região montanhosa no Cáucaso do Sul, entre o mar Negro e o mar Cáspio, que é um enclave de maioria armênia no Azerbaijão.
A fronteira Armênia-Azerbaijão é formada por dois trechos paralelos ao longo dos seus 787 quilômetros, sendo 221 quilômetros a sudeste da Armênia, entre duas fronteiras tríplices, Azerbaijão-Armênia-Turquia e Azerbaijão-Armênia-Irã, e 566 quilômetros de norte ao sudoeste da Armênia, entre duas fronteiras tríplices Azerbaijão-Armênia-Geórgia e Azerbaijão-Armênia-Irã, marcada pelas montanhas do Cáucaso.
A região proclamou sua independência unilateralmente em 1991, com o apoio da Armênia, iniciando uma guerra com o Azerbaijão, que resultou na morte de aproximadamente 30 mil pessoas até um cessar-fogo em 1994.
Retrospectiva e raízes do conflito
A região, historicamente, sempre foi marcada por intensa disputa entre os cristãos armênios e os azeris muçulmanos xiitas, que povoam em conjunto a região de Nagorno-Karabakh, um enclave reconhecido internacionalmente como pertencente ao Azerbaijão, mas controlado por armênios apoiados pelo governo de Erevan.
No século XIX começaram a surgir os sinais de um confronto mais violento, quando a área foi anexada ao Império Russo e, posteriormente, à União Soviética.
No entanto, quando a União Soviética começou a se desintegrar, na década de 80, surgiram os primeiros desentendimentos entre Armênia e Azerbaijão, tornando a situação cada vez mais intensa e violenta, já que houve a adesão do parlamento da região à Armênia devido à identificação étnico-religiosa dos grupos de população.
A Rússia, então, ajudou a negociar um cessar-fogo na região, firmando o acordo em 1994, no qual as forças armênias ficaram com o controle de Nagorno-Karabakh, além de ocupar alguns exclaves do Azerbaijão.
Contudo, em 2016 a situação voltou a ficar tensa, com as tropas de ambos os países e os separatistas de Nagorno-Karabakh travando um intenso confronto, acabando o cessar-fogo de mais de 20 anos.
Forças envolvidas no conflito
Em decorrência dos confrontos na região, o Departamento de Estado norte-americano condenou a violência na fronteira entre os dois países e apelou para que os dois lados “parassem imediatamente com o uso da força” e que “retomassem os canais de comunicação para evitar uma escalada de tensão”.
Assim como Washington, Moscou também demonstrou “preocupação” com a escalada de tensão, considerando-a “inaceitável” e apelando para que os dois lados retomassem as negociações, demonstrando disponibilidade para mediar o conflito.
Além disso, os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, discutiram em conversa telefônica a tensão entre Azerbaijão e Armênia na segunda-feira (27), momentos depois de o Ministério da Defesa do Azerbaijão anunciar exercícios militares por terra e ar em conjunto com a Turquia, que é o grande aliado do Azerbaijão, assim como a Rússia é da Armênia.
A União Europeia (UE) também se manifestou, incentivando ambos os países a terminarem com os “confrontos armados”. O alto representante da UE para a Política Externa, Josep Borrel, incentivou a Armênia e o Azerbaijão a terminarem os “confrontos armados” entre os dois países e a atuarem de forma a evitar a escalada do conflito.
Disposição atual
As Forças Armadas da Armênia, violaram nas últimas 24 horas por 38 vezes o cessar-fogo em diferentes setores da frente, segundo comunicado do Ministério da Defesa do Azerbaijão, citado pelo portal Notícias ao Minuto.
Apesar da violação do cessar-fogo, não há informações de baixas sofridas ao longo da fronteira.
Além disso, na noite de 27 para 28 de julho, apesar de o cessar-fogo ser violado 17 vezes, com 220 tiros disparados contra posições armênias, a situação na fronteira foi relativamente calma, segundo a porta-voz do Ministério da Defesa da Armênia, Shushan Stepanian, em uma mensagem publicada no Facebook.
Enquanto isso, os conflitos ecoam no cenário internacional. Em Moscou, azeris impediram caminhões armênios de entrar no mercado alimentício, criando uma briga generalizada que resultou na prisão de 50 azeris.
Na Ucrânia, azeris atearam fogo a dois cafés armênios, não tendo o incidente deixado vítimas. A União dos Armênios da Ucrânia condenou as ações.
Além disso, armênios realizaram protestos na França, Bélgica, bem como nos Países Baixos e EUA, contra atitudes hostis dos azeris e pelo fim da violência.
O Azerbaijão, que reforçou a capacidade militar do país nas últimas décadas, reiterou sua determinação em retomar a região de Nagorno-Karabakh pela força.
Por sua vez, a Armênia reafirmou o desejo de defender o território, que proclamou a independência e, entretanto, depende do governo de Erevan.
Solução para o conflito
Após tantos anos de conflitos, uma solução parece ser algo difícil de acontecer, com o Azerbaijão defendendo que a solução para encontrar uma saída para o desentendimento com a Armênia passa por uma libertação dos territórios ocupados, ideia que foi apoiada por diversas resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
Por sua vez, a Armênia, defende o direito à autodeterminação de Nagorno-Karabakh, além de defender a participação dos representantes do território disputado nas negociações sobre uma solução para o conflito.
Enquanto isso, Rússia, EUA, UE e ONU pedem para que ambos os países encontrem uma solução pacífica retomando as negociações, ressaltando a importância de impedir qualquer tipo de ação que eleve a tensão no Cáucaso através de uma “desescalada completa e imediata”.