Cerca de 1,2 mil membros das Brigadas Al-Qassam irromperam as fronteiras da Faixa de Gaza e entraram em Israel nos ataques do Hamas em 7 de outubro. O grupo, que é considerado o braço militar da organização extremista, é liderado por Mohammed Deif e tem atualmente sob seu poder mais de 200 reféns em Gaza.
Fundação e atuação das Brigadas Al-Qassam
As Brigadas Al-Qassam foram fundadas em 1992. Segundo registros da CIA, elas possuem entre 20 mil e 25 mil membros, embora esses dados sejam impossíveis de serem verificados de maneira independente.
O nome remete ao clérigo Izz ad-Din al-Qassam, nascido na Síria em 1882. Ele era um reformista social que se convenceu de que a única maneira de expulsar os colonizadores europeus do Oriente Médio seria através da violência. Ele foi morto pela polícia britânica em 1935.
As Brigadas também estão envolvidas na construção da extensa rede de túneis sob Gaza. No passado, a estrutura foi utilizada para realizar ataques em Israel: em 2006, por exemplo, integrantes do Hamas usaram os túneis para sequestrar o soldado israelense Gilad Shalit próximo à fronteira.
O grupo também já conseguiu atacar Israel por mar. Em 2014, durante uma operação de sete semanas realizada pelo Exército israelense, quatro membros do Hamas nadaram até a costa e atacaram um tanque de Israel, sendo mortos em combate com soldados locais.
Liderança ‘obscura’
Líder vive escondido. O líder atual do grupo, Mohammed Deif, é com frequência descrito como um líder “obscuro” e vive escondido há duas décadas — seu nome está no topo da lista dos mais procurados por Israel. Já o vice-líder do braço político do Hamas, Saleh al-Arouri, é também um dos fundadores das Brigadas Al-Qassam e vive há mais de dez anos no exílio.
Acredita-se que Deif, que lidera as brigadas Al-Qassam desde 2002, estaria por trás dos principais ataques em solo israelense. Também é especulado que ele esteja bastante debilitado fisicamente depois de ter sido alvo de várias tentativas de assassinato por parte do Exército de Israel.
Laços com Irã e Hezbollah
Por serem parte do Hamas, as Brigadas Al-Qassam também recebem apoio financeiro e estratégico do Irã. “A República Islâmica do Irã […] contribuiu muito, por um lado, ao transferir conhecimento e expertise e, por outro, ao transportar foguetes, ajudando o Hamas a depender de suas capacidades locais para produzir essas tecnologias avançadas”, afirmou Khaled Qaddoumi, considerado um elemento de ligação entre o Hamas e o governo iraniano, à revista AI Monitor em 2021.
Esse apoio do Irã aumentou nas últimas décadas, afirma Michael Milshtein, ex-integrante da inteligência militar de Israel e atual pesquisador do Centro Moshe Dayan para Estudos do Oriente Médio e Africanos da Universidade de Tel Aviv. À DW, ele disse que o Irã ajuda a treinar os membros das Brigadas Al-Qassam: “atiradores, armadilhas e paraquedistas e tudo o que enfrentamos em 7 de outubro”.
Milhões entregues ao Hamas. Milshtein avalia que o governo iraniano teria influência nisso. “Estamos falando de enormes somas de dinheiro que o Irã entrega ao Hamas, principalmente ao seu braço militar”, disse o israelense. Ele acredita que somente nos últimos dois ou três anos, esse total chegaria a 100 milhões de dólares (R$ 500 milhões).
É possível que as criptomoedas também tenham ajudado a financiar as Brigadas Al-Qassam. Já em 2019, o grupo pedia a seus apoiadores através do Telegram o envio de doações utilizando bitcoins. Após os ataques de 7 de outubro, inclusive, as autoridades israelenses anunciaram o congelamento de várias contas em criptomoedas associadas ao Hamas com a justificativa de que o grupo havia feito pedidos de doações através das redes sociais.
Apoio do Hezbollah. Em 2019, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos publicou nomes de pessoas do Líbano e de Gaza que eram consideradas “facilitadores financeiros” e “intermediários críticos” que trabalhariam para conectar o Irã e as Brigadas Al-Qassam. Segundo Washington, o grupo islamista Hezbollah, com sede no Líbano, também teria desempenhado um papel nesse processo.
De onde vêm os armamentos?
Armas contrabandeadas por terra, mar ou de modo subterrâneo. Muitas dessas armas são contrabandeadas para a Faixa de Gaza com a ajuda do Hezbollah ou através da Síria, afirma Milshtein. O Instituto Jerusalém de estratégia e Segurança menciona uma entrevista dada por Ziad al-Nakhalah, secretário-geral do grupo palestino Jihad Islâmica. Ao Al Mayadeen, sediado no Líbano e simpático ao Irã, ele confirmou que as armas convencionais chegam ao grupo principalmente através do Hezbollah e da Síria, e que todos os membros do chamado “eixo da resistência” teriam participação nisso —em referência à rede de grupos que o Irã apoia no Oriente Médio de modo a avançar seus objetivos, que incluem políticas anti-Israel e anti-EUA.
Escudos humanos. Segundo o Centro Begin-Sadat de Estudos Estratégicos em Israel, as Brigadas Al-Qassam usam civis como escudos humanos para proteger seu arsenal e seus combatentes. Esta, segundo os pesquisadores, seria uma estratégia sugerida pelo Irã adotada de maneira proposital. Os analistas dizem que o objetivo seria transmitir uma imagem negativa de Israel, como se as forças israelenses estivessem agindo de modo proposital e desproporcional ao fazer vítimas civis.
Estoques de munição e números desconhecidos. A quantidade e variedade de armas utilizadas nos ataques de 7 de outubro, assim como o lançamento de morteiros contra o território israelense, indicam que as Brigadas ainda possuem estoques de munição. O número exato de projéteis, no entanto, é desconhecido.
Fonte: DW.