A ONU afirmou nesta terça-feira (29) que a Solução de Dois Estados é “único caminho” para paz entre Israel e Palestina e planeja uma missão internacional na Faixa de Gaza após um cessar-fogo ser estabelecido na guerra entre israelenses e o grupo terrorista Hamas.
Em documento divulgado nesta terça, a Conferência Internacional da ONU afirmou que Gaza e Cisjordânia devem ser unificadas e, junto com Jerusalém Oriental, compor uma Palestina soberana e governada pela Autoridade Palestina, assim como delineado em resolução da ONU de 1947.
A declaração é assinada pelos líderes rotativos da Conferência — França e Arábia Saudita — e por vários outros países, como Brasil, Reino Unido, Japão, Itália, Egito, Jordânia, Canadá, além de blocos como a União Europeia e a Liga dos Países Árabes.
O grupo da ONU também afirmou que um comitê de transição de poder deverá ser estabelecido imediatamente após um cessar-fogo em Gaza, e que o Hamas terá que aceitar se desarmar.
A Conferência internacional também reiterou exigências pelo fim imediato da guerra em Gaza e pela retirada total das tropas israelenses do território palestino, além de condenar Hamas e Israel por crimes contra civis em Gaza.
O encontro foi criticado pelos Estados Unidos, que chamou a conferência de “golpe publicitário”.
“Longe de promover a paz, a conferência prolongará a guerra, encorajará o Hamas, recompensará sua obstrução e minará os esforços reais para alcançar a paz”, disse a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Tammy Bruce.
Israel também rejeita a solução de dois Estados. No dia 7 de julho, ao lado de Donald Trump, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que a criação da Palestina seria uma plataforma para destruir o Estado israelense.
“Vamos buscar a paz com os nossos vizinhos palestinos, aqueles que não querem nos destruir, e vamos buscar uma paz em que a nossa segurança — o poder soberano da segurança — permaneça sempre em nossas mãos”, disse Netanyahu.
“Agora as pessoas vão dizer: ‘Não é um Estado completo, não é um Estado, não é isso ou aquilo.’ Nós não nos importamos.”
A declaração
O documento é dividido em 42 itens, organizados em quatro temáticas. Confira a seguir os principais destaques.
▶️ Fim da guerra em Gaza
Apoio aos esforços de Egito, Catar e EUA para restaurar o cessar-fogo.
Libertação de todos os reféns, troca de prisioneiros, retirada total das forças israelenses.
Condenação de ataques contra civis por Hamas e Israel.
Entrega segura e irrestrita de ajuda humanitária.
Desarmamento do Hamas com apoio internacional.
Unificação de Gaza com a Cisjordânia, com Autoridade Palestina responsável pela governança.
▶️ Soberania da Palestina e convivência pacífica com Israel
Apoio à criação de um Estado Palestino soberano, democrático e economicamente viável.
Compromisso com reformas internas da Autoridade Palestina.
Realização de eleições democráticas em até um ano.
Rejeição da militarização do futuro Estado Palestino.
Fim das tentativas de Israel de anexar territórios no Território Palestino Ocupado, incluindo Jerusalém Oriental.
▶️ Preservação da solução de dois Estados
Condenação de assentamentos ilegais, anexações e deslocamentos forçados.
Apoio a medidas restritivas contra extremistas e apoiadores de ações ilegais.
Defesa do status histórico dos locais sagrados em Jerusalém.
▶️ Integração regional e fim do conflito
Paz entre Israel e Palestina como pré-requisito para integração regional.
Apoio a negociações paralelas entre Israel-Síria e Israel-Líbano.
Proposta de uma arquitetura regional de segurança, com a criação de um bloco de países.
Preparação para um futuro “Dia da Paz”, com benefícios econômicos e sociais para toda a região.
Segundo o documento, os próximos passos incluem a criação de um mecanismo internacional de acompanhamento, que será liderado por França e Arábia Saudita. Também está prevista a implementação de um plano de ação concreto e com prazo definido.
Reino Unido e França pressionam Israel
Homens caminham carregando sacos de farinha que foram retirados de um caminhão que transportava alimentos, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 22 de julho de 2025 — Foto: AFP
Homens caminham carregando sacos de farinha que foram retirados de um caminhão que transportava alimentos, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 22 de julho de 2025 — Foto: AFP
O Reino Unido sinalizou nesta terça-feira que reconhecerá o Estado Palestino em setembro, segundo o gabinete do premiê britânico, Keir Starmer. Em comunicado, o governo britânico afirmou que reverteria sua decisão caso Israel assuma determinados compromissos, considerados improváveis.
Segundo o gabinete de Starmer, as condições que o governo israelense teria que cumprir para que o Reino Unido repense o reconhecimento da Palestina são:
- adotar medidas significativas para acabar com a “situação terrível” em Gaza —que enfrenta “pior cenário possível de fome”, segundo a ONU;
- chegue a um acordo com o grupo terrorista Hamas para um acordo de cessar-fogo no conflito;
comprometa-se a não anexar a Cisjordânia; - comprometa-se a processo de longo prazo que leve à solução de dois Estados.
Há menos de uma semana, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou que reconhecerá o Estado Palestino em setembro, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU. Com isso, a França se tornaria a primeira grande potência ocidental a fazê-lo.
“Estamos determinados a proteger a viabilidade da solução de dois Estados e, por isso, reconheceremos o Estado da Palestina em setembro, na Assembleia Geral da ONU, a menos que o governo israelense tome medidas concretas para encerrar a terrível situação em Gaza e se comprometa com uma paz duradoura e sustentável, incluindo permitir que a ONU retome imediatamente o envio de ajuda humanitária à população de Gaza para pôr fim à fome, concordar com um cessar-fogo e deixar claro que não haverá anexações na Cisjordânia”, afirmou o comunicado.
Ainda segundo o gabinete de Starmer, apesar das condições impostas a Israel, as exigências feitas ao Hamas permanecem: libertação dos reféns israelenses; assinatura um cessar-fogo; abrir mão de governar Gaza, e desarmamento.
O anúncio de Starmer ocorre após pressão do Parlamento britânico pelo reconhecimento da Palestina. A medida deve receber críticas do governo israelense de Benjamin Netanyahu, assim como Macron.
Atualmente, 146 países reconhecem o Estado Palestino, entre eles o Brasil. Antes de França e Reino Unido, o movimento mais recente de reconhecimento havia sido feito por Espanha, Noruega e Irlanda, em 2024.
Os anúncios de Starmer e de Macron ocorrem em um momento de aumento de críticas a Israel por conta da crise humanitária sofrida pelos palestinos de Gaza, consequência da guerra que o governo israelense trava com o grupo terrorista Hamas no território há 21 meses. Relatos de fome extrema e generalizada no enclave se tornaram mais frequentes, e pessoas estão morrendo de fome.
A guerra em Gaza começou após o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, que matou mais de 1.200 israelenses e outros 250 foram feitos reféns. Desde então, o conflito matou mais de 60 mil palestinos, a maioria crianças e mulheres, segundo levantamento do Ministério da Saúde de Gaza —controlado pelo Hamas— corroborado pela ONU.
Fonte: G1.