O secretário-geral da ONU, António Guterres, e o Papa Francisco fizeram alertas sobre as mudanças climáticas em meio aos últimos dias de negociações da conferência das Nações Unidas sobre o clima, a COP26. O evento, que ocorre em Glasgow, na Escócia, até esta sexta-feira (12), reúne quase 200 países para definir medidas de combate ao aquecimento global.
Guterres afirmou, nesta quinta-feira (11), que a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2100 “ainda está ao alcance, mas respira por aparelhos” com as tratativas em Glasgow. Desde os tempos pré-industriais, a Terra já aqueceu 1,1ºC.
Ele acrescentou, entretanto, que, “até o último momento, a esperança deve ser mantida. É o momento de chegar a um acordo aumentando a ambição em todas as áreas: mitigação, adaptação e financiamento de forma equilibrada”.
Em entrevista à agência de notícias americana Associated Press, ele disse que as negociações “estão em um momento crucial” e precisam realizar mais do que garantir um acordo fraco que as nações participantes concordem em apoiar.
“O pior seria chegar a um acordo a todo custo por um denominador comum mínimo que não respondesse aos enormes desafios que enfrentamos”, afirmou o chefe da ONU.
Novos rascunhos dos documentos sobre a regulamentação da cooperação internacional para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, incluindo a seção de mercados de carbono, foram lançados durante a noite de quarta (10). Também havia novas propostas contendo opções para avaliar e rastrear ajuda financeira para países em desenvolvimento.
As nações pobres têm insistido que não apoiarão nenhum acordo que deixe de atender às suas necessidades de fundos para ajudar a reduzir as emissões e se adaptar às consequências do aquecimento global.
‘Tempo está se esgotando’, diz Papa Francisco
Em uma carta divulgada pelo Vaticano no dia 9, o Papa Francisco alerta que “o tempo está se esgotando” para salvar o planeta.
“Imploremos os dons de sabedoria e força de Deus para aqueles que têm a responsabilidade de guiar a comunidade internacional enquanto procuram enfrentar este grave desafio com decisões concretas, inspiradas na responsabilidade para com as gerações presentes e futuras. O tempo está se esgotando; esta ocasião não deve ser desperdiçada”, escreveu o pontífice (veja íntegra da carta ao final desta reportagem).
Francisco também lamentou não ter podido participar da COP26, como esperava. No fim de outubro, ele havia lembrado “aos que tomam as decisões políticas” que estavam “convocados em caráter de urgência a apresentar respostas eficazes à crise ecológica atual”.
Veja íntegra da carta:
“CARTA DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA OS CATÓLICOS DA ESCÓCIA
Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Como vocês sabem, eu esperava participar da reunião da COP26 em Glasgow e passar algum tempo, ainda que brevemente, com vocês. Lamento que isso não tenha sido possível. Ao mesmo tempo, me agrada que hoje vocês se reúnam na oração pelas minhas intenções e pelo resultado frutífero deste encontro que visa abordar uma das grandes questões morais do nosso tempo: a preservação da criação de Deus, dada a nós como um jardim a ser cultivado e como um lar comum para nossa família humana.
Imploremos os dons de sabedoria e força de Deus para aqueles que têm a responsabilidade de guiar a comunidade internacional enquanto procuram enfrentar este grave desafio com decisões concretas, inspiradas na responsabilidade para com as gerações presentes e futuras. O tempo está se esgotando; esta ocasião não deve ser desperdiçada, para que não tenhamos que enfrentar o julgamento de Deus por nossa falha em ser administradores fiéis do mundo que ele confiou aos nossos cuidados.
Celebramos hoje a festa da Dedicação da Basílica de Latrão, que, como Catedral do Bispo de Roma, simboliza a comunhão da Igreja na fé e na caridade com a Sé de Pedro. É para mim profundamente comovente que neste dia possa expressar-lhes, e a todos os católicos da Escócia, o meu afeto no Senhor e o meu encorajamento a perseverar na sua comprovada fidelidade ao Senhor e à sua Igreja. Saúdo cada um de vocês de coração e lhes asseguro as minhas orações por vocês e pelas suas famílias, pelos jovens, pelos idosos, pelos enfermos e por todos aqueles que de alguma forma sofrem as consequências da pandemia.
Peço-lhes, de modo particular, que rezem por mim e pelos meus irmãos bispos nesta festa da nossa comunhão no serviço do Evangelho e na construção da unidade da Igreja. Nestes tempos desafiadores, que todos os seguidores de Cristo na Escócia renovem seu compromisso de serem testemunhas convincentes da alegria do Evangelho e seu poder de trazer luz e esperança a todos os esforços para construir um futuro de justiça, fraternidade e prosperidade, tanto material quanto espiritual.
Com estes sentimentos, queridos irmãos e irmãs, asseguro-lhes uma vez mais a minha oração por vocês e pelas suas famílias, e pelas suas paróquias e comunidades. Louvo todos vocês à amorosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja, de bom grado concedo minha bênção como penhor de alegria e paz duradouras no Senhor.
Roma, São João de Latrão, 9 de novembro de 2021″
Fonte: G1.