Este não é o primeiro exercício da Aliança Atlântica nos dois países europeus em 2020. Um especialista russo comenta que se trata de uma forma de justificar sua “retórica agressiva contra a Rússia”.
A OTAN iniciou na terça-feira (1º) exercícios militares na Alemanha e Itália, cujo objetivo é “demonstrar a prontidão e interoperabilidade da OTAN nos domínios do ar, terra, água, ciberespaço e espaço exterior”, indica comunicado da Aliança Atlântica.
Estas manobras, chamadas Steadfast Jupiter-Jackal 2020, que decorrerão na Alemanha e Itália até 10 de dezembro, serão os primeiros grandes exercícios a ter em conta o objetivo de proteger a população civil.
“[…] É um exercício de posto de comando/assistido por computador a nível estratégico, operacional e tático de operação de resposta a crise em área externa, fora do Artigo 5 [da OTAN, que obriga cada Estado-membro a acorrer em ajuda contra o ataque a outro membro da aliança]”, disse John Watson, comandante da ala aérea da Força Aérea Real do Reino Unido, e responsável pelos exercícios militares.
“Com este exercício, pretendemos proporcionar o melhor treinamento possível aos aliados e parceiros da OTAN em um cenário de segurança em constante mudança”, apontou.
Mostrar prontidão ‘aos adversários potenciais’
Na opinião de Andrei Koshkin, membro da Academia de Ciências Militares da Rússia, trata-se de “manobras complexas, multinível e multivetoriais”.
“Estamos falando do conceito de guerra centrada em rede, na qual as cinco esferas estão entrelaçadas: água, terra, ar, ciberespaço e espaço exterior. A OTAN pretende treinar a coordenação em todas essas áreas”, disse o especialista.
“[…] Os militares do bloco [militar] nem sempre são capazes de agir de forma coordenada e eficaz, portanto, é muito importante que a OTAN crie mecanismos de interação dentro da aliança em condições de hibridização de conflitos e conjuntura em constante mudança”, refere Nikita Danyuk, vice-diretor do Instituto de Estudos e Previsões Estratégicos da Universidade Russa da Amizade dos Povos.
Danyuk também notou que o objetivo proclamado de conduzir exercícios fora do âmbito do Artigo 5, ou seja, simular combates em territórios fora dos Estados-membros, é uma forma de testar a capacidade de combater de maneira fragmentada contra um adversário com potencial semelhante ao da OTAN e demonstrar unidade na área militar, mesmo com desacordos políticos existentes no bloco.
À coalizão é importante “mostrar aos adversários potenciais, principalmente à Rússia, que a aliança está pronta para um conflito hipotético”, afirma.
“Nós vemos que a constante retórica agressiva contra a Rússia, que é expressa pelo Ocidente, é infundada. A aliança é obrigada a fundamentar esta linha de política externa com algumas ações. Muitas vezes são as manobras [militares] que vem ajudar nisso”, concluiu o especialista.
Operações da OTAN
Em 2020 a Aliança Atlântica já conduziu exercícios aéreos e navais Dynamic Manta na Sicília, Itália, entre 24 de fevereiro e 6 de março, com a participação de nove Estados-membros.
A Alemanha também foi palco em setembro de exercícios aéreos Spartan Warrior 20 na Base Aérea de Ramstein. No mesmo mês, oito países participaram com 3.500 militares de exercícios de colaboração internacional nas bases aéreas dos EUA em Hohenfels e Grafenwoehr, Baviera.
O país europeu também deve albergar os exercícios ALLIED SPIRIT 21 entre 12 de janeiro e 6 de fevereiro de 2021, bem como os SPARTAN ALLIANCE 21-1 entre 1º e 28 de fevereiro, cujo objetivo é “fornecer aos parceiros da coalizão uma conexão permanente com a Rede Combinada de Laboratórios de Batalha Federada (CFBL-Net) para treinamentos diários”.