Quando Moshen* deu uma Bíblia para Simin*, eles eram apenas amigos, mesmo assim ele a encorajou a ler a palavra de Deus. Apesar da carreira como enfermeira não deixar muito tempo para leitura, a persuasão gentil de Moshen finalmente a fez sentar e explorar o livro desconhecido.
Ela ficou atordoada com o que descobriu – principalmente com o olhar de uma mulher que vive no Oriente Médio, em um país com uma cultura intensamente islâmica. “A Bíblia se tornou muito atrativa devido a sua postura com relação ao casamento. Era muito diferente do mundo islâmico”, ela explica. Na Bíblia, “mulheres têm muito valor e somos vistas”.
Ela continuou lendo a Bíblia até que, um dia, cruzou com um filme sobre a vida de Jesus. Enquanto assistia à cena dele carregando a cruz, sentiu uma presença única. “Eu senti como se estivesse andando com Jesus. Senti quão difícil foi e que seria impossível para eu fazer isso. Ali, eu ajoelhei e chorei por horas. Não conseguia entender o que estava acontecendo dentro de mim. Algo quebrou em mim e isso me mudou”, disse. A vida dela foi mudada para sempre. Mas a nova vida era perigosa.
Comunhão e crescimento
Dentro das paredes das casas, novos cristãos se abrem sobre sua fé e emoções geradas por pertencimento e perseverança se entrelaçam com momentos de adoração, ensinamento e oração (foto representativa)
Enquanto Simin crescia na fé, passou a participar de uma igreja. Mas, no país onde ela vive, isso não é simples. Embora igrejas públicas e oficiais existam, elas são cuidadosamente vigiadas pelo governo. As autoridades gravam meticulosamente os detalhes pessoais de cada membro e deixam isso claro para que não haja evangelização.
As limitações rígidas da República Islâmica vão tão longe que muitos prédios de igrejas tradicionais permanecem fechados. Apenas alguns, em centros urbanos maiores, permanecem abertos – mas o acesso é um privilégio reservado para quem é membro – e sob diretrizes que proíbem cultos em farsi, a língua nacional. Isso exclui qualquer um que se converte do islamismo.
A resiliente comunidade de novos cristãos precisa de um lugar para crescer em fé. E, para isso, novos cristãos muitas vezes se envolvem com igrejas domésticas. Dentro das paredes das casas, novos cristãos se abrem sobre sua fé e emoções geradas por pertencimento e perseverança se entrelaçam com momentos de adoração, ensinamento e oração. Esses encontros íntimos desafiam as restrições impostas, oferecendo um santuário onde o Espírito de Deus se desenvolve em meio aos desafios do exame detalhado do governo.
Esse foi o tipo de comunidade que Simin encontrou após sua conversão. Cerca de seis meses após encontrar a Jesus, ela participou do primeiro encontro em uma igreja doméstica. Ela não sabia o que fazer durante o culto, mas teve certeza de uma coisa: “Não entendi o motivo da alegria deles, mas durante a adoração provei a doce presença de Deus entre nós”, relembra.
A jornada de aprendizado e crescimento de Simin na fé começou. Ela e Moshen logo noivaram e se casaram e, por meio de seu pastor e outros cristãos, Simin chegou ao ponto de ousadamente compartilhar o evangelho com as pessoas e até entregar Bíblias para pessoas que sabia que podia confiar. “A igreja fortaleceu minha fé e me conduziu a servir”, disse.
Sua vida fora da igreja começou a mudar também. Em uma situação no trabalho, havia um menino de cinco anos muito doente após ter feito uma cirurgia no coração. Os médicos não acreditavam que ele sobreviveria, mas Simin e Moshen oraram por um milagre, acreditando no poder curador de Jesus.
Para a alegria deles, o menino acordou saudável, o que deixou a todos – inclusive os médicos – em choque. Esse evento poderoso fortaleceu a fé de Simin. “Eu costumava ir a Deus apenas em momentos de necessidade, mas depois disso, queria que pessoas fossem curadas”, conta. Ela se transformou em uma cristã mais compassiva e constante, com o coração e o caráter renovados, tudo por causa da fé em Cristo. A cristã passou a orar por todos os pacientes dela, não importava quem fossem.
Aprofundando a discriminação
Com fé e coragem, Simin tomou o passo ousado de compartilhar a fé com sua família (foto representativa)
Embora tenha crescido em fé e testemunhado o poder e a cura de Jesus, ela ainda era uma mulher em uma sociedade muçulmana. Por causa da fé e da coragem dela, ela tomou o passo ousado de compartilhar a fé com sua família, mas a reação não foi o que ela esperava. “Isso me deixou triste. minha família zombou de mim quando compartilhei sobre Jesus. Havia um preconceito no coração, eles disseram que eu tinha perdido a cabeça”, ela compartilha.
Além disso, após se casar com Moshen, eles se mudaram para uma cidade menor onde ele trabalhava. A cultura na cidade era ainda mais conservadora. Pessoas focavam na aparência e Simin tinha que vestir o hijab (véu islâmico) de maneira correta. “Eu recebi algumas cartas de alerta sobre a forma que eu me vestia. Tive que aceitar o código de vestimenta para não chamar atenção”, disse.
Os colegas de trabalho de Simin também começaram a perceber que ela era diferente. Eles a questionaram: “Por que você não participa do tempo de oração? Por que não jejua durante o Ramadã?”. Ela sabia das consequências caso sua conversão se tornasse conhecida. “Se descobrissem, seria demitida”, conta. Ela foi forçada a assinar papéis se comprometendo a participar mais dos momentos de oração, porém, quando ia à sala de oração, orava para Jesus.
Deus era a única esperança e a fonte de forças para Simin enquanto aguentava momentos dolorosos. Ela chorava silenciosamente para não chamar a atenção. “Mas Deus me deu paciência para aguentar”, disse.
Grandes riscos
Após terem iniciado uma igreja doméstica em casa, certa manhã, Simin e o marido acordaram com 12 policiais invadindo e revistando sua casa (foto representativa)
Não era apenas discriminação, Simin logo ficou consciente de perigos mais significativos enfrentados pelos cristãos. O pastor da igreja doméstica dela foi preso. A cristã e outros membros da igreja sabiam que deveriam evitar se encontrar ou ligar uns para os outros, pois isso colocaria a comunidade inteira em risco. Simin e Moshen presumiram que seria o fim da comunhão cristã em sua cidade, mas Deus tinha outros planos.
O Espírito Santo encorajou Simin e o marido a continuarem compartilhando as boas-novas com amigos e parentes, que aceitaram a Jesus. Assim, Deus transformou a casa de Simin em uma igreja onde ela passou a ensinar os novos cristãos. Mas eles sabiam quão cuidadosos precisavam ser. “Tentamos criar um espaço pacífico para adoração e culto. Preocupados com os vizinhos, nos reuníamos com cuidado na sala, tendo a certeza de que todas as portas e janelas estavam fechadas. Também controlávamos o volume das vozes”, disse Simin. Infelizmente, o cuidado deles não foi suficiente.
No início de uma manhã quente de verão em 2019, Simin acordou com a voz severa e irada de 12 policiais enquanto entravam em sua casa. O primeiro pensamento dela foi: “O que acontecerá com minha família? Deus nos proteja”.
Uma família cujo filho tinha se tornado cristão por meio do testemunho de Moshen denunciou as atividades cristãs. Ela tentou esconder o celular para que não conseguissem os contatos de outros cristãos, mas era muito tarde. Toda a casa foi vasculhada. Caixas de Bíblias e CDs cristãos foram encontradas – o que era muita evidência para a polícia.
“O que acontecerá com sua filha?”
Simin não sabia o que aconteceria a sua família e seu futuro. Não havia nada para fazer, apenas confiar em Jesus (foto representativa)
Simin e o marido foram presos. A filha deles, de apenas dois anos, foi tirada deles. A menina estava com uma doença digestiva, por isso, Simin implorou aos oficiais para que a filha pudesse ficar com alguém. Eles negaram, e a família foi levada para a prisão. Moshen foi separado de Simin e da filha. Ninguém sabia o que os esperava. A menina estava com dor, mas as autoridades não deixaram Simin levar os remédios dela.
Simin foi interrogada. “Primeiro, queriam encontrar outros cristãos. Depois, sugeriram que eu estava ligada a políticos de outros países e meu objetivo era enganar as pessoas sobre o islamismo e o governo. Mas eu só queria levá-las ao amor de Jesus”, disse. Quando o interrogador não conseguiu as respostas que queria, as ameaças começaram: “Se você não voltar para o islamismo, passará anos na prisão. E então? O que acontecerá com sua filha? Mesmo se você for solta, não conseguirá mais um trabalho”.
Os dias pareceram anos. Simin só viu o marido duas vezes e passava horas na sala de interrogatório. A prisão que ela estava é famosa por abuso. Quando Simin mostrou preocupação quanto ao seu tratamento, os oficiais disseram a ela para ser grata por não terem feito mais. Além do custo emocional, ela começou a ter problemas físicos. “Eu pedi por um médico, não estava me sentindo bem. Eles mandaram uma pessoa que não estava familiarizada com a terminologia médica. Eu não tinha certeza se era realmente um médico”, disse.
Simin não sabia o que aconteceria a sua família e seu futuro. Não havia nada para fazer, apenas confiar em Jesus. Ela estava com medo, mas podia sentir a presença dele. “Era só eu e Jesus na cela”, relembra. Aquilo deu a ela esperança para aguentar.
Um futuro incerto
Mesmo depois de ser presa e ficar quase 20 dias sem ter notícias da filha pequena e do marido, Simin afirma que nunca pensou em negar a Jesus (foto representativa)
Após 18 dias de prisão, tortura emocional e interrogatórios, Simin e Moshen foram soltos sob fiança até o dia do julgamento. Logo, receberam a notícia do veredito do juiz. Ambos foram culpados de “propaganda contra o regime” e de aceitar o “cristianismo sionista”. O termo “cristianismo sionista” é um rótulo usado pela agência de segurança do país e pelo judiciário para politizar a fé cristã, além de poder dar uma sentença mais pesada.
Moshen foi sentenciado a um ano de prisão com trabalho pesado e banido da cidade onde vivia, assim os convertidos não seriam capazes de falar com ele. Simin foi multada e o que ela sempre soube que poderia acontecer, aconteceu. “Poucas horas depois da sentença, recebi uma ligação do hospital. Eu estava demitida”, conta.
Simin e Moshen não podiam fazer nada. Não sabiam como sobreviver e estavam devastados pela perda da comunhão. Eles queriam cultuar a Jesus e servi-lo. Decidiram que a única maneira para isso era deixar tudo e todos para trás e fugir do país. “Era assustador, mas tivemos que sacrificar”, explica.
Então, começaram uma jornada para sair do país. Eles se esconderam por sete meses em um quarto pequeno e sujo na casa de um contrabandista durante a pandemia da COVID-19, o que complicou a passagem por qualquer fronteira. Eles tinham uma quantia limitada de dinheiro e sabiam que podiam ser presos a qualquer momento.
Finalmente, conseguiram escapar para um país próximo, onde agora vivem como refugiados. Mesmo durante esse caminho, Simin nunca pensou em negar a Jesus e voltar para a antiga vida. “Deus estava conosco em cada passo. Era impossível para uma família se esconder por tanto tempo. Levou 18 horas para atravessarmos a fronteira. Estávamos em um caminhão escuro e frio com outras pessoas, mas minha filha doente foi curada no caminho enquanto dormia tranquilamente.”
*Nomes alterados por segurança.
Prepare mulheres para liderar igrejas domésticas
Para que o evangelho não morra em locais onde há perseguição, é preciso líderes preparados. No Oriente Médio, igrejas domésticas são formadas por mulheres em sua maioria. Ao doar, você permite que elas aprendam seu papel de acordo com a Bíblia em encontros online, sendo capacitadas para liderarem igrejas domésticas.