Os palestinos planejam realizar um dia de protestos hoje contra os acordos de paz que serão assinados à noite, em Washington, entre Israel e dois países do Golfo Pérsico, Emirados Árabes Unidos e Bahrein. As manifestações, convocadas como “um dia de fúria”, devem ocorrer em todo o mundo em frente às embaixadas dos três países e dos Estados Unidos, mediador dos acordos.
A cerimônia de assinaturas está programada para acontecer na Casa Branca, com a presença de representantes dos três países e do presidente americano, Donald Trump.
O primeiro-ministro da Autoridade Palestina (AP), Muhammad Shtayyeh, pediu aos Estados árabes que boicotem o evento em Washington. No comunicado de convocação aos protestos, a AP pede que a bandeira palestina seja hasteada em todas as cidades da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e nos campos de refugiados em Israel e no exterior, a fim de enfatizar a objeção dos palestinos ao hasteamento da bandeira israelense em Abu Dhabi e em Manama.
Os palestinos acusam os governos dos Emirados e do Bahrein de traição à sua causa por aceitarem normalizar as relações com Israel. Isso porque o status quo no mundo árabe, até hoje, era o de que as relações entre os países árabes e Israel só seriam normalizadas depois de um acordo de paz com os palestinos. Mas o anúncio do entendimento diplomático entre Israel e os Emirados Árabes, no dia 13 de agosto, pegou os palestinos de surpresa. E, na sexta-feira passada (11), o anúncio de outro acordo, dessa vez entre Israel e Bahrein, foi mais um choque. Eles se tornaram os primeiros países árabes a fazer a paz com Israel depois do Egito, em 1979, e da Jordânia, em 1994. Circulam rumores de que outros países, incluindo Sudão, Omã e Marrocos, poderiam seguir o exemplo dos Emirados e de Bahrein.
Os palestinos reclamaram da decisão pedindo à Liga Árabe que condenasse os acordos em reunião de emergência. Mas na cúpula dos 22 membros da organização, na semana passada, os ministros das Relações Exteriores não fizeram essa condenação.
Os palestinos se encontram cada vez mais isolados e essa abertura dos Estados do Golfo a Israel é a prova. Israel se retirou da Faixa de Gaza em 2005, mas, desde então, os palestinos observaram um aumento do controle de Israel na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental e a expansão de assentamentos israelenses nessas duas áreas.
Mesmo assim, uma série de monarquias do Golfo cultivou laços por debaixo dos panos com os israelenses, estabelecendo várias áreas de cooperação. Essa nova era diplomática seria baseada em interesses econômicos comuns e no antagonismo ao Irã. Há também o componente de pressão do governo de Donald Trump e aparentes promessas de venda de armamento americano em troca dos acordos de paz com Israel.
Isso fortalece certamente o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que acumula outras vitórias diplomáticas necessárias para ele, em um momento em que enfrenta três indiciamentos por corrupção. Na semana passada, por exemplo, o Kosovo também anunciou o estabelecimento de relações diplomáticas com Israel e a Sérvia prometeu transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém.
Efeitos a longo prazo
O professor e ativista palestino Mohammed Dajani Daoudi acredita que os acordos podem ajudar a resolver o conflito palestino-israelense a longo prazo. Ele acredita que uma normalização diplomática, com abertura mútua de embaixadas, levará Israel a se sentir mais seguro no Oriente Médio e, portanto, ser mais generoso e disposto a fazer concessões aos palestinos.
Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, dizem já ter conseguido mudar a posição do primeiro-ministro Netanyahu que, em troca do acordo de paz com seu país, aparentemente desistiu de seus planos de anexar territórios na Cisjordânia.
Segundo o professor Daoudi, a liderança palestina deveria voltar à mesa de negociações com Israel à luz dessa nova realidade diplomática, aceitando também fazer concessões para alcançar um acordo de paz duradouro. Ele acredita que “moderação leva à reconciliação, que leva à paz, à segurança, à tolerância e à aceitação do outro”.
Fonte: RFI.