O papa Francisco enviou uma dura mensagem aos participantes de um encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) que começou nesta segunda-feira (26) em Roma, na Itália, e que debate a situação da fome no mundo. A reunião, que segue até o dia 28, é uma preparação para o Food System Summit, que será realizado em setembro em Nova York.
“Produzimos comida suficiente para todos, mas muitos ficam sem o pão de cada dia. Isso constitui um verdadeiro escândalo, um crime que viola os direitos humanos fundamentais. Por isso, é um dever de todos erradicar essa injustiça através de ações concretas e boas práticas, e através de audaciosas políticas locais e internacionais”, diz o documento, que foi endereçado ao secretário-geral da ONU, António Guterres.
Para o líder católico, o “importante encontro” de Roma mostra “mais uma vez” como a luta contra a fome e a insegurança alimentar (quando a pessoa não tem acesso à uma alimentação adequada e constante) é “um dos maiores desafios atuais”.
Jorge Mario Bergoglio ainda pediu que o mundo discuta “uma mudança radical” nesse sentido para que ninguém mais passe fome.
“É preciso a atenta e correta transformação dos sistemas alimentares, que devem ser mirados para poder aumentar a resiliência e reforçar as economias locais, melhorar a nutrição, reduzir o desperdício alimentar, fornecer dietas saudáveis a todos, ser ambientalmente sustentável e respeitosos com as culturas locais”, acrescentou.
Citando o objetivo de zerar a fome no mundo até 2030, proposto pela ONU e ratificado por inúmeros países, o argentino ressaltou que a questão “não é produzir comida”, mas sim “um nova mentalidade e uma nova aproximação integral” que coloque no centro “a dignidade da pessoa humana”.
Conforme Bergoglio, “é fundamental recuperar a centralidade do setor rural” e também fazer com que o “setor agrícola tenha um papel prioritário no processo de decisão político-econômico”.
“Somos conscientes que os interesses econômicos individuais, fechados e conflituosos são potentes e impedem a projeção de um sistema alimentar que responda aos valores do bem comum, da solidariedade e da cultura do encontro. Se quisermos manter um multilateralismo fecundo e um sistema alimentar baseado na responsabilidade, a justiça, a paz e a unidade da família humana são fundamentais”, ressaltou.
Citando a pandemia de Covid-19, o Papa afirmou que a crise que o mundo enfrenta é uma “oportunidade única para comprometer-se com diálogos autênticos, audaciosos e corajosos, enfrentando as raízes do nosso injusto sistema alimentar”.
Há cerca de duas semanas, um relatório publicado pela ONU mostrou que 2,3 bilhões de pessoas no mundo passaram a viver em estado de insegurança alimentar em 2020, em situação agravada pela pandemia, e que até 811 milhões de pessoas passaram fome – uma alta de 118 milhões de cidadãos na comparação com 2019.
Fonte: ANSA.