Diante do aumento exponencial do poderio chinês, os EUA, descontentes com a aproximação sino-israelense, poderiam converter o Oriente Médio em o novo teatro de confronto pela supremacia mundial.
Se tornará o Oriente Médio o novo campo de batalha entre a China e os Estados Unidos? Pierre Picquart, especialista em mundo chinês e geopolítica, analisa para a Sputnik França qual a estratégia da China nesta região conturbada.
Enquanto a China está aumentando sua presença no Oriente Médio, do Irã ao Egito, da península Arábica à Anatólia, Israel permanece sob pressão de Washington por causa de sua aproximação com Pequim.
Pequim pisca o olho a Israel
O caso de Israel é certamente o melhor exemplo deste novo palco de confronto entre as duas maiores economia do mundo.
Os Estados Unidos, através de seu secretário de Estado Mike Pompeo, repreenderam recentemente o seu principal aliado no Oriente Médio devido ao estreitamento das relações econômicas entre entre Tel Aviv e Pequim e sua aproximação estratégica.
Para Pierre Picquart, a China está somente tentando explorar brechas deixadas pelo seu rival norte-americano.
“A China está gradualmente alcançando os Estados Unidos, que têm uma cota de mercado de 12%, enquanto Pequim já ultrapassou os 7%. A China é, portanto, o segundo país mais importante nas relações bilaterais de Israel. E quem diria, sendo um fenômeno relativamente novo, que hoje a China teria uma relação privilegiada com Israel!”, observou o especialista.
A gestão de infraestruturas é uma de suas principais áreas de investimento. Assim, o porto de Haifa, que abastece os navios americanos no Mediterrâneo, foi confiado pelo governo de Netanyahu a Pequim a partir de 2021. Este fato representa uma dificuldade real para Washington.
Além disso, a principal potência mundial também deve lidar com a teia urdida pela China nesta região (e em outras), a chamada Nova Rota da Seda.
De fato, Pierre Picquart relembra que o antigo Império do Meio está investindo consideravelmente a longo prazo na região, desenvolvendo e solidificando suas relações com todos os países do Oriente Médio, sejam o Irã, o Iraque, a Síria, a Turquia ou o Egito.
Pequim intervém, mas não interfere
Israel surge igualmente como um exemplo representativo da ambição e da forma como a China desenvolve as relações no Oriente Médio. Pierre Picquart aponta que, ao contrário da abordagem norte-americana, a China defende a neutralidade e a não ingerência.
“A China defenderá os interesses de ambos os lados ao mesmo tempo. Contudo, esta política não é sinônimo de fraqueza. Na verdade, no conflito israelo-palestino ou no que se passa na Síria ou relativamente ao Irã, Netanyahu quer saber a posição de seu parceiro, viajando por isso às vezes até Pequim”, observou à Sputnik França Picquart.
Questionado se a China poderia adotar as técnicas invasivas dos EUA, o especialista assevera que isso não corresponde à estratégia chinesa, já que Pequim não tem a ambição de impor seu modelo. Ele relembra que a política externa chinesa tem sido moldada por sua história:
“A China é um enorme território e tem lutado durante muitos séculos para manter a unidade nacional. Portanto, nunca teve necessidade, excluindo algumas guerras fronteiriças, de se envolver em conflitos distantes. Além disso, os chineses não são um povo bélico”, afirmou Picquart.
Para concluir sua análise, Pierre Picquart explica que a China tomou consciência do problema do terrorismo logo após o ataque às Torres Gêmeas em 2001, embora isso não tenha impedido muitos ataques em solo chinês, em particular o ataque à estação de trem de Kunming em 2014.
Mas o terrorismo é um fenômeno incontornável no Oriente Médio, estando por isso na primeira linha da política chinesa na região.