Quase uma semana após um ataque de drone na Jordânia ter matado três soldados dos Estados Unidos, Washington lançou nesta sexta-feira (2) os primeiros ataques de retaliação contra milícias apoiadas pelo Irã.
Os EUA atacaram a Força Quds do Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) e milícias afiliadas no Iraque e na Síria, em sete locais no total. Os bombardeiros atingiram 85 alvos individuais, segundo autoridades de defesa americanas.
Ataques eram esperados há vários dias – e o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, começou a enfrentar questionamentos e críticas dos adversários do Partido Republicano sobre o momento e a contundência da resposta do país.
Especialistas em política externa, no entanto, apontam que a abordagem permitiu ao Irã retirar pessoal, evitando potencialmente um conflito mais amplo entre EUA e Irã na região.
“Isso permitiria degradar a capacidade dessas milícias apoiadas pelo Irã para atacar as forças dos EUA, mas sem escalar”, disse à BBC Mick Mulroy, antigo vice-secretário adjunto da Defesa dos EUA para o Médio Oriente. “Embora provavelmente não seja um impedimento para ataques futuros.”
O benefício final, disse ele, seria “evitar uma guerra direta” entre EUA e Irã.
Autoridades dos EUA culparam um grupo de milícias apoiado pelo Irã, a Resistência Islâmica no Iraque, pelo ataque na Jordânia. Acredita-se que a organização – um grupo guarda-chuva de múltiplas milícias – tenha sido armada, financiada e treinada pelo Irã.
O Irã negou qualquer envolvimento no ataque com drones, que também feriu 41 soldados norte-americanos.
Biden afirmou: “Que todos aqueles que possam tentar nos prejudicar saibam disto: se vocês prejudicarem um americano, nós responderemos.”
Autoridades de defesa e segurança disseram que o clima dificultou uma retaliação mais rápida – e que a sexta-feira apresentou as melhores condições para o lançamento de ataques.
Embora a Casa Branca e o Pentágono também tenham afirmado repetidamente que evitavam “telegrafar” operações nos dias que antecederam os ataques, os especialistas acreditam que eles fizeram exatamente isso – com intenção final de evitar uma guerra mais ampla com o Irã.
Hussein Ibish, do Instituto dos Estados do Golfo Árabe de Washington, disse que o atraso parecia ser a sinalização dos EUA do que eles “não vão fazer, que é atacar dentro do Irã”.
Mulroy disse à BBC que é possível que os EUA tenham permitido que o pessoal da Guarda Revolucionária Iraniana “deixasse as instalações que serão atacadas”.
Os especialistas observaram que os EUA devem caminhar numa linha tênue entre dissuadir um país como o Irã e não desencadear um conflito maior.
“Telegrafar” os ataques poderia permitir aos EUA adotar uma calibragem na operação, aplicando uma estratégia que “não é muito dura, nem muito suave”, disse Bradley Bowman, diretor sênior do Centro de Poder Militar e Político da Fundação para a Defesa das Democracias, baseada em Washington DC (EUA).