Um assunto inesperado se destacou nos pronunciamentos de fim de ano do presidente russo Vladimir Putin: a Polônia e seu papel na Segunda Guerra Mundial.
Na última semana, o presidente mencionou o tema cinco vezes em reuniões importantes, mesmo em encontros que tinham pouco a ver com política externa ou história.
Em um raro momento explosivo durante uma reunião do conselho do Ministério da Defesa, no último dia 24, Putin descreveu o então embaixador polonês na Alemanha nazista como um “verme e porco antissemita”.
Duas horas depois, ele retomou o assunto em um encontro com líderes parlamentares. O líder da Duma Federal russa (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), Vyacheslav Volodin, agradeceu ao presidente e exigiu um pedido de desculpas oficial da Polônia.
No dia seguinte, Putin sediou sua tradicional reunião de fim de ano com líderes empresariais russos. De acordo com a edição local da revista Forbes, lá também o líder “surpreendeu a todos com o quanto estava imerso em documentos históricos relacionados ao início da Segunda Guerra Mundial e ao posicionamento polonês”.
O presidente também está planejando escrever um artigo sobre o tema. Mas por que esse interesse repentino?
As críticas de Vladimir Putin acontecem depois de uma resolução do Parlamento Europeu culpar tanto a União Soviética quanto a Alemanha Nazista pelo início da Segunda Guerra Mundial.
Para o presidente russo, fazer essa relação de equivalência entre as duas nações é o “ápice do cinismo”, e ele mais uma vez apelou a uma prática que seus críticos chamam de “whataboutism” (“técnica do ‘Mas e… ?'” em tradução livre), na qual o líder tentaria reverter uma situação desfavorável ao transferir a acusação a outro personagem – no caso, a Polônia.
Historicamente, a União Soviética foi acusada várias vezes de contribuir com a Alemanha Nazista na divisão do território da Polônia, por causa de um pacto de não-agressão firmado com Hitler em 1939 (conhecido como o pacto de Molotov-Ribbentrop).
Mas por que Putin está irritado com acusações contra um país que não existe mais?
A vitória soviética na Segunda Guerra Mundial é um dos pilares da ideologia estatal mais venerados, e, mais de 70 anos depois, ainda é celebrado com fervor todos os anos. O marco também é uma ferramenta importante para Putin legitimar sua gestão e política externa expansionista como sucessor do Império soviético. Por isso, qualquer crítica ao que é conhecido na Rússia como “A Grande Vitória” é vista pelo Kremlin como um ataque ao próprio governo.
Nada disso, é claro, é razão para que a Polônia aceite as acusações, que foram chamadas de “narrativas falsas” pelo país.
O assunto é particularmente sensível na Polônia.
No ano passado, o governo aprovou um projeto que tornava ilegal que cidadãos acusem a Polônia de conivência com os crimes cometidos pelos nazistas durante a ocupação.
Depois de gerar controvérsias, a lei foi suavizada, e a prática foi considerada uma ofensa civil, não criminal.
Fonte: BBC.