O conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas, que ganhou mais um capítulo sangrento com os recentes ataques, movimenta um complexo jogo de forças no xadrez político do Oriente Médio.
A nova guerra chega em um momento de redefinição da geopolítica mundial, motivada pelo conflito da Ucrânia.
Em um ataque inesperado no sábado (7) a partir da Faixa de Gaza, o Hamas lançou centenas de foguetes contra Israel e invadiu o seu território, matando e sequestrando civis e soldados israelenses.
Sob a justificativa de se vingar contra a ocupação e bloqueios de Israel, o grupo extremista levou o histórico conflito a um patamar sem precedentes, tirando proveito da crise doméstica em Israel, segundo análise do Blog da Sandra Cohen.
Veja os principais atores do conflito e quem apoia quem diante do novo xadrez geopolítico:
Rússia
Um dos principais atores mundiais atual, e em meio à sua própria guerra, a Rússia não havia condenado diretamente os ataques do Hamas ou a contraofensiva israelense até a última atualização desta reportagem.
Mas a maior adversária atual dos Estados Unidos, aliado de Israel, aproveitou para espetar Washington. Nesta segunda, o Kremlin disse temer o envolvimento de “terceiros países” no conflito do Oriente Médio e estar “preocupado com a aproximação de navios de guerra dos Estados Unidos de Israel”.
Também favorável à criação de um Estado palestino, o Kremlin mantém relações com o Hamas, embora também o faça com Israel. E não considera o grupo como terrorista.
Moscou é também favorável à criação de um Estado palestino nos moldes do plano original do Reino Unido, de 1948.
Ucrânia
Já Kiev jogou claramente do lado do tabuleiro geopolítico que lhe corresponde atualmente.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, outro forte aliado dos EUA e de Israel, condenou o que chamou de ataque terrorista e disse que Israel tem todo o direito de se defender.
Egito
É um dos países com maior importância para a relação entre Israel e Gaza, por conta de sua posição estratégica. O Egito faz fronteira com o sul da Faixa de Gaza e controla quem atravessa as fronteiras.
O Egito tem um histórico de relações estremecidas com Israel, mas foi o primeiro do mundo árabe a assinar um acordo de paz com Israel, na década de 1970. Em 2021, líderes dos dois países se reuniram pela primeira vez em 40 anos.
E, nesta segunda-feira, o governo egípcio condenou os ataques e disse esperar que “a voz da razão prevaleça”.
Arábia Saudita
Aliada histórica da causa palestina, o governo saudita disse nesta segunda que “continuará a apoiar os palestinos e não poupará esforços para restaurar a calma e a estabilidade nos Territórios Palestinos”.
Só que, recentemente, a Arábia Saudita tem ensaiado uma aproximação com Israel. Com intermediação dos Estados Unidos, o governo do país, uma monarquia absoluta e islâmica, vinha dialogando com Tel Aviv para a normalização da relação entre os dois países.
O ataque do Hamas e a posterior guerra declarada por Israel deve paralisar esse diálogo.
Catar
Outro país árabe estratégico para os dois lados, o Catar tenta assumir o papel de mediador.
O governo do país também condenou os ataques, mas disse nesta segunda-feira estar mediando uma tentativa de negociação para a libertação de mulheres e crianças dos dois lados.
Irã
Um dos principais adversários de Israel no atual quadro geopolítico, o Irã não condenou os ataques do Hamas e, no domingo (7), afirmou que “apoia a legítima defesa da nação palestina”, em um comunicado assinado pelo presidente do país, Ebrahim Raisi.
Raisi, que é subordinado ao líder supremo do Irã, Ali Khamenei, já que o país é uma teocracia, disse ainda que “o regime sionista e os seus apoiadores são responsáveis pela instabilidade na região”.
Há meses, o governo de Israel vem acusando Teerã de estar financiando o Hamas. Em uma megaoperação em julho na Cisjordânia, a maior na região e que deixou 12 mortos, o governo israelense alegou estar em busca de armas fornecidas pelo Irã e escondidas em bunkers no campo de refugiados local.
O Irã é favorável à criação de um Estado palestino nos moldes do plano original de 1948.
China
Outro grande ator no novo xadrez geopolítico e alinhado à Rússia no conflito da Ucrânia, a China também vem buscando não se envolver diretamente com nenhuma das partes.
Nesta segunda, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês disse que “se opõe à violência e aos ataques”, sem especificar qual. “O caminho certo a seguir é implementar uma solução de dois Estados”, disse o porta-voz da pasta, Mao Ning.
Mas Tel Aviv não gostou da posição “em cima do muro” de um país “que vê como seu amigo”, nas palavras do embaixador de Israel em Pequm, Yuval Waks.
Waks exigiu do “uma condenação mais forte” ao Hamas por parte do governo chinês.
“Quando pessoas estão sendo assassinadas, massacradas nas ruas, este não é o momento de apelar a uma solução de dois Estados”, disse.
Estados Unidos
O país é o maior aliado mundial e histórico de Israel, e reiterou apoio ao sócio do Oriente Médio desde o início da nova guerra.
No entanto, a avaliação de especialistas é a de que Washington não deve conseguir intervir tanto no conflito.
De todas as formas, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, ordenou no domingo (8) que o navio USS Gerald R. Ford Carrier, o porta-aviões mais moderno da Marinha norte-americana, navegasse em direção ao Mediterrâneo oriental, onde fica a Faixa de Gaza, como uma demonstração de apoio a Israel.
Nos últimos anos, a Casa Branca também tem mostrado um certo distanciamento do governo israelense, por conta da diferença ideológica entre os governos do democrata Joe Biden e do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, que fez aliança com ultradireitistas para formar governo.
Líbano
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Outro adversário histórico de Israel, com quem já travou guerras no passado, o Líbano é também um dos principais atores no conflito.
Isso porque, desde o início desta segunda-feira, foguetes vêm sendo disparados do sul do país em direção a Israel, com quem faz fronteira.
O Hezbollah, grupo extremista libanês, reivindicou os ataques e disse que ter sido um ato de apoio ao Hamas.
Mas o governo do Líbano disse não apoiar os ataques – até porque o país, que enfrenta uma de suas piores crises econômicas, não conseguiria arcar com os custos de uma nova guerra.
Israel
É um estado judeu criado em 1948 na antiga região da Palestina. A ocupação da área foi feita de forma gradual pelos judeus que estavam espalhados pelo mundo. À medida que a imigração aumentava, foram surgindo os confrontos na área, até então ocupada por maioria árabe.
Atualmente, Israel passa por uma grave crise interna em razão da aprovação de uma controversa reforma do Judiciário, que tira o poder da Suprema Corte e dá mais poderes ao Parlamento controlado pelo governo do primeiro-ministro ultraconservador, Benjamin Netanyahu. Nos últimos meses, milhares de pessoas estavam indo às ruas em protesto contra a medida.
Faixa de Gaza
É um território palestino com 41 km de comprimento e 10 km de largura e que fica entre Israel, Egito, o mar Mediterrâneo. A população local tem cerca de 2,3 milhões de palestinos e uma das maiores densidades populacionais do mundo.
Cerca de 80% da população de Gaza depende de ajuda internacional, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), e aproximadamente 1 milhão de pessoas contam com ajuda alimentar diária.
Hamas
É o grupo que governa a Faixa de Gaza e reivindica um estado palestino independente. O Hamas jurou ainda destruir Israel e travou várias guerras com o país desde que assumiu o poder em Gaza em 2007.
O Hamas é considerado um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido. Por outro lado, recebe o apoio do Irã, que o financia e fornece armas e treinamento.
Cisjordânia
É um segundo território palestino, bem maior que Gaza. Fica entre Israel e a Jordânia, mas é militarmente controlado por Israel, que construiu muralhas em todo o seu redor, controlando o acesso de pessoas. Cerca de 86% da população local, ou 3 milhões de pessoas, são palestinos, segundo dados de 2021 da ONU.
No plano inicial da ONU de partilha da região entre judeus e palestinos, a Cisjordânia faria parte do Estado Árabe. Mas Israel tomou militarmente a Cisjordânia em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, e montou na região assentamentos judeus considerados ilegais por parte do mundo.
É lá que fica Jerusalém, reivindicada como capital tanto por palestinos como por israelenses.
Fonte: G1.