Israel reagiu à declaração do presidente francês Emmanuel Macron de sua intenção de reconhecer um estado palestino. O reconhecimento seria “uma recompensa pelo terrorismo”, afirmou o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar.
“Um ‘reconhecimento unilateral’ de um Estado palestino fictício, por qualquer país, na realidade que todos conhecemos, será uma recompensa para o terrorismo e um incentivo para o Hamas”, declarou Saar na noite de quarta-feira (9) na rede social X.
“Esse tipo de ação não trará paz, segurança e estabilidade para nossa região; pelo contrário, só as afastará ainda mais”, acrescentou.
O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou que o país poderá reconhecer oficialmente o Estado da Palestina já em junho, como parte de uma iniciativa diplomática envolvendo diversas nações. A declaração foi feita durante uma entrevista à TV francesa e gerou reações imediatas e contrastantes entre os principais líderes políticos franceses.
A proposta francesa deve se concretizar em uma conferência da ONU, em Nova York, que será organizada em parceria com a Arábia Saudita. Um dos objetivos do encontro é buscar um equilíbrio diplomático: ao mesmo tempo que se discute o reconhecimento da Palestina, também se tenta convencer países árabes — que ainda não reconhecem Israel — a fazê-lo.
A Arábia Saudita, aliada regional de peso, tem condicionado a normalização de suas relações com Israel à criação de um Estado palestino viável. Nesse cenário, Macron busca posicionar a França como mediadora de uma solução que contemple segurança, soberania e coexistência.
Repercussão interna: apoio e críticas
A possibilidade de reconhecimento da Palestina provocou reações imediatas dentro da política francesa. O ex-presidente francês François Hollande apoiou a iniciativa, mas com ressalvas: segundo ele, é fundamental garantir que o futuro Estado palestino não seja dominado pelo grupo Hamas, considerado uma organização terrorista por boa parte da comunidade internacional.
Jean-Luc Mélenchon, líder do partido da esquerda radical A França Insubmissa (LFI), que historicamente apoia a causa palestina, celebrou a mudança de postura. Ele afirmou que, um ano e meio após as primeiras propostas da esquerda, “finalmente compreendem que só há saída através da política”.
Já setores mais conservadores reagiram com desconfiança. Para Sébastien Chenu, porta-voz do partido de extrema direita Reunião Nacional, o reconhecimento seria precipitado, já que, segundo ele, o Estado palestino hoje estaria sob forte influência do Hamas.
O presidente do Senado, Gérard Larcher (Os Republicanos, de direita), fez coro às críticas e afirmou que as condições ainda não estão dadas: “Há reféns em Gaza, ataques contínuos e uma Autoridade Palestina frágil.”
O impasse em Gaza e a busca por solução duradoura
O conflito atual tem origem no ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, que deixou mais de mil mortos. Desde então, a Faixa de Gaza tem sido alvo de ataques constantes. Segundo dados da ONU baseados em informações do próprio governo local, mais de 50 mil palestinos já morreram, a maioria civis.
Macron, ao sinalizar o reconhecimento da Palestina, tenta destravar um impasse histórico e fortalecer a proposta de dois Estados: Israel e Palestina, convivendo lado a lado com segurança, soberania e reconhecimento mútuo — uma solução há décadas defendida por parte da comunidade internacional, mas sistematicamente bloqueada por conflitos, radicalismos e disputas territoriais.
A proposta francesa ainda enfrenta muitos obstáculos. O atual governo israelense, liderado por Benjamin Netanyahu, rejeita abertamente a criação de um Estado palestino. Por outro lado, a Autoridade Palestina, que governa partes da Cisjordânia, está enfraquecida e não exerce mais controle sobre Gaza, dominada pelo Hamas desde 2007.
Ao propor o retorno da Autoridade Palestina à Gaza, Macron aposta em uma nova configuração para a região — que ainda parece distante, mas que, para muitos, é a única saída possível para a paz duradoura.
Fonte: AFP.