Após a Otan ter anunciado uma expansão de gastos em Defesa e em equipamentos de guerra, a Rússia acusou a aliança militar ocidental de realizar uma “militarização desenfreada” e de não ser pacífica.
Nesta terça-feira (24), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a aliança militar foi criada para o confronto e está no caminho da “militarização desenfreada”.
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, afirmou nesta terça-feira que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) está se movendo para além do que chamou de “área tradicional de responsabilidade”.
“Não se pode ignorar os riscos representados pela expansão da OTAN além de sua área tradicional de responsabilidade, à medida que tenta estabelecer sua presença no Oriente Médio, no Sul do Cáucaso e na Ásia Central”, afirmou Lavrov.
As declarações de autoridades russas ocorreram um dia após o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, ter anunciado um “salto gigantesco” nos gastos em Defesa para os países-membros do bloco, além de investimento pesado em aparelhos de guerra como defesas aéreas e tanques de guerra.
Agora, cada país da aliança militar terá que destinar um mínimo de 5% do PIB para Defesa, um aumento considerável nos níveis investidos atualmente, e segundo autoridades do bloco, assegurará a segurança europeia “à medida que o mundo se torna mais perigoso”.
A Rússia, que está em guerra após invadir a Ucrânia em 2022, tem trocado farpas com a Otan nos últimos meses, com escalada de ameaças diante de uma possibilidade de envio de tropas europeias à Ucrânia e da autorização ao Exército ucraniano utilizar mísseis de longo alcance fornecido pela Europa para atacar alvos dentro do território russo.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse na semana passada estar com a possibilidade do mundo caminha para uma Terceira Guerra Mundial.
O discurso europeu de rearmamento voltou à tona no primeiro dia da cúpula da Otan nesta terça-feira. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “a Europa finalmente acordou militarmente”, e que a Defesa do bloco deve ser priorizada.
Expansão de gastos em Defesa
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, anunciou nesta segunda-feira (23) que os países-membros da aliança militar terão que aumentar seus gastos mínimos em Defesa para no mínimo 5% do PIB, um aumento considerável nos níveis investidos atualmente. A decisão foi tomada durante a cúpula realizada em Haia, na Holanda.
Segundo ele, todos os membros da Otan concordaram com os termos, em prol de uma defesa coletiva, e o incremento representará um “salto gigantesco (…) à medida que o mundo se torna mais perigoso”.
“O plano de investimento em Defesa que os aliados aprovarão em Haia estabelece uma nova base: 5% do PIB a serem investidos em Defesa. Isso representa um salto gigantesco — ambicioso, histórico e fundamental para garantir nosso futuro”, disse Rutte a repórteres.
Rutte disse ainda que os países-membros quintuplicarão os investimentos em defesa aérea, “porque vemos diariamente o terror mortal da Rússia vindo do céu sobre a Ucrânia — e devemos ser capazes de nos defender contra esse tipo de ataque”.
O secretário-geral disse que os países-membros da Otan fornecerão mais de 35 bilhões de euros (cerca de R$ 221 bilhões) em ajuda militar à Ucrânia neste ano. Para Rutte, a entrada da Ucrânia na Otan é um processo irreversível e acontecerá em algum momento.
Ele foi incisivo ao dizer que “caso a Rússia nos ataque hoje, nossa resposta seria devastadora”.
Além disso, o conflito direto entre Israel e Irã, que ganhou o envolvimento direto dos Estados Unidos no final de semana, também foi tema dos representantes dos países-membros presentes na cúpula. Rutte acusou o Irã de estar profundamente envolvido na guerra na Ucrânia — fornecendo drones Shahed aos russos — e disse que os EUA não feriram nenhuma lei internacional no ataque a instalações nucleares iranianas.
Salto no gasto com defesa
O aumento dos investimentos em Defesa pelos países-membros para 5% do PIB era algo que os Estados Unidos exigiam do bloco após Donald Trump reassumir a presidência, em janeiro deste ano. Os EUA são um dos poucos países que gastam acima desse nível, e os gastos atuais da maioria dos membros ficam entre 2 e 3,5%.
A Espanha, que se opõe ao aumento, assegura que a cúpula garantirá a ela espaço de manobra para não ser obrigada a alcançar a meta. O aumento do piso para 5% do PIB em Defesa não terá exceções, e o governo espanhol concordou com a meta, segundo Rutte.
A Alemanha planeja aumentar seu orçamento de Defesa para 3,5% do PIB até 2029, disseram nesta segunda-feira fontes do governo à agência de notícias AFP, o que estaria em conformidade com a nova meta da Otan para gastos militares. Atualmente, o país destina 2,4% do PIB para esse fim.
O premiê da Eslováquia, Robert Fico, afirmou que o país se reserva o direito de decidir o ritmo em que implementará o aumento de gastos em Defesa.
Fonte: G1.