O governo dos Estados Unidos acusa a Coreia do Norte de querer vender armas à Rússia, para uso na guerra com a Ucrânia. Moscou, no entanto, não confirma a reunião entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano, Kim Jong Un.
Segundo a BBC, a Rússia precisa “desesperadamente” de armas e munições. Por isso, o possível encontro causou preocupação entre ocidentais.
Afinal, acabou a munição da Rússia?
As autoridades ocidentais têm falado sobre a crise de munições na Rússia há meses. Segundo o The Economist, a contagem norte-americana de munições “totalmente utilizáveis” se refere somente àquelas que estão dentro do prazo de validade, devidamente armazenadas e que não precisam de renovação antes da utilização.
Também não está claro quanta munição a Rússia perdeu e repôs durante a guerra. Ainda de acordo com a revista inglesa, as inteligências dos Estados Unidos e do Reino Unido dizem que a taxa de produção da Rússia é altamente limitada.
Munições produzidas há décadas. Acusando a Rússia de recorrer à Coreia do Norte em busca de mais munições, os EUA também já afirmaram que os russos estão usando cartuchos antigos, alguns produzidos há mais de 40 anos e com altas taxas de falhas, conforme publicado pela Reuters.
Estimativas em queda. Em janeiro deste ano, a CNN citou autoridades dos EUA dizendo que a cadência média de tiros dos russos caiu de 20 mil por dia para 5 mil. Já a Ucrânia estimava na mesma época que a taxa havia caído de 60 mil para 20 mil por dia.
Quando o estoque acabar, a única fonte serão novas entregas. De acordo com a Forbes, estimativas ucranianas apontam que a Rússia tem capacidade para produzir apenas cerca de 20 mil munições por mês — menos de 700 munições por dia.
O que a Coreia do Norte pode oferecer à Rússia?
Joseph Dempsey, pesquisador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, afirma que Moscou tem interesse em projéteis de artilharia que possam ser facilmente integrados.
“A Coreia do Norte provavelmente tem as maiores reservas de projéteis de artilharia e de artilharia herdada da era soviética, que poderiam ser usadas para reabastecer os estoques russos esgotados no conflito da Ucrânia”, segundo Dempsey à AFP.
Pyongyang conseguiu fornecer munições à Rússia porque “se prepara para a guerra há 70 anos”, diz Cho Han-bum, principal pesquisador do Instituto Coreano para a Unificação Nacional.
O que a Coreia do Norte quer em troca?
Segundo analistas, a Rússia tem tudo o que a empobrecida Coreia do Norte precisa. “A Rússia é um país exportador de alimentos, um país exportador de fertilizantes, um país exportador de energia”, explica Cho.
A Coreia do Norte também poderia procurar transferir “tecnologias-chave, conhecimento e capacidade de produção para promover a indústria de armas da Coreia do Norte e torná-la mais sustentável”, acrescenta Dempsey.
Um relatório da ONU de 2022 destaca o papel que um diplomata norte-coreano teve em Moscou na aquisição de tecnologias de mísseis balísticos e na tentativa de obter cerca de 3.000 quilos de aço para o programa de submarinos de Pyongyang.
Inimigos em alerta
Estados Unidos, Reino Unido, Coreia do Sul e Japão afirmaram na semana passada, nas Nações Unidas, que qualquer acordo para aumentar a cooperação entre Rússia e Coreia do Norte violaria as resoluções do Conselho de Segurança, que proíbem acordos de armas com Pyongyang – resoluções que foram endossadas por Moscou.
Para evitar acusações de violação das resoluções, é provável que os dois aliados “cheguem a um acordo a portas fechadas, sem qualquer anúncio oficial”, diz à AFP Cheong Seong-chang, diretor de estudos norte-coreanos do Instituto Sejong.
“Espera-se que Kim e Putin simplesmente digam que concordaram em cooperar em uma ampla gama de áreas, sem especificar quais são”, acrescenta.
Fonte: AFP.