O Sudão está à beira de uma guerra civil, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) neste domingo (9), um dia depois de dezenas de pessoas terem sido mortas em um ataque da força aérea a uma área residencial de Cartum.
Em um vídeo divulgado pelo Ministério da Saúde do Estado de Cartum, corpos aparecem no chão, alguns com membros mutilados, sob lençóis jogados às pressas para cobri-los. Várias das vítimas são mulheres.
O bombardeio ocorreu no sábado (8), no bairro de Dar Al Salam em Omdurman, um subúrbio a noroeste de Cartum. Segundo o Ministério da Saúde, o ataque deixou 22 mortos e um grande número de feridos entre os civis.
As Forças de Apoio Rápido (FAR), em guerra com o exército desde 15 de abril, denunciaram “a trágica perda de mais de 31 vidas e muitos feridos”.
Vários moradores contatados pela AFP confirmaram um ataque aéreo, mas as forças armadas emitiram um comunicado neste domingo garantindo que “a força aérea não lidou com nenhum alvo hostil em Omdurman” no sábado.
Em quase três meses de guerra entre os paramilitares das FAR, liderados pelo general Mohamed Hamdane Daglo, e as tropas regulares do general Abdel Fatah al Burhan, foram registradas quase 3.000 mortes, número provavelmente subestimado.
Quase três milhões de sudaneses foram forçados a fugir de suas casas, incluindo mais de 600.000 que fugiram para o exterior.
Farhan Haq, um dos porta-vozes do secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou “uma total falta de respeito pelo direito humanitário e pelos direitos humanos”, sobretudo em Darfur, região que já viveu um conflito nos anos 2000 e que é mais uma vez o epicentro dos combates.
Segundo a ONU, o Sudão está agora “à beira de uma guerra civil potencialmente desestabilizadora para toda a região”.
Várias testemunhas relataram outros ataques aéreos neste domingo perto do palácio presidencial no centro de Cartum, assim como confrontos com metralhadoras e fogo de artilharia no sul da cidade.
‘Dimensão étnica’ do conflito
Os combates começaram na capital, mas os ataques aéreos e saques se espalharam para Darfur, assim como Kordofan ao sul de Cartum, e para o Nilo Azul, que faz fronteira com a Etiópia ao sul.
O Sudão, no nordeste da África, faz fronteira com outros países empobrecidos com histórico de conflitos.
A ONU e várias organizações africanas alertaram para a “dimensão étnica” do conflito na região ocidental de Darfur, onde Estados Unidos, Noruega e Reino Unido culpam as FAR e as milícias aliadas por serem responsáveis pela maior parte da violência.
Para tentar encontrar uma saída para a crise, a ONU e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad), um órgão regional, vão organizar uma reunião na segunda-feira na Etiópia com os chefes de Estado ou de governo de quatro países que trabalham pela paz no Sudão (Etiópia, Quênia, Somália e Sudão do Sul).
O chefe do exército sudanês e o comandante das FAR foram convidados, mas nenhuma das partes confirmou a presença.
No entanto, várias figuras civis sudanesas estarão lá “para acelerar os esforços de paz”, disse Khalid Omer Yousif. Este ex-ministro foi deposto do governo em 2021, quando Daglo e Burhan colaboraram para realizar um golpe de Estado, antes de se tornarem inimigos.
Fonte: AFP.