No dia em que o mundo recorda os 80 anos da bomba atômica lançada pelos Estados Unidos em Hiroshima, no Japão, em 6 de agosto de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, tensões crescentes entre potências nucleares reacendem o temor de que um ataque como esse volte a acontecer. Em entrevista à RFI, especialistas analisam o ritmo acelerado de uma nova corrida armamentista nuclear.
O mês de julho de 2025 começou com o presidente americano Donald Trump ordenando o reposicionamento de dois submarinos nucleares, após declarações do vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, sugerindo a possibilidade de guerra.
O pesquisador Gabriel Merino, chefe do Departamento de Estudos de Eurásia na Universidade de La Plata, em Buenos Aires, lembra que desde a saída dos EUA do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, em 2019, o mundo vive uma nova corrida armamentista. Ele destaca que Washington planeja posicionar mísseis intermediários na Alemanha, enquanto a Rússia investe na produção em massa dos hipersônicos Loretchnik, que podem transportar ogivas nucleares e são quase impossíveis de ser interceptados pelos sistemas de defesa ocidentais.
O especialista avalia que o uso de armas nucleares estratégicas continua improvável por causa da dissuasão mútua, mas alerta para a possibilidade de armas táticas – de menor poder destrutivo -, o que mantém elevada a tensão global.
Proliferação de ogivas nucleares
Em 6 e 9 de agosto de 1945, os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, respectivamente, matando entre 129 mil e 246 mil pessoas. Foi a única vez na história em que armas nucleares foram usadas em combate, encerrando a Segunda Guerra Mundial e inaugurando a era nuclear.
Para Merino, esse aniversário deve servir de alerta: “Com as capacidades nucleares de hoje, um conflito teria consequências devastadoras para a humanidade. É essencial que a dissuasão prevaleça para que a história de 1945 jamais se repita.”
Em 1945, os EUA eram a única potência nuclear no mundo, lembra o historiador Matthew Pauly, da Universidade Estadual de Michigan. “O presidente Harry Truman justificou os ataques como forma de evitar uma invasão terrestre do Japão, que poderia causar ainda mais baixas entre soldados americanos e aliados”, lembra o professor, ressaltando que o contexto atual mudou. Atualmente, há um equilíbrio maior de forças com a Rússia, a China e outras nações ampliando seus arsenais, segundo Pauly.
Rússia e Estados Unidos respondem atualmente por cerca de 90% das 12 mil ogivas nucleares do mundo, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), que alertou, em junho, para uma nova “corrida armamentista nuclear”.
Na segunda-feira (4), a Rússia anunciou que pode voltar a instalar mísseis de curto e médio alcance, acusando os Estados Unidos de posicionarem armas semelhantes na Europa e na região da Ásia-Pacífico. Moscou declarou que está abandonando a moratória que mantinha por conta própria, alegando que “deixaram de existir as condições” para manter o compromisso.
Entretanto, o que está em jogo, atualmente, são os custos elevados de uma guerra tradicional, afirma Gabriel Merino. “Os custos incluem o risco de desaparecimento da humanidade como um todo”, conclui. A esperança dos estudiosos do assunto é que Hiroshima ainda sirva de alerta e que a dissuasão nuclear continue prevalecendo, para que a história de 1945 jamais se repita.
Fonte: RFI.