Quinto presidente americano com quem Vladimir Putin se reúne, Joe Biden talvez seja o mais descrente em relação ao presidente russo. Já pôs em dúvida que ele tenha alma e recentemente o xingou de assassino em uma entrevista.
É em clima de desgaste e tensão, agravado por ataques cibernéticos vinculados à Rússia e pela interferência nas duas últimas eleições americanas, que os dois se encaram, frente a frente, nesta quarta-feira, no Parc de La Grange, inserido numa bucólica villa do século XVIII, em Genebra.
Ambos concordam que as relações entre EUA e Rússia atravessam a pior fase em décadas. Biden chega à Suíça imbuído do respaldo que recebeu aliados europeus e da Otan. Pretende estabelecer linhas vermelhas e falar mais duro com o russo do que seu antecessor, conforme explicou numa coletiva durante esta primeira viagem internacional como presidente:
“Se ele (Putin) escolher não cooperar e agir como fez no passado em relação à segurança cibernética e outras ações, responderemos na mesma moeda”, advertiu. No mês passado, a empresa americana Colonial Pipeline foi forçada a interromper metade do abastecimento de combustível da Costa Leste americana após um ataque de um grupo de hackers, suspeitos de ligações com russos. Putin, como sempre, nega.
Há outras questões, espinhosas em sua maioria, que serão abordadas em duas sessões da cúpula. Sanções aplicadas ao governo russo e a expulsão de 10 diplomatas da missão nos EUA não deram resultado.
O presidente russo será novamente cobrado pela tentativa de envenenamento e a prisão de Alexei Navalny, principal opositor do Kremlin. E sinalizou que não está disposto a ceder: no início do mês, ele promulgou uma lei proibindo indivíduos classificados como extremistas de concorrer a cargos públicos. A medida foi reforçada, em seguida, por um tribunal de Moscou, que baniu organizações políticas ligadas a Navalny por considerá-las terroristas.
O apoio do Kremlin à repressão aos ativistas em Belarus, sob o comando do ditador Alexander Lukashenko, e a tensão na Ucrânia, após a anexação da Crimeia, azedam o clima entre Biden e Putin.
Ambos podem aprofundar áreas de cooperação e estabelecer uma agenda de estabilidade para os quatro anos. Nos primeiros dias do governo Biden, EUA e Rússia renovaram, até 2026, o tratado de controle de armas START. O programa nuclear do Irã e as mudanças climáticas também figuram numa base comum entre os dois países para consolidar um período que os especialistas definem como “paz fria”.
Biden não quis, sequer, arriscar-se a dividir uma refeição ou até mesmo uma coletiva com Putin, como fez seu antecessor num encontro com o presidente russo em Helsinque, deixando a clara impressão de que levou a pior no embate.
Trump preferiu ignorar as conclusões da inteligência americana, de que a Rússia interferiu nas eleições de 2016, e foi criticado por aceitar passivamente, e em público, as explicações de Putin.
O atual presidente americano quer marcar a diferença em relação a Trump. Enfrenta Putin com expectativas modestas de obter concessões no conturbado relacionamento, que se encontra no nível mais baixo desde o fim da Guerra Fria.
Fonte: G1.