“E ouvireis de guerras e de rumores de guerras;…” Mateus 24:6
31 de julho de 2019.
Há 65 anos, no dia 31 de julho de 1954, o Conselho de Ministros da URSS adotou uma resolução sobre o estabelecimento de um local de testes nucleares no arquipélago russo de Novaya Zemlya, no oceano Ártico.
Durante os anos de operação, quase todos os tipos de armas nucleares soviéticas foram testados nesta instalação particularmente secreta.
Território perfeito para testes
Em meados dos anos 50, os americanos estiveram realizando testes nucleares nos atóis de Bikini e Enewetak no Pacífico por vários anos e, na mesma época, a URSS necessitava urgentemente de um local de ensaios afastado de grandes aglomerados populacionais, onde as armas nucleares pudessem ser testadas, não só no ar e no subsolo, mas também no mar.
Verificou-se que Novaya Zemlya era o território perfeito para isso, no qual apenas habitavam cerca de 400 pessoas que foram rapidamente transferidas para a região de Arkhangelsk.
Em 1954, dez batalhões de construção desembarcaram em Novaya Zemlya. E embora a construção da Obra 700, com uma área de mais de 90 mil quilômetros quadrados, fosse dificultada por condições climáticas severas, os edifícios técnicos, alojamentos, laboratórios e o aeródromo para aviões de caça ficaram prontos em um ano.
No final de 1955, a primeira explosão nuclear subaquática na URSS foi realizada na baía de Chernaya (em Novaya Zemlya), onde a uma profundidade de 12 metros foi detonado um torpedo disparado de submarino com uma ogiva RDS-9 com três quilotons e meio de potência.
Os alvos eram vários destróieres, caça-minas e submarinos, e os testes forneceram aos especialistas informações completas sobre o impacto de explosões nucleares em todos os tipos de armamentos e equipamentos militares.
Foi em Novaya Zemlya que foi testada a bomba termonuclear AN602, a mais poderosa do mundo também conhecida como Tsar Bomba, com uma potência de 58 megatons – vários milhares de vezes mais que a da bomba que destruiu Hiroshima.
A superbomba foi lançada de um bombardeiro Tu-95 e sua explosão foi tão forte que a onda sísmica contornou o globo três vezes, a nuvem subiu quase 70 quilômetros e o clarão foi visível a mil quilômetros.
No total, foram realizados 132 testes nucleares em Novaya Zemlya – 87 atmosféricos, três subaquáticos e 42 subterrâneos, sendo o último experimento feito em 1990.
Onda de choque atômica
Outro grande local de testes nucleares, que abrangia uma área de 20.000 km², ficava em um lugar bastante populoso nas margens do rio Irtysh, no Cazaquistão, a 13 quilômetros do campo de testes de Semipalatinsk.
O campo de treino começou a funcionar aberto em 1949, junto a ele foi construída uma cidade para cientistas e militares. A potência da primeira explosão foi registrada como tendo 22 quilotons e, alguns anos depois, na zona foram testadas bombas muito mais potentes.
Em 1953, cientistas soviéticos desenvolveram uma bomba de hidrogênio, a RDS-6s, com capacidade de 400 quilotons.
Durante as décadas seguintes, cerca de 470 explosões nucleares ocorreram no sítio de ensaio de Semipalatinsk, que funcionou até 1991. A maioria delas era subterrânea: as cargas eram colocadas em túneis e minas. Na superfície e no ar foram detonadas 125 cargas.
As bombas nucleares também foram detonadas em outras partes da URSS. Em setembro de 1954, os militares testaram uma carga nuclear tática no local de testes de Totsk, na região de Orenburg.
Imediatamente após a detonação da bomba, com uma capacidade de 40 quilotons, na zona atingida foi realizado um exercício em que as tropas treinaram o rompimento das defesas do inimigo com uso de armas nucleares. Naquela época, a onda de choque era considerada o principal fator de impacto, mas os soldados e oficiais também sofreram os efeitos da radiação. Em 1990, os participantes dos exercícios de Totsk foram equiparados aos liquidatários do acidente de Chernobyl.Explosões no deserto
Os EUA não tinham rivais no mundo na dimensão dos testes nucleares. O maior local de testes estava localizado em Nevada, onde mais de 900 armas nucleares foram detonadas a apenas cem quilômetros de Las Vegas. O ambiente foi fortemente contaminado pela radiação.
Em 1951, uma pequena carga de um quiloton foi detonada na área. Depois disso, os residentes de Las Vegas e outras cidades próximas observaram regularmente “cogumelos atômicos” no horizonte.
Pessoas também estiveram envolvidas nos testes – muitas vezes milhares de soldados estavam apenas a poucos quilômetros do epicentro da explosão.
A explosão mais “suja” de uma bomba atômica em Nevada foi realizada para fins pacíficos em 1962, no âmbito de um programa para o uso de cargas nucleares na extração de minerais e na criação de depósitos de água e petróleo.
Uma carga com mais de 100 quilotons de potência foi colocada no subsolo a uma profundidade de 190 metros. Após a explosão, formou-se uma cratera com 100 metros de profundidade e um diâmetro de quase 400 metros. Duas enormes nuvens radioativas subiram a uma altura de vários quilômetros e passaram sobre os estados de Illinois, Nebraska, Iowa e Dakota do Sul.
Nos atóis de Bikini e Enewetak, no arquipélago das Ilhas Marshall no Pacífico, em março de 1954 os militares dos EUA detonaram uma bomba termonuclear como parte da operação Castle Bravo, que ultrapassou a potência de explosão planejada em duas vezes e meia, atingindo 15 megatons.
De acordo com estimativas dos especialistas, a libertação de radiação após esta explosão é comparável à catástrofe de Chernobyl. Vários atóis habitados a centenas de quilômetros de distância do epicentro foram expostos à contaminação por radiação.
No total, de 1946 a 1958, foram realizados cerca de 70 testes nucleares nas ilhas. Cerca de 850 habitantes do arquipélago morreram em resultado de doenças induzidas pela radiação.
Fonte: Sputnik