*Conteúdo sensível: violência extrema, suicídio
A greve armada paralisou Chocó, o estado mais pobre da Colômbia, por 72 horas. Milhares de famílias ficaram confinadas e as igrejas estão com atividades suspensas por causa do medo. A região vivenciou uma nova greve armada imposta pelo Exército de Libertação Nacional (ELN) de 18 a 21 de fevereiro. A ação busca reafirmar o controle de um dos maiores grupos guerrilheiros do país na região.
Durante esse tempo, os moradores foram ameaçados com violência se saíssem de suas casas, mesmo para comprar comida, frequentar a escola ou buscar atendimento médico. Essa greve ocorreu em meio a uma disputa territorial para controlar o tráfico de drogas na região. Como resultado, mais de 3.500 pessoas foram forçadas a fugir de suas casas, enquanto outras duas mil famílias ficaram confinadas.
A governadora de Chocó, Nubia Carolina Córdoba, pediu ao governo nacional que declare um estado de comoção interna, semelhante ao que foi feito na região do Catatumbo. Esta é a nona greve imposta pelo ELN nos últimos dois anos. O grupo guerrilheiro fortaleceu sua presença em Chocó desde 2016, após a desmobilização das FARC, como resultado da assinatura dos Acordos de Paz.
Crise humanitária que afeta as crianças
As crianças são as mais vulneráveis nesta crise. “Elas estão expostas ao recrutamento forçado e à mercê dos grupos armados. Além disso, aqueles que estão confinados não têm acesso a serviços básicos e saneamento, o que agrava ainda mais sua situação. A falta de ajuda humanitária prolonga seu sofrimento”, explicou Maira Seidel, coordenadora da organização Save the Children, em entrevista ao El Espectador, o jornal mais lido da Colômbia.
Cerca de duas mil crianças não puderam frequentar as aulas devido às restrições de mobilidade. Em 14 de fevereiro, a Ministra da Defesa, Ángela María Buitrago, relatou casos alarmantes de suicídios infantis na região, citando a pressão dos grupos armados para que se juntassem às suas fileiras. “O recrutamento forçado piorou em algumas áreas. Chocó é uma grande preocupação para nós; documentamos casos em que crianças preferiram tirar a própria vida a serem recrutadas”, explicou.
A greve e seu impacto nas igrejas
Embora a greve afete toda a comunidade, tem um impacto profundo nas igrejas. Emilio*, um pastor da região, descreve os desafios: “Dependemos do transporte fluvial. Quando há paralisações, ficamos imobilizados. Se tentarmos nos mover, podemos perder nossos barcos, receber multas de até dois milhões de pesos ou até perder nossa vida”.
Durante esses tempos de incerteza, Emilio enfatiza a importância da fé: “As lutas fortalecem nossa fé. Quando lemos sobre os profetas na Bíblia, vemos como sua fé cresceu em tempos difíceis. É isso que pedimos para nós agora”.
Embora o ELN tenha anunciado o fim do bloqueio armado, o medo permanece, pois a presença contínua de grupos armados impede a paz duradoura na região. Para Pablo*, outro pastor, essa greve foi apenas um vislumbre do que muitas comunidades em Chocó enfrentam diariamente.
“Os irmãos têm medo de vir à igreja porque não querem ser identificados por grupos ilegais. Temem represálias como sequestros ou o recrutamento forçado de si mesmos ou de seus familiares”, diz Pablo. As restrições de mobilidade e os toques de recolher impostos pelos grupos armados dificultam ainda mais o crescimento da igreja e o alcance comunitário.
A Portas Abertas trabalha em Chocó há vários anos para fortalecer a igreja em meio à perseguição. Mauricio*, um pastor com mais de 15 anos de experiência na região, explica: “A igreja é uma ameaça porque instila princípios e valores nos jovens, desafiando diretamente o controle dos grupos armados. Eles não nos veem como uma ameaça militar, mas como concorrência pelos jovens que querem recrutar”.
*Nomes alterados por segurança
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