A Turquia conquistou seus dois primeiros vilarejos curdos no nordeste da Síria, que é palco de uma ofensiva militar desde a última quarta-feira (9).
As vilas de Yabse e Tal Fander, alvos de bombardeios da Força Aérea turca, ficam a oeste de Tal Abyad, cidade síria na fronteira entre os dois países. Elas estão agora sob comando do Exército Nacional Sírio, milícia cooptada pela Turquia para ajudar na invasão.
O presidente Recep Tayyip Erdogan alega que o objetivo da ofensiva é combater as Unidades de Proteção Popular (YPG), milícia síria ligada ao movimento turco Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que é considerado “terrorista” por Ancara, pela União Europeia e pelos Estados Unidos.
Além disso, Erdogan pretende criar uma “zona de segurança” de 30 quilômetros de largura ao longo da fronteira e enviar refugiados sírios abrigados na Turquia para essa região. Com isso, o presidente pode alterar a composição demográfica dessa área da Síria, hoje majoritariamente curda.
Erdogan diz que a operação “Fonte de Paz” já matou mais de 100 “terroristas”. Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (Sohr, na sigla em inglês), cerca de 60 mil pessoas fugiram de suas casas por causa da ofensiva turca, principalmente na cidade fronteiriça de Ras al-Ayn.
Já o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) fala em “dezenas de milhares de civis em fuga das zonas de combate”.
De acordo com as Forças Democráticas da Síria (SDF), coalizão curda que foi fundamental para queda do Estado Islâmico (EI) no país árabe, a Turquia bombardeou inclusive uma prisão de integrantes do grupo terrorista. “É uma clara tentativa de favorecer sua fuga”, disseram.
O cárcere atingido seria o de Chirkin, em Qamishli. “É uma catástrofe que o mundo pode não ser capaz de administrar no futuro”, acrescentaram as SDF. Enquanto isso, milicianos do EI atacaram postos curdos perto da fronteira com a Turquia.
É um temor da comunidade internacional que a operação militar no nordeste da Síria abra caminho para um retorno do Estado Islâmico. A operação foi condenada de forma quase unânime no exterior, principalmente pela União Europeia, que recebeu um aviso de Erdogan.
“Se a UE nos acusar de ocupar a Síria e atrapalhar nossa operação, abriremos as portas a 3,6 milhões de refugiados e os mandaremos para lá”, declarou. A Turquia tem um acordo com o bloco para evitar que deslocados sírios cruzem o Mar Egeu em direção à Grécia.
EUA
A ofensiva turca teve início após a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar as tropas americanas da região, apesar de os curdos terem sido os principais aliados de Washington no combate ao EI na Síria.
Trump alegou que seu objetivo é tirar os EUA de “guerras ridículas”, mas ressaltou nesta quinta-feira (10) que acompanha a situação “de perto”. “Se não agir de acordo com as regras, a Turquia será atingida muito duramente com sanções”, ameaçou.
Fonte: ANSA.