O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou hoje que a guerra de seu país contra a Rússia só terminará com a reconquista da Crimeia, a península anexada unilateralmente por Moscou em março de 2014.
A declaração foi dada na segunda reunião internacional “Plataforma da Crimeia”, uma iniciativa do próprio Zelensky apresentada na ONU em setembro de 2020 durante a Assembleia Geral daquele ano.
O encontro virtual desta terça é ainda mais significativo porque ocorre na véspera do dia em que são completados seis meses da atual invasão russa na Ucrânia.
“É necessário que a Crimeia seja libertada para que se chegue verdadeiramente à vitória, para que o direito internacional seja restabelecido. Tudo começou na Crimeia e deve terminar na Crimeia. Caros cidadãos da Crimeia e na Crimeia: eu sei que vocês estão esperando voltar para a Ucrânia e nós faremos isso”, pontuou o mandatário.
Zelensky ainda afirmou que “as bandeiras azuis e amarelas voltarão para casa, onde têm o direito de existirem, em todas as vilas e cidades da Ucrânia temporariamente ocupadas”. “Não reconheceremos jamais nenhuma outra cor em nossa terra e em nossos céus. Estamos sempre prontos para defender a bandeira azul e amarela”.
Durante os discursos, a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que o bloco “nunca reconhecerá a anexação ilegal” feita pela Rússia em 2014.
“Trabalhamos incansavelmente com a Ucrânia para denunciar as violações dos direitos humanos, assegurar a justiça aos responsáveis e para apoiar as vítimas. A Crimeia não só foi usada como uma base militar, mas também como um teste para brutais anexações de parte do território ucraniano. A UE estará ao lado da Ucrânia pelo tempo que for preciso e nosso desejo em ver a Ucrânia como um membro da UE nunca foi tão forte”, pontuou Von der Leyen.
Atualmente, o país tem o status de “candidato” para entrar no bloco europeu como um membro oficial.
Quem também participou do evento virtual foi o premiê da Itália, Mario Draghi, que afirmou que seu país apoia “sem hesitação” a Plataforma da Crimeia e ressaltou que o governo “sempre condenou” a ocupação feita pelos russos há mais de oito anos.
“Estamos preocupados com a piora dos direitos humanos na península e pelas injustiças cometidas contra a comunidade tártara. A luta pela Crimeia é parte da luta para liberar a Ucrânia”, acrescentou.
Já o chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que Berlim continuará a apoiar Kiev com as sanções e também financeiramente.
“Continuaremos ainda a fornecer armas e colocamos em prática um novo pacote que, entre outros itens, dispõe de um outro moderno sistema de defesa aérea, lançadores de mísseis e toneladas de munições, dispositivos antidrones e veículos blindados de recuperação”, pontuou ainda.
Por conta da invasão russa, a Alemanha mudou sua política de décadas – desde o fim da Segunda Guerra Mundial – e aprovou o envio de armamentos e itens militares para áreas de conflito, além de aumentar os gastos do PIB com o setor.
Principal destino de ucranianos em fuga, a Polônia também participou do evento com o presidente Andrzej Duda, que voltou a defender que a “Crimeia é ucraniana e voltará a fazer parte da Ucrânia, como Roterdã é parte dos Países Baixos e Nice faz parte da França”.
“Há quem achava que a Crimeia estava se tornando russa, mas não se pode voltar aos ‘negócios de antes’ quando se fala de Rússia.
Depois dos crimes de Bucha e da destruição da Ucrânia, a Rússia não deve apenas voltar às fronteiras de 24 de fevereiro, mas deve reconhecer o direito da Ucrânia de voltar a ter as fronteiras internacionalmente reconhecidas”, pontuou.
Quem também participou foi o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg.
“O inverno se aproxima e será duro. Nós estamos em uma guerra de atrito onde a chave será a força de vontade e a logística.
Precisamos apoiar a Ucrânia porque uma Ucrânia forte e soberana é garantia para a segurança da Aliança Atlântica”, disse em seu discurso.
Referindo-se ao presidente russo, Vladimir Putin, Stoltenberg ainda afirmou que o mandatário “achou que poderia abater a Ucrânia e as suas forças armadas e dividir a comunidade internacional, mas ele errou: a Ucrânia está sofrendo há seis meses com a guerra, mas resiste a agressão, reconquista territórios e impõe graves custos à Rússia”.
Localizada no Mar Negro, a Crimeia foi tomada pelas tropas russas no início do conflito separatista que atingiu a Ucrânia entre o fim de 2013 e começo de 2014. Além da anexação unilateral da área, Moscou treinou e enviou dinheiro e armamentos para os grupos separatistas da região do Donbass, formados por Donetsk e Lugansk, e que agora são o atual foco do conflito.
Fonte: ANSA.